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Síntese da Conjuntura - Investimentos

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A Confederação Nacional do Comércio (CNC), em seu boletim “Síntese da Conjuntura”, elaborado pelo economista e ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas, faz as análises do atual cenário econômico. Veja abaixo o boletim de 30 de setembro: 

INVESTIMENTOS 

Quando alguém pergunta quando a economia brasileira sairá da crise atual, a resposta vem associada à impressionante queda dos investimentos (FBCF), como se pode ver no quadro abaixo:

Por trás desses números negativos está o clima de incertezas derivado da crise fiscal e da área política, que pode durar até o final de 2018 ou além. 

Principal motor da produção nacional, os investimentos (FBKF) registram uma trajetória frustrante, que bem reflete o quadro da atual recessão econômica. Em 2014, a taxa de investimentos caiu 4,2% e em 2015 caiu 13,9%, seguindo em queda de 10,2% em 2016 e de 5,1% no 2º trimestre de 2017. 

Considerando o Balanço de Pagamentos, no período 2013 a 2016 os investimentos brasileiros no exterior (IDE) tiveram um aumento acumulado de 50,1%, enquanto os investimentos estrangeiros no Brasil (IDP) registraram queda de 8,9%. Entretanto, em 2016 essa tendência foi invertida: o IDE caiu 42,2% e o IDP aumentou 5,7%. A mesma tendência foi registrada no 1º trimestre de 2017: IDE menor em 52,3% e IDP maior em 41,5%. 

Esse é o lado trágico da recessão refletido na baixa taxa de investimentos. Sem investimentos não há crescimento econômico. O Governo Temer enfrenta as maiores dificuldades para governar e não consegue o apoio do Congresso Nacional para as medidas necessárias à recuperação econômica. 

É uma lástima admitir que as medidas não são aprovadas pelos congressistas, são vendidas. É o preço elevado para a sociedade brasileira que o Presidente Temer tem que barganhar, para se manter no Governo.

ANTONIO DELFIM NETTO (Valor – 19/9/17))

“A generosa aposentadoria da alta burocracia federal é parte do núcleo duro do desarranjo fiscal. Ela vem reduzindo o papel do Estado como supridor de bens públicos: segurança, saúde, educação, infraestrutura, saneamento etc. O ajuste do setor público é feito cortando os serviços públicos, que devem atender à sociedade, para pagar o funcionalismo e sua aposentadoria. 

Entre 2014 e 2017, as despesas da União com salário, Previdência e assistência social cresceram, em termos reais, à taxa de 3% ao ano, enquanto o PIB encolhia 2,2% ao ano. Sua participação nas despesas gerais do Tesouro cresceram de 63% para nada menos do que 68%.

Há algum tempo, o desarranjo tem sido enfrentado pelo aumento da carga tributária, mas em 2014 passamos a financiar o déficit invertendo o superávit primário médio de 2,2% do PIB para um déficit primário da mesma ordem. A dívida bruta/PIB saltou para cerca de 76% em 2017, um aumento médio de 11% ao ano.”  

MEIO AMBIENTE (Alerta Científico Ambiental – 31/8/17) 

“A feroz campanha movida contra a decisão do Governo federal de extinguir a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca) está levando o aparato ambientalista-indigenista a empregar o seu arsenal político e propagandístico, baseado na desinformação e exploração do emocionalismo junto à opinião pública, na capacidade de mobilização dos seus representantes na tecnocracia governamental e em entidades politicamente relevantes e na influência sobre os setores do Judiciário propensos a abraçar acriticamente causas de grande apelo popular. 

A Renca, criada em 1984, é uma área de 47 mil quilômetros quadrados, situada entre o Amapá e o Pará, com o propósito original de bloquear a exploração mineral da área por empresas estrangeiras, reservando-a para a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM – atual Serviço Geológico do Brasil) ou a empresas a ela associadas. Com o Decreto 9.142/17, sancionado em 22 de agosto, a parte da área ainda não coberta por unidades de conservação e terras indígenas (que ocupam cerca de 70% dela) poderá ser aberta à exploração mineral por empresas privadas. Apesar da existência de garimpos clandestinos de ouro, a área nunca foi objeto de pesquisas geológicas aprofundadas, mas apresenta potencial para ferro, manganês, tântalo e outros elementos. Desde a semana passada, a campanha experimentou uma escalada, cujas repercussões levaram o Governo a suspender o decreto e emitir outro (9.147/17), com a justificativa de “melhor explicar o que é a Reserva Nacional de Cobre e seus Associados – Renca”.

 Na prática, a principal alteração foi explicitar que a liberação da exploração mineral na área não seria permitida nas unidades de conservação e terras indígenas existentes. Como especifica o artigo 3º: Nas áreas da extinta Renca onde haja sobreposição parcial com unidade de conservação da natureza ou com terras indígenas demarcadas fica proibido, exceto se previsto no plano de manejo, o deferimento de: Iautorização de pesquisa mineral; II – concessão de lavra; III – permissão de lavra garimpeira; IV – licenciamento; e V – qualquer outro tipo de direito de exploração minerária. 

Nada disso importa para o aparato intervencionista, que promoveu uma ruidosa manifestação na Câmara dos Deputados, em Brasília, na quartafeira 30 de agosto, mobilizando a fauna tradicional de tais eventos: representantes de ONGs, artistas, indígenas e parlamentares de partidos comprometidos com tais causas. A exMinistra do Meio Ambiente, Marina Silva, esteve presente, assim como representantes do WWF–Brasil, Greenpeace, Instituto Socioambiental (ISA), Avaaz e SOS Mata Atlântica.

