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CNC - Síntese da Conjuntura: O Brasil vai bem ou mal?

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A Confederação Nacional do Comércio (CNC), em seu boletim “Síntese da Conjuntura”, elaborado pelo economista e ex-ministro da Fazenda, Ernane Galvêas, faz as análises do atual cenário econômico. Veja abaixo o boletim quinzenal, publicado no dia 31 de agosto:

Evidentemente, a resposta a essa pergunta depende da pessoa perguntada e, certamente, vai ser diferente, caso se trate de um trabalhador assalariado, um individuo  que  subiu  na  classe  média, um funcionário público ou de um empresário ou uma grande empresa.

As pessoas de baixa renda estão vivendo, hoje, muito melhor do que há 10  ou  20  anos.  Todos  têm  em  casa fogão a gás, geladeira, máquina de lavar roupa, telefone celular. O que eles não têm é boa escola, bons hospitais e bons meios de transporte, problemas crônicos que datam de mais de um século.

A classe média e as elites não têm  os  mesmos  problemas, têm  carro próprio, colocam os filhos em colégio particular e, com planos de saúde, conseguem  melhor  atendimento médico-hospitalar. As elites, grandes empresários, profissionais liberais, funcionários públicos e políticos de um modo geral, vivem bem, confortavelmente, igual  ou  melhor  do que há uma ou duas décadas.

Assim sendo, do ponto de vista da qualidade de vida, todos estão melhores.  A  questão,  então,  se  volta para o País, em relação ao futuro. Aí, é inegável   que a qualidade do Governo piorou. O peso da carga tributária vem crescendo constantemente, a burocracia aumentou muito, a segurança pública deteriorou, o aparelhamento do Estado é uma  degradação  contrária  à meritocracia e um aliciente para fomentar a corrupção desbragada, que envergonha o País.

Do ponto de vista político, as classes de baixa renda, que nem sabem o que é PIB ou Balanço de Pagamentos, estão acomodadas aos benefícios do Bolsa Família, do Minha Casa, Minha Vida,  etc,  assim  como  ao  sistema  de quotas nas escolas e outros.

A classe média alta, os intelectuais  e  os  empresários  são  os mais preocupados. Embora seu padrão de vida seja igual ou melhor do que no passado   recente,   eles   temem   pelo futuro, pelo perigo que poderá advir da bolivarização do Governo, do “aparelhamento do  Estado”, da ocupação do poder por  uma  esquerda despreparada,  impregnada  pela ideologia anticapitalista da “república sindicalista”.

Do nosso ponto de vista, o Brasil vai mal, muito mal. É preciso mudar.

CONJUNTURA ECONÔMICA

O “modelo” econômico do Governo, baseado nos estímulos ao consumo e prioridade social, tem produzido alguns efeitos indesejáveis e merecidas críticas pertinentes.

“Tais estímulos produziram uma recuperação do crescimento em 2013: o PIB aumentou 2,5%, com uma inflação de 5,8%. Mas o déficit nominal do setor público cresceu para 3,3% e o déficit em  conta  corrente  atingiu inacreditáveis US$ 81 bilhões (3,6% do PIB), o que deteriorou ainda mais as expectativas do setor privado.

A falta de previsibilidade introduzida pelas intervenções pontuais destinadas a garantir o nível de emprego, fundamental para a consolidação  da  inclusão  social, reduziu lamentavelmente a disposição empresarial de ampliar os seus investimentos.  Com  um  setor  público que "despoupa" e um setor privado inibido, não é de estranhar que a taxa de poupança do Brasil tenha caído de 

17% para 12,7% do PIB entre o primeiro trimestre de 2011 e o primeiro de 2014 e que a taxa de investimentos tenha encolhido de 19,5% para 17,7% do PIB no mesmo período, reduzindo nossa taxa de crescimento.”

(Delfim Netto – Valor 26/8/14)

PROJEÇÃO DO PIB

Em  consonância  com  analistas do Mercado, a previsão da CNC para o PIB 2014 baixou para 0,4%, com tendência de queda, baseada nos indicadores abaixo:

Produção – PIB 0,4%

Indústria -2,2%

Agricultura 1,0%

Serviços 1,3%

- Comércio 4,0%

Destino – PIB 0,4% 

Consumo das Famílias                  2,0% 

Consumo do Governo                   2,0% 

Formação Bruta de Capital Fixo  -6,0% 

Exportação                                    0,0% 

Importação (-)                               1,9%

ATIVIDADES ECONÔMICAS

O Brasil foi derrotado duas vezes na Copa do Mundo: perdeu no gramado e perdeu nas atividades econômicas.

