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Sobre Rede Globo, Carnaval e desrespeito ao telespectador brasileiro

O tratamento mercantil dado à maior festa popular do país subestima a inteligência do público

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Um slogan torto. Assim pode ser definida a frase 'Globo: a gente vê por aqui'. Pelo menos quando o assunto é Carnaval o famoso slogan da emissora mais poderosa do país poderia ser adaptado para 'Globo: a gente vê mais ou menos por aqui'. Em pauta, o desfile das escolas campeãs do Carnaval de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Dona dos direitos de transmissão, a Rede Globo, tradicionalmente, cede o sábado pós-desfiles oficiais para que uma concorrente faça o serviço de levar ao telespectador brasileiro a festa das grandes vencedoras do maior espetáculo visual criado pelo homem na face da Terra. Rede Manchete, Band, SBT: por anos os amantes dos desfiles que não puderam, por algum motivo (seja geográfico ou financeiro), curtir de pertinho a alegria das melhores escolas do ano pelo menos tiveram o privilégio de saborear a euforia alheia do conforto do seu sofá. Este ano, nem isso.

Sem qualquer justificativa plausível dirigida a seu telespectador, a Rede Globo não somente cortou a cessão dos direitos de transmissão a terceiros como também não incluiu o Desfile das Campeãs em sua programação. Inviável sequer debater motivos, já que a emissora, em momento algum, se posicionou publicamente sobre a escolha de ignorar a festa final do Grupo Especial, tanto em São Paulo como Rio. E, cá entre nós, temos a total certeza que a necessidade de levar ao ar programas do quilate qualitativo de um 'Zorra total' não seria uma desculpa admirável.

O que está em pauta aqui é o completo descaso com seu telespectador, privado desta grande festa diante de interesses sombrios. O que a Rede Globo não entende é a esquizofrenia entre o discurso de seu 'padrão de qualidade' o tratamento mercantil e desprezível dado a determinados momentos da expressão cultural. O que só demonstra o total despreparo da emissora diante da construção da memória coletiva. No fim das contas, o slogan correto, caro leitor, deveria ser: 'Globo: a gente vê por aqui (o que for do nosso interesse, não do seu)'. Um erro grosseiro e excludente que subestima a inteligência do telespectador brasileiro.

Por Pedro Willmersdorf

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