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Zero Grau 17: diagnóstico da economia calçadista na crise, direto de Gramado

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Em tempos de crise, o setor calçadista está conseguindo manter as produções e, inclusive, crescer os números, graças às exportações. Esta foi a constatação divulgada no começo do mês passado que animou os compradores e expositores da Zero Grau – Feira de Calçados e Acessórios que ocorreu na última semana em Gramado (RS). Por lá, a coluna conversou com o presidente da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), Heitor Klein, que destacou a importância de um evento como este, que foi promovido pela Merkator Feiras e Eventos, de Frederico Pletsch, para a economia do país. “É fundamental, principalmente neste momento em que se vislumbra uma recuperação interessante do mercado doméstico. A demanda, embora não esteja nos moldes desejados em 2010/2011, pelo menos, representa um processo de recuperação sustentável. Isso, a partir do ano que vem, vai trazer um crescimento para o setor”, analisou o executivo.

Segundo Heitor Klein, a palavra crescimento ainda pode ser usada de forma equivocada. Ciente dos números que compõem o panorama, o presidente da associação prefere chamar a melhora do setor como recuperação. “Eu acho que este é o termo mais adequado porque, embora já tenhamos recuperado alguns empregos desde janeiro, nós ainda estamos cerca de 8% abaixo em relação ao ano passado em número de empregos. E, para mim, este é o índice mais adequado para que possamos medir o nível de crescimento do setor. Essa recuperação que é constatada a cada mês é o que nos anima e projeta para o próximo ano melhores frutos”, justificou Heitor.

E esse cenário animador e positivo do setor calçadista na economia brasileira está diretamente ligado à questão da importação. Concorrente direta dos produtos brasileiros, a China, que é a principal vendedora de calçados no Brasil, registrou um decréscimo de vendas para o setor nacional. Consultor da indústria calçadista, Luís Coelho disse que as mudanças chinesas já eram esperadas. “Como consultor, eu sempre achei que a China, em algum momento, ia começar a ter elevação de custo, problemas ambientas e outros fatores que poderiam interferir na produção deles. E isso está acontecendo e a mudança está começando a refletir no Brasil.

Por mais que para eles os números possam ser poucos, para nós já é um grande alento”, argumentou Luís que fez questão de ressaltar que não é a qualidade ou o profissionalismo do calçado brasileiro que coloca a produção nacional em desvantagem. “O Brasil tem uma tecnologia de produção que é bastante elevada comparando com os outros países da América Latina e do mundo. O nosso país não fica atrás em termos de indústria e logística. No entanto, os custos aqui nos põem em desvantagem. Fora que, até o final de 2015, nós tínhamos uma taxa cambial que não nos permitia exportar tanto. Mas esse ano essa questão nos favoreceu. Em contrapartida, a China, que é a nossa maior concorrente e exporta mais de dez vezes o que nós produzimos, teve uma queda de 5,75% em volume. Esse índice equivale a quase cinco anos de exportação do Brasil. Então, qualquer 1% da China que respingar para nós é como se fossem 100 milhões de pares”, completou.

No entanto, apesar dos números satisfatórios, o Brasil ainda não reconquistou a sua alta colocação no ranking dos países exportadores de calçados. Segundo o presidente da Abicalçados, Heitor Klein, o país possui hoje um considerável déficit em relação aos embargos estrangeiros. “Hoje, esse número é quase que a metade do que temos em potencial, embora a gente continue presente em cerca de 150 países pelo mundo. Eu acredito que no momento em que retomarmos os nossos níveis de competitividade habituais, a gente poderá voltar a ocupar aquele lugar no pódio entre os cinco países mais exportadores”, especulou o executivo que apontou que os Estados Unidos seguem como principais compradores dos produtos brasileiros seguido da Argentina e dos países da América Latina.

*A coluna viajou a convite da Merkator Feiras e Eventos