O desempenho econômico no 2º trimestre  foi  desanimador, com  claros indícios de estagnação e, de algum modo, esse resultado está ligado à Copa do Mundo, face ao grande número de feriados no mês de junho.

No 2º trimestre, ante o mesmo período de 2013, continuaram positivos os resultados do comércio e serviços, da agropecuária e da indústria extrativa (minério de ferro). A indústria de transformação, porém, registrou uma queda de 2,5% e a de construção civil recuou 3,7%. O pior indicador é o que se refere aos investimentos fixos, com queda de 6,0%.

Com esses resultados, as previsões da CNC e da FGV indicam um crescimento de apenas 0,4% para o PIB de 2014, o pior resultado após a crise de 2009. Recessão à vista.

O  consumo  das  famílias continua positivo, mas reduz o ritmo de crescimento, que caiu de 2,2% no 1º trimestre, para 1,2% no segundo.

Entre julho e agosto, os índices de confiança caíram 7,3% no setor comércio e 3,1% em serviços. Entretanto, após nove meses de queda, pesquisa da CNC aponta melhora de 2% no índice Icec do comércio em agosto, ante julho. Mas a CNI indica queda de 1,1% no índice do consumidor (Inec). A FGV indica queda de 5,1% no índice de situação atual (ISA), de -4,3% no índice do consumidor (ICC) e de 1,1% no índice de expectativas.

O índice de endividamento das famílias, segundo a CNC (Peic), chegou a 63,6% em agosto, praticamente o mesmo de agosto/13, com 11,8% muito endividadas e de 6,5% das que não têm condições de pagar as dívidas.

Importante: Em julho, a população brasileira atingiu 202,7 milhões de pessoas, registrando uma taxa anual de crescimento de 0,86%. Isto significa que qualquer aumento do PIB acima de 1% vai representar melhoria da renda per capita.

Indústria

A   produção  industrial   recuou 1,5% no 2º trimestre ante o primeiro e caiu -3,4% em relação ao mesmo trimestre de 2013. A taxa de poupança caiu de 16,5% para 14,1% e arrastou a taxa  de  investimentos,  com  queda  de 18,1% para 16,5%. A construção civil teve queda de -2,9%. 

A produção da Petrobras, no 1º semestre, alcançou 1.947 mil b/d, sem considerar o gás natural, 7% menos do que o previsto. A produção da indústria química caiu 6,64% de janeiro a julho (Abiquim) e a indústria de cloro teve alta de 0,6% (Abiclor).

A indústria de máquinas e equipamentos teve queda de 20,3% no faturamento  real,  em  agosto, desempenho  inferior  ao  da  pior  crise dos últimos 20 anos. O consumo de energia em julho caiu 0,45% em relação a julho/13. Em São Paulo, a queda foi de 3,4%. Segundo o Secovi-SP, a venda de imóveis residencias em São Paulo, deverá registrar queda de 25% em 2014.

A produção da indústria automobilística subiu 17,0% em  julho sobre junho, mas continuou em queda de -17,4% no acumulado de janeiro a julho.

Segundo pesquisa do IEDI, apesar  dos programas de  incentivos e desonerações, mais da metade dos principais setores industriais ainda não conseguiu se livrar da crise mundial de 2008. Nesse período, a indústria têxtil registrou queda de -29,6%, a linha de informática e eletrônicos -25,1% e a indústria automobilística -24,3%.

A falta d’água continua preocupando toda a Região Sudeste e as bacias dos grandes rios estão pouco acima de 40% do volume médio.

Comércio

No 2º trimestre, as atividades do comércio tiveram queda de -2,4%, em relação ao  mesmo período de  2013 e registraram  o  pior  desempenho  desde 2009. O setor serviços, como um todo, regrediu 0,2%. Segundo o IBGE, o comércio recuou 2,2% no 2º trimestre, em relação ao primeiro, a maior perda desde 2008.

 Na contramão do conjunto, o setor atacadista registrou alta de 1,48% no período de janeiro/julho e, em julho, teve alta de 3,14% em relação a junho. A projeção de vendas para 2014 é de +1,9% (ABRAS).

