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Confrontos na Somália continuam, apesar de tentativa de reconciliação

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EFE

MOGADÍSCIO - O Governo de transição da Somália e os integrantes dos Tribunais Islâmicas entraram nesta quinta-feira novamente em confronto, em uma nova onda de violência que já causou dezenas de mortes em dois dias, apesar da vontade de alguns de buscar a reconciliação.

Os choques recomeçaram com um ataque na terça-feira à noite, mas as hostilidades atingiram proporções maiores rapidamente. Nesta quinta-feira, no segundo dia de choques, um dos grupos lançou foguetes contra o outro, que respondeu com o mesmo armamento. Os dois também trocaram tiros e granadas de morteiro, segundo fontes militares.

A Somália não possui uma autoridade central desde a queda do ditador Mohammed Siad Barre, em 1991, que teve como conseqüência uma luta pelo poder entre os 'senhores da guerra'. Nos últimos meses, os militantes islâmicos entraram no conflito.

Os Tribunais Islâmicos controlam a capital Mogadíscio e várias áreas do centro e do sul do país, enquanto o Governo de transição, eleito no Quênia em 2004, tem força principalmente na cidade de Baidoa, que fica 245 quilômetros a noroeste da capital.

O porta-voz dos Tribunais Islâmicos, o Sheik Mohamoud Sheik Ibrahim Suley, acusou as tropas da Etiópia de fomentar as hostilidades como meio de frustrar as intenções de um alto emissário da União Européia que busca a reconciliação na Somália.

O comissário europeu de Desenvolvimento e Ajuda Humanitária, Louis Michel, reuniu-se na quarta-feira com representantes das duas partes envolvidas nos confrontos.

Inicialmente, as partes decidiram retomar as negociações de paz que começaram em julho e que tiveram mais fracassos do que sucessos.

- As forças etíopes recomeçaram a luta quando a UE estava tentando persuadir as partes a retomar o diálogo político. A Etiópia está tentado evitar a paz na Somália, afirmou o porta-voz islâmico.

O principal aliado do Governo de transição é a Etiópia, que enviou à Somália milhares de soldados, segundo analistas regionais. Entretanto, o Governo etíope afirma que este número estaria na casa das centenas e que os soldados fazem apenas tarefas de assessoria.

Nos últimos meses, estas tropas etíopes passaram a atuar na Somália. A partir daí, os militantes islâmicos intensificaram suas ações e os líderes religiosos lançaram a 'guerra santa' para combater as 'forças invasoras'.

Os últimos confrontos deixaram dezenas de mortos, segundo testemunhas. As informações de cada grupo diferem em relação ao número de baixas.

- Nós não tivemos baixas. Os que morreram na luta já estão no paraíso, disse o porta-voz dos Tribunais Islâmicos.

Já Ukurey Isaak, moradora de Dinsor, que fica a cerca de 100 km de Baidoa, disse à Efe que contou pelo menos 40 corpos na linha de combate, 'a maioria gente inocente da população de Idale', cidade vizinha.

- Os tribunais Islâmicos mostraram em Dinsor quatro 'veículos técnicos' que disseram ter capturado das forças etíopes, acrescentou Ukurey, referindo-se aos tradicionais veículos que carregam uma metralhadora de alto calibre. No entanto, o vice-ministro da Defesa do Governo de transição, Salad Ali Jelle, afirmou que as tropas oficiais derrotaram a 'invasão islâmica'.

- Matamos 71 soldados e ferimos outros 250, disse Jelle. - Eles iniciaram os confrontos para frustrar a proposta de paz de Louis Michel, afirmou o vice-ministro.

Um dos principais líderes islâmicos, Hassan Dahir Aweys, afirmou que a Etiópia fomenta uma 'guerra total'. Segundo Aweys, é muito grande o risco de que o conflito se estenda a toda a região do Chifre da África, a mais problemática do continente.

- Isso será um desastre para a Etiópia, porque a guerra se transformará em um conflito religioso, disse Aweys