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Minas Trend Preview: entre mil rendas, semana de moda e o caminho do luxo

OJExxi, Patricia Motta, GIG, Vivaz, Ap3, Lucas Magalhães, Plural, Jardin, Dzenk by Alexandre Schnabl

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Dando sequência às semanas de moda que tomaram de assalto este mês de novembro, terminou sexta-feira o Minas Trend Preview, com seus tradicionais desfiles na capital mineira. Ao que tudo indica, a semana de moda de Belo Horizonte parece se consolidar como uma plataforma de lançamentos voltados para o público que consome roupa de festa e outros arroubos artesanais. Entre boas ideias - vistas nos estandes e nas passarelas - confirmaram-se a predileção por rendas, tricôs artesanais, muito brilho, maxi bijoux e pedrarias aplicadas. Aliás, desta vez o tema do evento era a Estrada Real, a histórica via criada há 300 anos pela Coroa Portuguesa para escoar o ouro e pedras preciosas garimpados em solo mineiro. Faz todo sentido.

O próximo inverno tem forte pegada barroca e mineiro que é mineiro gosta mesmo de viver bem. Entre um cafezinho, um pão de queijo e uma prosa gostosa, sempre sobra tempo para um bordado amigo, de preferência adornado por alguns quilates de pedras, paetês e canutilhos. Haja brilho! Nesta edição, as grifes desfilaram em locais bacanas de BH, longe do pavilhão do Expominas, onde foi realizada a feira. A preferência foi por cartões-postais da cidade, como o belo prédio art decô da Prefeitura e o galpão Cento e Quatro, um centro cultural bacaninha, bem decolado. E, entre um desfile e outro, rega-bofes animados com direito a champanhe no ponto, canapés transados e outras iguarias finas. Mas mineiro nunca faz por menos. Pode até comer quieto, mas não abre mão de fartura.

A semana começou com a apresentação da grife OJExxi, no Museu de Artes e Ofícios. A grife foi desenvolvida por alunos do curso de modelagem intuitiva do Senai Modatec, sob a supervisão de Gustavo Lins, o único estilista brasileiro que faz parte da Câmara de Alta-Costura da França. Radicado há 20 anos em Paris, Gustavo apresentou peças de alfaiataria levinha feitas com muito moulage e vestidas em marionetes de tamanho natural manipuladas pelo pessoal do grupo Giramundo. Pois é, se todo mundo diz que modelo de passarela tem de ser cabide, por que não assumir de vez os bonecos? Tudo a ver. Na trilha, música de orquestra misturada a maxixe e funk carioca. Acontecia assim o toque conceitual do evento.

No dia seguinte, o público conferiu o tríplice lançamento de Patrícia Motta, os tricôs arretados da GIG e a roupa de festa chique da Vivaz. Patricia abriu, apresentando o universo das corridas nas suas criações em materiais nobres como couro, píton, peles, seda pura e organza. Moda para mulher chique em cores neutras como preto, branco e off white, iluminadas por ouro, prata e azul violeta. Destaque para a lindinha Mariana Coldebella, da Joy Manegment, que deu start ao desfile e provou mais uma vez que, se houve top neste temporada de inverno, ela foi o grande destaque.

Em seguida, a GIG fez um tricô esperto. No sentido literal, é claro, pois a marca segue a tradição dos belos tricôs mineiros, com levada de moda contemporânea. Assim como outra mineira também presente no evento, a Coven, que costuma desfilar o Fashion Rio e, desta vez, preferiu expor sua coleção em estande. A inspiração da coleção - lava de vulcão e curvas da vida - parecia muito abstrata, mas, quando os looks começaram a surgir na boca de cena, tudo ficou óbvio. As peças estruturadas em cortes urbanos se mostraram impecáveis. E palmas para a boa sacada da estilista Gina Guerra, que desenvolveu as tais padronagens de lava de vulcão. O resultado? Aqueles belos desenhos orgânicos, geralmente usados em sofisticados papéis para encadernar livros, só que em tricô com fios de lurex. Lindo, lindo!