No Rio de Janeiro, as vendas do comércio  cresceram  5,1%  no acumulado de sete meses (CDL-Rio). Em São Paulo, as vendas caíram 8,8% em junho sobre junho/13, -7,1% em relação a maio e -6,8% no acumulado do ano.

A CNC prevê aumento de 4% nas vendas do comércio, em 2014, o mais  baixo  nível  dos  últimos  onze anos. Há um princípio de pânico no comércio varejista.

Agricultura

As condições climáticas dos próximos meses devem favorecer a produção na safra 2014/15, com expectativa  de  fortes  chuvas  em outubro. A previsão da safra de soja é de 86,6 milhões de toneladas, 6% acima da safra anterior. Os preços altos estão estimulando os produtores de arroz a manterem  a  área  plantada. Entretanto, há regiões muito castigadas pelo clima, como é o caso da Bahia, que decretou estado de emergência em 140 municípios, devido à estiagem.

O Governo aumentou o limite individual do crédito agrícola em 10%, passando a R$ 1,1 milhão para custeio e R$  2,2  milhões  para  comercialização. Os médios produtores pagarão 5,5% de juros e 4,5% para compra de equipamentos.   O   Plano   de   Crédito Rural para a safra 2014/15 foi elevado para R$ 156,1 bilhões.

Segundo a FIESP, o pessimismo e o índice de confiança também caíram no setor rural. O IBGE estima um crescimento mínimo de 0,2% no 2º trimestre,  ante o trimestre anterior e 0% ante o mesmo período de 2013. 

Mercado de Trabalho

Não há números atualizados do IBGE para  a  taxa  de  desemprego em 2014. Em São Paulo, porém, o resultado do segundo   trimestre caiu para 5,0%, ante 6,5% no ano anterior. Em  julho, segundo o  CAGED, foram criadas 11,8 mil vagas com carteira assinada, o pior resultado desde 1999. A indústria demitiu mais do que contratou,  pelo  quarto  mês  seguido, com queda de 74 mil postos entre maio e julho. No acumulado até julho, foram gerados 632.224 postos, 30,3% menos do que em igual período de 2013.

Segundo o DIEESE, 93,2% dos reajustes negociados por 340 categorias no 1º semestre representaram aumentos acima da inflação.

O salário mínimo para 2015 foi fixado em R$ 788,06, um aumento de 8,8% sobre o nível atual.

Setor Financeiro

O total do crédito no sistema financeiro chegou a R$ 2.835,4 bilhões em julho (56,1% do PIB) representando alta de apenas 0,2% no mês, 4,4% no ano e 11,4% em 12 meses, sendo 5,0% no setor privado e 19,8% nos bancos públicos. No conjunto, registrou-se alta de  27,6%  para  o  setor  público  e  de 10,5% para o setor privado, com destaque para os setores imobiliário (+29,3%) e rural (+26,8%), para o comércio (+3,4%) e pessoas físicas (+5,3%).

Os meios de pagamento (M1) aumentaram apenas 2,3% até julho, com registro de 3,5% de queda nos depósitos bancários à vista.

O Banco Central adotou um conjunto de medidas para expandir o crédito, em volume estimado em R$ 25 bilhões, basicamente mediante redução dos depósitos compulsórios e menores exigências para o crédito consignado e o financiamento para consumo, com destaque para veículos.

O Governo criou um novo título para o mercado de capitais, a Letra Imobiliária Garantida (LIG), que será isenta de imposto de renda para investidores  estrangeiros  e  terá aplicação livre.

O índice de inadimplência das empresas teve aumento de 12,9% entre junho e julho (Serasa).

Inflação

A  inflação  no  atacado,  medida pelo  índice  IGP-M  da  FGV,  registrou deflação  pelo  quarto  mês  seguido:  caiu 0,13% em maio, 0,74% em junho, 0,61% em julho e 0,27% em agosto. Os maiores pesos negativos vieram dos setores agropecuário, com destaque para soja e milho,  e  da  mineração,  com  queda  de 5,6% para o minério de ferro. Os preços industriais, que tiveram queda de 0,53% em julho, subiram 0,27% em agosto. O Índice de Preços ao Produtor (IPP/IBGE) recuou 0,29% em julho, a quinta queda consecutiva.

A CNC prevê que a inflação no varejo (IPCA-IBGE) diminuirá de 7,3% em 2013 para 5,9% em 2014. A tendência de queda não significa que a inflação “esteja sob controle”, como afirma o Banco Central. A queda nos preços nada tem a ver com a política monetária.

