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Rosa Magalhães: a grande 'sinhá' da Sapucaí volta à cena com mais um título!

Após 12 anos de jejum, maior colecionadora de vitórias do Sambódromo retorna ao topo (com justiça)

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Se o homem simples do campo e sua vida dedicada a nossa terra renderam o terceiro campeonato da história da Unidos de Vila Isabel (já havia vencido em 1988 e 2006), uma jovem senhora, verdadeira 'sinhá' do feudo Sapucaí, colocou na estante seu sétimo troféu. Rosa Magalhães é a carnavalesca recordista de vitórias no Sambódromo (criado em 1984). Na Passarela foram seis consagrações: venceu também em 1994, 1995, 1999, 2000 e 2001, sempre pela Imperatriz Leopoldinense. Por lá, ganhou a fama do chamado 'desfile técnico', termo simplista que minimizou, durante vários carnavais, o trabalho genial de pesquisa de Rosa, sempre levando à Avenida enredos surpreendentes sobre trechos da História do Brasil que não aprendemos de forma tão profunda nas salas de aula. 

Com sua raiz fincada na Escola de Belas Artes da UFRJ, Rosa fez parte do quarteto fantástico (ao lado de Joãosinho Trinta, Lícia Lacerda e Maria Augusta) que iniciou sua trajetória no Salgueiro, em 1971, como assistentes dos mestres Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues. Seu primeiro título veio em 82, ao lado de Lícia, no Império Serrano, com o inesquecível 'Bumbum Praticumbum Prugurundum', quando as apresentações ainda ocorriam na Presidente Vargas com suas arquibancadas de madeira. Mas foi na Marquês de Sapucaí que Rosa se tornou rainha de verdade.

Foram 17 anos na Imperatriz Leopoldinense e 12 anos de jejum desde seu último campeonato. De lá para cá, muito foi dito sobre Rosa. Os mais ingênuos e apressados apontavam um suposto cansaço e desgaste da mestra. Mas, com sua genialidade habitual, antes de qualquer oficialização de perda de trono, Rosa decidiu respirar novos ares. Em 2010, fez um trabalho delicado e eficiente na União da Ilha, ao falar sobre Dom Quixote. Manteve a escola, recém-chegada ao Grupo Especial, na elite do samba. E, dali, partiu para a Unidos de Vila Isabel.

Lá, tirou leite de pedra com um enredo sobre cabelos, transformando um Carnaval repleto de suspeitas no melhor desfile do ano, auxiliado pelos problemas enfrentados pelo Salgueiro naquele ano (favoritíssima, a escola tijucana estourou o tempo de apresentação e foi punida severamente) e pelo enredo confuso de Paulo Barros na Unidos da Tijuca, sem saber se fascinava ou dava sustos na plateia. Era esperada, então, a vitória da Vila e o retorno de Rosa ao topo, 10 anos após cantar a cana-de-açúcar vitoriosa da Imperatriz. Mas, no frigir da apuração, venceu a Beija-Flor e o carisma de Roberto Carlos. Um resultado contestadíssimo que deixou a Vila na quarta posição.

No ano seguinte, a Vila cantou Angola com um samba incrível assinado por Arlindo Cruz e um time de craques. Na Avenida, uma performance arrepiante, com a delicadeza de Rosa explícita nas cores trazidas pela escola, fantasias leves e uma aclamação popular ainda mais forte que em 2011. "Título à vista!", pensaram os amantes do samba. No entanto, mais uma decepção: venceu o morno Carnaval da Unidos da Tijuca cantando Luiz Gonzaga, em um trabalho irreconhecível de Paulo Barros. Injustamente, Rosa, Arlindo, Angola e Vila Isabel amargaram uma terceira posição. No desfile do sábado pós-apuração, os gritos de 'É campeã!' quando a Vila cruzou a pista amenizaram a dor da injustiça.

Chega 2013. E, com o novo ano, um favoritismo forte cedido à Vila. Mas, experientes no quesito decepção, os componentes da escola, sabendo da força de seu samba, o melhor da safra e com a assinatura de Martinho da Vila (que também elaborou o enredo) e, novamente, de Arlindo Cruz, mantiveram o pé atrás. No barracão, Rosa ratificou sua histórica discrição e destreza diante da mídia, habilidade adquirida com o passar dos anos e a chegada de títulos às mãos da 'sinhá'. Na pista, a força da comunidade transformou a apresentação da Vila em um trator comandado por sambistas cantando a terra fértil e o homem simples que habita o Brasil. 

Alegorias inspiradas, com a assinatura do acabamento perfeito de Dona Rosa. Fantasias formavam um jogo de cores emocionante, transformando a Sapucaí em um tapete rural, decorado com plantações, vacas, insetos e alimentos. Viria, então, a colheita inesquecível, capaz de apagar dois anos de injustiça com a Vila e, principalmente, com Rosa Magalhães.

A grande 'sinhá' da Avenida, enfim, voltou a festejar mais um título, demonstrando a tudo e a todos que ali, na Passarela do Samba, quem manda é o Carnaval, o samba, o trabalho do carnavalesco que ainda valoriza a essência da alegria e da espontaneidade do componente de sua agremiação. Ela, (gene)Rosa como sempre, declarou em todas as entrevistas que concedeu: 'O samba da Vila foi o diferencial para o título'. Pode até ser, caro leitor. Mas nunca, jamais, em hipótese alguma duvide do poder de uma mestra como Rosa Magalhães. Sua paixão pela festa que ajudou a transformar nunca arrefecerá, assim como seu talento. E, para o alívio dos amantes da folia, é saudável perceber que, em meio à modernidade exaltada nos últimos anos na Avenida, ainda possa reinar a força do samba, do homem que planta e que dança com uma evolução livre. Que ainda possam reinar as ideias e ideais da carnavalesca que já fez tantos de nós 'colhermos felicidade no amanhecer', após desfiles antológicos como o deste ano. 

Por Pedro Willmersdorf

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