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CNC: Síntese da Conjuntura - Tendência secular ao baixo crescimento

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Há uma evidência empírica, fundada em boa lógica da teoria econômica, no sentido de caracterizar os ciclos econômicos como um fenômeno natural, derivado inicialmente de um esgotamento do consumo, ou seja, um arrefecimento da propensão a consumir, como ocorre no ramo descendente do ciclo.

A lógica dessa conclusão se baseia no fato de que nestes últimos 15 anos a economia mundial atingiu os limites tecnológicos, ao mesmo tempo em que também os padrões de consumo atingiram seus limites. Esse seria o caso emblemático do Japão, onde todas as famílias desfrutam dos mais modernos equipamentos domésticos, como fogão elétrico ou a gás, geladeira, máquina de lavar, telefone celular e, até mesmo, carro e casa própria. Assim sendo, não há mais o que desejar em termos de utilidade e conforto, no contexto da tecnologia atual, como também desapareceu o efeito demonstração, que empurrava as classes de menor renda a imitar os padrões de vida das classes superiores. O mesmo estaria acontecendo no relacionamento entre os países emergentes e os desenvolvidos.

Na base de tudo isso, soma-se o fato do estancamento do crescimento demográfico na maioria dos países, com exceção da Índia e da África. Essa é, igualmente, a realidade do Brasil que, segundo o IBGE, tem hoje, um crescimento populacional anual de cerca de 0,86%. Isso significa que, para ter uma melhoria da renda per-capita basta uma expansão do PIB acima de 1%. A longo prazo e em termos de tendência, um crescimento anual de 2,0% bastaria para satisfazer os anseios de consumo da população, o mesmo que acontece nos países de economia avançada.

Isto posto, é possível afirmar que a economia mundial caminha com as exceções mencionadas, no sentido de uma tendência secular de baixo crescimento, basicamente em torno de 2% anuais.

 

CONTAS PÚBLICAS

O superávit primário não deixa de ser uma medida razoável, para orientar o Governo e o mercado sobre as condições das contas públicas. Mas não é o indicador mais claro e objetivo e não chega a substituir o déficit nominal, que é o que importa, pois vai afetar diretamente a dívida pública.

Nos sete primeiros meses de 2014, o déficit nominal chegou a R$123,6 bilhões, indicando quanto o Governo gasta mais do que arrecada. Em consequência, a dívida bruta do setor público alcançou R$2.983,1 bilhões, um acréscimo de R$235,1 bilhões sobre o saldo de 31/12/2013.

ATIVIDADES ECONÔMICAS

Como dizia um velho companheiro do Conselho Técnico da CNC, “a situação econômica continua deteriorando satisfatoriamente”.

O PIB nacional teve queda de 0,2% no 1º trimestre e de 0,6% no segundo, configurando o que os economistas chamam de recessão técnica. A previsão do mercado para 2014 é de crescimento de 0,48%. A da CNC baixou para 0,40%. Comparando o 2º trimestre com o mesmo período de 2013, o PIB nacional regrediu 0,9%, o menor índice mesmo comparado aos piores países europeus. A economia brasileira está estagnada. Os investimentos fixos (FBKF) caíram de 18,1% no 2º trim./13 para 16,5% no mesmo período deste ano. O ideal fica acima de 20%. Entretanto, pesquisa do Banco Central indica que a atividade econômica, após dois meses de queda, cresceu 1,5% em julho ante junho. Ressalte-se que se o PIB tivesse crescido 2% em 2014, já estaríamos com racionamento de água e energia. Esse poderá ser um novo drama, em 2015.

O número de famílias com dívidas em atraso passou de 2,7% em agosto/12 para 5,1% em agosto/14. Segundo pesquisa da CNC, o elevado índice de inadimplência (+0,6%) em agosto está levando ao adiamento das compras não essenciais. A agência Moody’s está em vias de rebaixar a classificação de risco do Brasil. Entre julho e agosto, os pedidos de falência subiram 5,7%.

