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Arrebatadora em “Justiça”, batemos um papo com Jéssica Ellen. Vem conferir!

Atriz fala de racismo a partir da trama de sua personagem Rose no elogiado seriado

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Agora é a vez dela. Jéssica Ellen foi a protagonista da história contada nessa quinta-feira (25/08) na nova minissérie da Globo, “Justiça” e virou trending topic nas redes sociais por conta da força de sua personagem, pela temática racial e, também, pelas ousadas cenas de sexo logo na abertura do episódio. A atriz vive Rose no conto apresentado às quintas-feiras na produção escrita por Manuela DiasComo explicamos depois do lançamento da minissérie, “Justiça” irá apresentar quatro diferentes histórias movidas por atos criminosos que, no fim, se encontrarão em um mesmo desfecho. “Na minha parte, vários personagens estão em um luau e todo mundo está consumindo drogas. Porém, só os negros da festa são revistados, e a Rose está entre eles. E isso é uma realidade que a gente vive no nosso país. Se olharmos para quem está preso hoje em dia, a maioria é negra, porque grande parte dos pobres brasileiros são negros. Eu acho que, para mudar essa realidade, só investindo muito em educação, projeto social e levando cultura para onde ainda não existe”, opinou.

Na emissora há quatro anos, a atriz contou que, uma hora ou outra, chegaria a sua vez de protagonizar uma produção nas telinhas. “Eu vejo nesse trabalho uma consequência normal que ocorre dentro de qualquer empresa, em que o funcionário vai crescendo aos poucos. Eu entrei na Globo em 2012 em “Malhação“, depois fiz “Geração Brasil“, “Totalmente Demais“, outros trabalhos fora e, agora, a Rose chegou da forma que todos os outros chegaram. Eu fiz vários testes, estudei os textos…”, relembrou. E, animada e com a repercussão de “Justiça”, Jéssica destacou que esse trabalho irá proporcionar uma experiência diferente a sua carreira. “Eu fiquei muito feliz com o resultado, óbvio, porque eu acho que é um trabalho que vai trazer uma densidade e uma maturidade que eu ainda não tinha experimentado”, completou.

Euforia à parte, a jovem atriz reconheceu que ainda não é “normal” ver negros como protagonistas em trabalhos artísticos. Inclusive na televisão, são poucas as produções que dão espaço à diversidade. “Eu acho que é algo que ainda temos que mudar. Nós ainda não temos negros sendo representados em números dentro da televisão brasileira. Isso é uma realidade. Mas eu acho que nós estamos começando a progredir, embora estejamos em passos lentos. O Brasil ainda é um país muito novo e foi um dos últimos a abolir a escravidão. Então, eu acho que isso ainda se reflete na arte porque nós não temos um olhar acostumado a ver um negro em um lugar bem-sucedido. Por isso, que estar nessa posição, para mim, é motivo de muita honra e felicidade”, declarou a atriz que torce para que esteja fazendo, realmente, história dentro da televisão brasileira. “Mas, o que eu quero mesmo, é que atrás de mim anda venham muitas outras”, completou.

Mas não é só o preconceito racial que é abordado na história protagonizada por Jéssica Ellen. Além do racismo, o estupro e o assédio são pautas no enredo escrito por Manuela Dias. E, para Jéssica, é essencial que essas questões sejam abordadas nas telinhas, que é um veículo que fala para as massas. “É fundamental a gente falar e abordar assuntos tão sérios em rede nacional e no horário nobre. Além da minha temática de preconceito, a personagem daLuisa (Arraes) também passa por uma situação de assédio e abuso sexual. A gente vive em uma sociedade muito machista que ainda vê a mulher como objeto. Mas nós precisamos quebrar isso. Eu faço parte de vários movimentos feministas, sou super engajada na causa e acho que é fundamental estarmos tratando desses temas dentro da televisão, que ainda é o veículo que mais comunica. A internet está em alta, mas tem gente que ainda não tem acesso à rede”, argumentou.

E, por falar em internet, Jéssica nos confessou que não era muito chegada às novas plataformas, mas, hoje, mantém uma relação de “amor e ódio” com a rede. “Quando eu comecei a trabalhar, minha empresária disse que eu tinha que ter todas as redes sociais. Só que eu não tinha muita paciência. Depois que eu aprendi a mexer, eu encaro como mais uma plataforma para divulgar o meu trabalho. Agora, eu acho bem legal. Só acho que nós precisamos aprender a lidar com as redes sociais e não as colocar em primeiro plano como o mais fundamental”, afirmou a atriz que confessou em seguida que ainda não entendeu para que serve o Snapchat.

Mas nem tudo são flores. Embora nunca tenha sofrido nenhum tipo de ataque virtual como os relatados e denunciados pelas atrizes Taís Araújo Cris Vianna, pela jornalista Maria Júlia Coutinho e, ainda mais recente, pela cantora Preta Gil, Jéssica Ellen contou que ao vivo já foi vítima de racismo, principalmente por causa das madeixas crespas e naturais. “Eu acho que todo negro já passou em algum nível. Eu lembro sempre da adolescência. Eu fui a última menina a ser pedida em namoro, era sempre a amiga legal que arrumava as festinhas e etc. Mas nunca fui a amiga para se estar do lado. O cabelo também era muito zoado. Teve uma época em que eu alisei o meu cabelo por chacota da escola. Mas eu acho que a geração que está vindo depois de mim não sofrerá tanto com isso porque nós já temos mais referências de como cuidar dos fios cacheados, cheios, para cima. Eu também odeio quando dizem que meu cabelo é ruim. Não é isso, ele não é ruim. Ele é cheio e crespo, e a gente tem que aprender a lidar com ele. Quem disse que todo mundo tem que ter cabelo liso? Quem inventou esse padrão e por que temos que o seguir? A gente tem que questionar isso e quebrar essas lendas”, questionou a atriz.

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