 Na ocasião, a Avaaz entregou ao deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ), coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, uma petição online com mais de 700 mil assinaturas contra a extinção da Reserva da Renca (WWF, 30/8/2017).”

ATIVIDADES ECONÔMICAS

PIB e Investimentos 

O PIB nacional cresceu 0,2% no segundo trimestre, na comparação com os três primeiros meses do ano, segundo dados divulgados pelo IBGE. Na comparação com o mesmo período do ano passado, houve aumento de 0,3%. Foi a primeira alta registrada após 12 baixas seguidas, desde o primeiro trimestre de 2014, quando avançou 3,5%. Nos primeiros três meses do ano a alta do PIB se deu pelo desempenho da agropecuária, cuja produção se transformou em acúmulo de estoques, exportações e crescimento da demanda doméstica. O consumo das famílias voltou a crescer após longo período, especialmente no setor serviços.  

Indústria 

A produção da indústria cresceu 2,5% em julho ante julho de 2016 e 0,8% em relação a junho, segundo o IBGE. É o quarto resultado positivo seguido do setor, desde 2014, quando a taxa foi de 1,3%. No acumulado de 12 meses, houve uma retração de 1,1%. Na comparação anual (sem ajuste sazonal), foi o maior avanço para julho em 4 anos – desde 2013, quando o setor cresceu 3,4% frente a julho de 2012. Já frente a junho (com ajuste sazonal), o resultado foi o melhor para o mês, nos últimos 8 anos. Em 2016, a produção de celulose cresceu 8,1%, mas a de papel e embalagens caíram -0,2% e -0,6%, respectivamente.

Comércio 

A demanda por bens e serviços na economia brasileira vem dando sinais de melhora ao longo de 2017, principalmente nos últimos meses. O aumento de oferta de produtos agrícolas, tem contribuído para aumentar o poder de compra das famílias e reduzir a inflação. Sendo parte importante da cesta básica, a redução de custo dos alimentos tende a exercer impacto relevante no consumo.  

Agricultura 

O PIB Agropecuário acumulou avanço de 14,8% nos primeiros sete meses do ano, em relação ao mesmo período do ano anterior, e foi destaque entre os setores produtivos. Mas, como grande parte da colheita concentra-se no primeiro semestre, sua contribuição positiva para a economia deve reduzir até o final do ano. 

Mercado de Trabalho 

A economia brasileira abriu 35.457 vagas de trabalho com carteira assinada em agosto deste ano. Segundo a CAGED, em agosto foram registradas 1.254.951 contratações e 1.219.494 demissões de trabalhadores com carteira assinada. Foi o quinto mês consecutivo de criação de postos de trabalho com carteira assinada no País. Foi também a primeira vez, desde 2014, em que as contratações superaram as demissões. 

Sistema Financeiro 

O Governo solicitou ao BNDES a devolução de R$ 50 bilhões neste ano e R$ 130 bilhões em 2018, como parte dos R$ 500 bilhões injetados no Banco entre 2008 e 2014, com o objetivo de elevar a 4 oferta de crédito e evitar a retração da economia. A diretoria do BNDES se prepara para a devolução, de acordo com diferentes expectativas de crescimento, com o receio que faltem recursos para emprestar, caso a economia cresça mais que o previsto. O TCU já se manifestou, no primeiro acórdão sobre devoluções antecipadas pelo BNDES, que o Tesouro é obrigado a usar esse dinheiro exclusivamente para abater o saldo da dívida pública. 

Inflação

 Os economistas do mercado financeiro reduziram novamente a estimativa de inflação para 2017 e, pela primeira vez, estimaram o IPCA abaixo de 3% para este ano. As previsões foram coletadas pelo relatório de mercado Focus do Banco Central. De acordo com o levantamento do BC, a inflação deste ano deve ficar em torno de 2,97%. No relatório anterior, os economistas estimaram a inflação em 3,08%. Foi a quinta redução seguida do indicador de inflação. A nova previsão mantém a inflação abaixo da meta para o ano, que é de 4,5%, e, também, abaixo do piso de 3% do sistema brasileiro de metas, se for confirmado, ocorrerá pela primeira vez, desde 1999. 

Setor Público 

A arrecadação federal, que inclui impostos, contribuições federais e outras, como royalties pagos ao Governo por empresas que exploram petróleo no País, totalizou R$ 140,2 bilhões em agosto, segundo a Secretaria da Receita Federal. Na comparação com agosto do ano passado, houve um aumento real de 10,78%, de acordo com dados oficiais. O melhor resultado da arrecadação para meses de agosto desde 2015. Este também foi o maior aumento mensal registrado em 2017. O resultado geral da arrecadação foi ajustado pelas receitas do Governo com “royalties” do petróleo, que avançaram 18,68% em termos reais, em agosto, para R$ 1,97 bilhão.  

Setor Externo 

O saldo da balança comercial foi positivo em U$ 1,270 bilhão na quarta semana de setembro. As exportações somaram US$ 4,8 bilhões, superando as importações, que alcançaram US$ 3,5 bilhões. O crescimento das exportações foi explicado pelo aumento das vendas das três categorias de produtos: básicos (36,5%), manufaturados (18,1%) e semimanufaturados (13,9%). Em relação às importações, o aumento dos gastos foi com equipamentos eletroeletrônicos e produtos químicos, 35,2% e 31,3%, respectivamente. A balança comercial acumulou superávit de US$3,8bilhões no mês e de US$51,9 bilhões no ano.