Indústria

A produção industrial em 2014 cresceu 2,5% em janeiro e caiu nos meses seguintes: -0,1% em fevereiro, -0,6% em março, -0,5% em abril, -0,9% em maio e -1,4% em junho. No acumulado do ano, houve queda de 2,8%, a maior queda desde setembro/12. Em julho, houve alta de 0,7%, com aumento de 2,6% nas horas trabalhadas.

Segundo o IBGE, o faturamento real da indústria cresceu 1,2% em julho sobre julho/13. A Petrobras teve recorde de produção em agosto e chegou a 2,2 milhões de b/d. A produção da indústria automobilística cresceu 5,3% entre julho e agosto, mas recuou 18% no acumulado do ano. A venda de caminhões caiu 14,2% nos últimos oito meses. A produção industrial, entre junho e julho, cresceu em 11 das 14 regiões pesquisadas, mas a indústria de São Paulo recuou 1,2%. A produção de energia nas hidrelétricas teve queda de 13,8% em agosto, ante agosto/13.

Comércio

As vendas do comércio varejista restrito caíram 1,1% em julho sobre junho, o pior resultado desde 2000. A pior queda veio do grupo móveis e eletrodomésticos, que teve queda de 4,1%. Mas de janeiro a julho as vendas subiram 3,5%. No comércio ampliado, que inclui o setor automobilístico e materiais de construção, as vendas aumentaram 0,8%. Nos hiper e supermercados houve retração de 1,3% entre junho e julho.

Esses resultados levaram a CNC a reduzir a previsão para 2014, com avanço de apenas 3,7%.

Em São Paulo, as vendas do comércio varejista recuaram 9,2% em junho ante maio.

Agricultura

A produção de grãos, nesta safra, aumentou para 195,5 milhões de tons., 3,6% acima da safra anterior, com destaque para a soja, com 94,8 milhões de tons. (Conab). O novo Eldorado da soja é o Estado de Roraima, onde a produtividade chega a 50 sacas por hectare. A excelente produtividade agrícola está contribuindo para a baixa dos preços dos alimentos. Entretanto, diminuíram em 14% as vendas de máquinas agrícolas em agosto, em relação a agosto/13, ante o aumento de 1,4% em julho.

A seca continua castigando o Nordeste e o sudeste do País. Na Bahia, 140 municípios estão em situação de emergência e, no total do País, são 1.183 municípios. Felizmente, diminuiu a probabilidade de um maior impacto do El Niño, neste ano.

Caiu a produção de cana de açúcar, reduzindo em 2,1% as exportações de açúcar e álcool, no período de janeiro - agosto. A estiagem elevou em cerca de 81% os preços do café, neste ano e contribuiu para o aumento de seis vezes a importação do café torrado.

A produção de minério segue forte, apesar da substancial queda no preço (US$ 83,2/ton.).

 

Mercado de Trabalho

O saldo de vagas formais criadas em agosto (101,4 mil) foi 20,5% menor do que em agosto/13, indicando uma possível tendência de redução do mercado de trabalho. Entretanto, no setor Serviços foram criadas 71,3 mil vagas com carteira assinada. No período janeiro – agosto foram criados 751.456 empregos, queda de 31,6%. No setor industrial, o emprego caiu 0,7% entre junho e julho, com destaque para São Paulo, onde a queda foi de 5,1%. No ano, a queda chega a -2,6%.

Entre os setores, destacam-se calçados e carros (-7,9%) e petróleo e etanol (-7,0%). A Petrobras está realizando um plano de demissão voluntária para dispensa de 7.309 funcionários.

A indústria automobilística cortou 1,4 mil vagas, acumulando, até agosto, corte de 8,1 mil.

Setor Financeiro

Na medida em que aumenta o número das famílias que não conseguem pagar suas dívidas, as cadernetas de poupança perdem fôlego. Em agosto, o resultado líquido entre depósitos e retirada foi positivo em apenas R$ 518 milhões e, no ano, aumentou R$ 14,1 bilhões, o menor resultado desde 2011. O rendimento das cadernetas está perdendo para a inflação. Também nas captações de renda fixa houve significativa queda.