Já a Vivaz seguiu diretiinho a cartilha-tema do Minas Trend e optou por evocar os caminhos reais em sua coleção. Veio apinhada de pedras, rendas e aplicações que, aliás, sempre fizeram parte da história da grife, independente de tendência. A Estrada Real compareceu no luxo das pedrarias e bordados neo-barrocos usados à exaustão nos belos vestidos de festa. Muito Swarovski, muita renda, muita tule, muita transparência. Parece over? Bom, é roupa de festa para mulher refinada que quer causar, sabendo fazer uso do exagero sem ser over na atitude. Só mesmo para as iniciadas na arte de ser chique. Funcionaram os looks monocromáticos em nude, bege, vinho e verde celadon - aquele verde clarinho que os franceses amam! -, seguindo os passos das coleções apresentadas por Samuel Cirnanscki e R. Rosner na recente SPFW. Pelo visto, mulheres barrocas ou renascentistas vão pontificar nos salões na próxima temporada. Val Marchiori, helloooooo! Vê se aprende.

No dia seguinte, foi a vez de um quarteto de cordas exibir sua sinfonia fashion no evento. Explica-se: quatro grifes exibiram coleções na passarela montada no belo átrio art déco do prédio da Prefeitura. Aliás, que prédio, meu amoooooooor! E que piso, da época em que o uso do mármore não se resumia à bancada de banheiro! Great! A primeira a entrar em cena foi a Apartamento 03, grife que usou como inspiração a fashionérrima George Sand, a escritora namoradinha do compositor Chopin. Aquela mesma que ficou famosa se vestindo de homem. Bom, nem preciso dizer que androginia e dualidade foram abordagens da coleção, que usou e abusou do preto e branco, outra unanimidade da temporada. A top top chic Viviane Orth abriu e fechou o desfile.

O segundo a se apresentar neste dia foi Lucas Magalhães, que criou coleção baseada em ilustração de um LP do Pink Floyd, aquele que tem um prisma desenhado na capa. E, assim, o tal prisma, visto pelo próprio prisma do estilista, serviu de mote para o rapaz brincar com o claro-escuro, com o preto e branco das peças e, também, com estampas gráficas localizadas.

Depois, a Plural exibiu a melhor coleção da noite. Tudo muito bem resolvido, tanto nas formas propostas pela dupla de estilistas, Gláucia Fróes e Leticia Leão, como nos grafismos criados por Lucas Magalhães. A geometria e a linearidade urbanas, além de contrastes de luz e sombra, foram o ponto de partida para peças de alfaiataria em malha e volumes arquitetônicos, com pegada street e levada militar. Boa roupa mineira, urbana e bem feita.

Fechando o dia, a Jardin trouxe as estruturas das asas de insetos para sua passarela. Este tema tem sido recorrente em várias coleções nas últimas temporadas, mas sempre possibilita novos olhares. Dessa vez, as estruturas das asas inspiraram recortes e desenhos gráficos, além do jogo de opaco, metalizado e transparente que sintetiza as texturas irisadas dos insetos. Tudo acentuado pelos maxi acessórios em acrílico desenvolvidos pela Aramez, criativa grife de acessórios em acrílico. Os maxi braceletes e ombreiras em camadas de acrílico, evocando exoesqueletos de lepidópteros, eram mesmo ótimas peças de composição de styling, imprimindo aquela estranheza bacana que desfiles-conceito costumam ter.

E, para encerrar com chave de ouro o evento, o estilista Victor Dzenk recebeu o público no Café de la Musique para apresentar sua coleção baseada nos dancing days dos anos 70. Ao som de standards da era disco como Automatic Lover, de Dee D. Jackson, hits do Santa Esmeralda e Let's All Chant, de Charo, modelos evoluíram na pista dentro do repertório característico da marca, com caftãs esvoaçantes em palha de seda, muito brilho, paetês e a (boa) dose de estampas, como a que reproduz os mirror balls das boates. Nos cabelos, penteados que lembravam as disco divas Bianca Jagger e Marisa Berenson no finado Studio 54. Valeu!          

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