Setor Público

O   Governo   continua   gastando mais do que arrecada, agravando sistematicamente   o   déficit   fiscal.   Em julho, o déficit fiscal ficou em R$ 4,7 bilhões e no acumulado de sete meses o Governo economizou (superávit primário) R$24,7   bilhões   para   pagar   R$148,3 bilhões  de  juros,  do  que  resultou  em déficit nominal de R$ 123,6 bilhões. Foi o pior resultado das contas públicas, desde 1997.

Em   sete   meses,   até   julho,   o Governo  arrecadou  R$  677,4  bilhões,  apenas 0,01% acima do mesmo período em 2013. Há forte denúncias de que o Governo está retendo o pagamento de subsídios; no 1º semestre, teria sido desembolsado apenas um terço do programado.

Após três anos de lutas, a EPE – Empresa  de  Pesquisa  Energética conseguiu superar as resistências da FUNAI e do Procurador Geral da República e obter a liberação da licença do IBAMA de atualização para a Hidrelétrica de São Manoel, no Rio Teles Pires, divisa de Mato Grosso e Pará. O início das obras continua dependendo de aprovação do STF. Até parece que o País não está precisando de energia elétrica.

A proposta de Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2015 traça um cenário otimista, com previsão de 3% para o crescimento do PIB, 5% de inflação e 2% de superávit primário nas contas públicas. Nada muito diferente das previsões do Governo para 2014.

PONTO POSITIVO: A Presidente Dilma vetou integralmente o Projeto de Lei do Congresso que abria caminho para a criação de mais 200 novos municípios.

Setor Externo

A balança comercial em agosto passou a positivo, com saldo de US$249 milhões. As exportações registraram US$ 20,5 bilhões (-11% ante julho) e importações de US$ 19,3 bilhões (-10% ante julho). No acumulado de oito meses, em  relação  ao  ano  passado,  as exportações caíram 2% e as importações - 4,1%.

No acumulado de janeiro a julho, as contas externas registraram um déficit comercial de US$ 0,9 bilhão, sensível melhora comparado com US$5,0 bilhões no mesmo período de 2013. Também o déficit em Contas Correntes se   reduziu de US$ 52,2 bilhões para US$ 49,3 bilhões, que foi financiado pelo ingresso de  capitais  no  montante  de  US$  63,4 bilhões,  inclusive  US$  35,2  bilhões  de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED).

As projeções do Banco Central para o Balanço de Pagamentos 2014 contemplam um saldo de US$ 5 bilhões na balança comercial, US$ 80,0 bilhões de déficit em Contas Correntes, incluindo o resultado negativo do pagamento de Serviços (US$ 47,6 bilhões) e a remessa de Rendas (US$39,9 bilhões), praticamente o mesmo resultado de 2013.

Até julho, a dívida externa bruta, inclusive intercompanhias, chegou a US$ 526,4 bilhões e as reservas cambiais alcançaram US$ 376,8 bilhões.

No cenário internacional,   teve forte  impacto  positivo  a  informação  de que o PIB dos Estados Unidos, em julho, registrou alta anual de 4,2%. As novas encomendas de bens duráveis cresceram 22,6%  em  julho,  ante  junho,  mas  as vendas de imóveis novos tiveram redução de  2,4%.  Há  expectativas  de  alta  dos juros, a partir de 2015.

A Europa, há mais de cinco anos em  crise,  configura  uma  “década perdida”, como o Japão dos anos 1990. A inflação de quase zero, sinaliza a recessão econômica. A Alemanha teve retração de 0,2% no 2º trimestre e a França atravessa uma difícil fase de instabilidade política, com crescimento zero e desemprego de 10%.    Todavia,    os    grandes    bancos europeus estão voltando ao mercado de capitais, onde a liquidez continua abundante, O problema mais sério vem do agravamento das relações Rússia/Ucrânia, que muitos admitem possa ser o estopim de uma nova Guerra Mundial.

Nada de novo em relação à China e ao Japão. Mas há sérios problemas em outros países: a Venezuela e a Argentina estão desorganizados politicamente e em recessão econômica. O Paquistão tem sérios problemas  internos, o  Iraque  e  a Síria   em   guerra   civil e Hong  Kong começa a ter problemas com a China. Isso sem falar no Oriente Médio.