Em agosto, o Banco Central liberou R$ 40 bilhões em depósitos compulsórios, visando ativar a economia, mas os bancos não aprovaram a medida, alegando perda de remuneração.

 

Inflação

O ritmo da inflação continuou baixo, em agosto, principalmente, no atacado. O IPCA/IBGE subiu 0,25% a segunda menor alta do ano, e o IGPDI/FGV apenas 0,06%, praticamente zero. Em São Paulo, a primeira prévia de setembro acusou alta de 0,24% no IPC-FIP e de 0,26 na cesta básica. O IVC/DIEESE teve alta de 0,02%.

 Os preços internacionais das principais commodities estão em queda, tais como os do petróleo, minério de ferro e soja.

Em resumo, no período maio – agosto, praticamente não houve inflação.

Setor Público

O Governo acelerou seus gastos em agosto, elevando os desembolsos do PAC de R$ 3,45 bilhões para R$ 8,45 bilhões, com destaque para o Programa Minha Casa, Minha Vida (+R$ 2,62 bilhões) e DNIT – transportes (+R$ 1,5 bilhão). Entre janeiro e julho, o déficit do INSS ficou em R$ 28,1 bilhões, abaixo do resultado em 2013, porque o Governo continuou adiando gastos. No ano passado, o déficit foi de R$ 49,9 bilhões.

Segundo o TCU, cerca de 80% das usinas hidrelétricas em construção estão atrasadas. Em três anos e sete meses, a gestão Dilma Rousseff elevou a dívida bruta do Governo de 53,4% do PIB para 59%. O Governo publicou neste mês medida que autoriza o resgate antecipado de títulos públicos em poder dos bancos públicos, com a finalidade de lhes permitir o pagamento de dividendos (!?).

 

Setor Externo

No mês de agosto, agravou-se a situação das contas externas, com déficit de US$ 3,05 bilhões no fluxo cambial, comparado com US$ 1,8 bilhão em julho, sendo US$ 2,04 bilhões na balança comercial e US$ 1,01 bilhão na área financeira. Atenção: O Governo voltou a registrar uma “exportação” de plataforma da Petrobras, no valor de US$ 1,1 bilhão.

Na 1ª semana de setembro, as exportações somaram US$ 4,3 bilhões e as importações US$ 5,1 bilhão. Entre janeiro e agosto, o déficit comercial com os Estados Unidos passou a US$ 5,8 bilhões, sendo US$ 17,7 bilhões de exportações e US$ 23,6 bilhões de importações. O faturamento da Zona Franca de Manaus, que vinha caindo desde o final de 2013, cresceu 8,4% neste ano, até julho.

Na esfera internacional, a UNCTAD/ONU estima um crescimento global da atividade econômica entre 2,5% a 3%, em 2014, com expansão de 3,5% para a economia dos Estados Unidos. Mas, o mercado de trabalho americano, em agosto, teve forte recuo, com a criação de apenas 142 mil vagas. Com o corte de juros nos títulos do BCE, os papéis americanos ficaram relativamente mais atraentes.

Na Zona do euro, o setor industrial sofreu ligeira queda em agosto, puxado pela redução das atividades na França. As vendas de carros franceses caíram 3%. Há riscos de deflação, o que levou o BCE a reduzir as taxas de juros e lançar pacote de estímulos à economia. O cenário europeu continuou à sombra do conflito Ucrânia/Rússia; aumentando as sanções comerciais importadas à Rússia que, em compensação, reduzia as exportações de petróleo para a Polônia.

Na Ásia, diminuíram ligeiramente as atividades industriais da China, em agosto, com alta nas exportações e queda nas importações. A economia do Japão encolheu 7,1% ante abril e julho, após alta de 6% no 1º trimestre. A Lodir registrou expansão econômica de 5,7% no 2º trimestre, o melhor resultado em dois anos.