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SPFW #day 1: de corvos assassinos a cacetetes em riste

Osklen, Ronaldo Fraga, Têca, FH, Tufi Duek, Triton e Ellus: o que rolou, por Alexandre Schnabl

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O calendário de moda nacional foi alterado e, agora, as edições de inverno são apresentadas na virada de outubro para novembro. Melhor para as grifes que, desde então, podem planejar mais seus lançamentos e ajustá-los à realidade de compras. Neste primeiro dia de São Paulo Fashion Week, a Osklen mostrou sua coleção inverno 2013 para 50 convidados, na Galeria Zipper, que puderam conferir os looks em um desfile que evocou a trajetória da marca, de 22 anos.

Já nas tendas de desfiles armadas no Parque Villa-Lobos, Ronaldo Fraga emocionou, sem nenhuma cenografia, mas com a poesia de sempre. O mineiro pesquisou outro conterrâneo, o escritor Paulo Marques de Oliveira, natural da cidade de Salinas e que se autointitula astrofísico e teólogo. Coisas de Ronaldo. Vestidos soltinhos, bordados e mais bordados, estampas dos escritos do poeta, veludos cotelês largos e acessórios formados por maxi tranças de cabelos pontuaram este singelo ensaio estético. Conceitual, porém usável. Fofo!

Já a Têca, de Helô Rocha, preferiu reinventar a caça à raposa, esporte favorito de dez entre dez aristocratas britânicos de nariz empoado. Funcionou bem. Nada óbvio, sem trazer calças de montaria, casacos vermelhos de golas pretas ou xadrezes típicos de personagem de Agatha Christie. Não, nada disso. Ao invés disso, a estilista Helô Rocha investiu em modelagens retas, vestidos curtos, modelagens sixties, cortes quadrados, saias-lápis e calças retas, com muito preto, vinho, verde esmeralda, marrom e off white, cores que, afinal, fazem mesmo parte deste universo. Maxi acessórios impactantes imprimiam a releitura modernizada do tema, junto texturas matelassadas, estampas de lenço e luvas longas. E bonitas as pelerines desfiladas em um look aqui, outro acolá.

Marte ataca! Ou melhor, Fause ataca! Envergando um look paetizado em preto total, Fause Haten surgiu no palco, ops, passarela, pronto para a apresentação da sua FH. Show de rock? Claro que não, tolinho! O moço é performático e sua vibe é cantar ao vivo nos desfiles. Desta vez, ele flanou pela catwalk semi-escurecido e, quando as luzes acenderam, voilà: a novidade da vez era a cabeleira hyper ultra mega blondie que ele aderiu. Mas... E o desfile?!? Bom, as modelos evoluíram em dois blocos distintos, um preto-e-branco e outro, vermelho e rosa. Tinha muitoooooo paetê, muitaaaaaaa pedraria, muitaaaaaaa tule, muitaaaaaa transparência, recortes mil. Torsos ajustados e saias godê, além de maxi pedras aplicadas nos óculos.

Eduardo Pombal trouxe o classic movie Os Pássaros, de Alfred Hitchcock, para a coleção de inverno do Tufi Duek. Bom, não é a primeira vez que este cult movie serve de inspiração para estilistas. Talvez, por sua qualidade estética, o clássico de suspense seja mesmo uma boa massinha de modelar a instigar fashion designers. E, de fato, o rigor formal do figurino da protagonista interpretada por Tippi Hedren e de sua contraparte, a madura Jessica Tandy, estava lá na passarela. Formas secas, minimalistas, mas com referências sessentinhas se fizeram presentes em uma cartela de cores escuras como o filme, composta por vários pretos, bordô, vermelho e verde petróleo. Assimetrias e penas de pássaros aplicadas em peças eram a deixa para Pombal se referir aos corvos que conduzem a história. Os shapes secos dos corsets fetichistas e da boa alfaiataria - apresentada em blasers, mantôs, saias-lápis, calças e até uma bermuda seca - deram as caras em texturas como couro, malha de lã, lurex e paetês. Mas, no final, o todo desfilado acabou remetendo a outra pérola hollywoodiana, o sci-fi Blade Runner. Afinal, quem poderia negar que a bela Isabeli Fontana, responsável por abrir e fechar o desfile, não estava a cara da mocinha-replicante Sean Young?

Em seguida, a Triton apresentou looks que traziam inspiração na botânica. Para fazer o Barão Langsdorff e a adocicada Margaret Mee, tremerem na base. Sim, o release falava em rosas com espinhos, plantas carnívoras... Tudo bem. Viagens em semana de moda vale. Ainda mais quando a coleção apresentada é boa. E ninguém pode negar que Karen Fulke, a estilista que comanda atualmente as carrapetas da Triton, tem mão cheia. A cada coleção, a menina manda bala e a marca fica cada vez melhor. Desta vez, o tema da botânica serviu para emoldurar boas sobreposições, alfaiataria bacaninha, brilhos pontuais, formas amplas, comprimentos abaixo dos joelhos, calças baggy e recortes espertos. Com preto como base, duplas e trincas de cores causaram boa impressão: gelo e cinza, preto e cinza, famílias de verdes, trios de azuis, composês de vermelhos e rosados. Belo mesmo. Tudo em tecidos legais, como jacquards metalizados, moletons, lãs variadas e sarjas da hora. 

 A noite fechou em grande estilo. Ao som de Depeche Mode, a Ellus provou que fardas policiais e moda, juntas, podem ser um grande negócio. Com uma coleção poderosa e inspiradíssima, modelos desfilaram na penumbra, acompanhadas por canhão seguidor, como se estivessem no pátio de algum presídio da antiga KGB soviética. Looks fetichistas, soltos ou justíssimos, compareceram e deixaram a platéia de queixo caído. Couros, vinil molhado, emborrachados, maxi emblemas das corporações, quepes, óculos, luvas, coleiras de metal, botas sete oitavos de salto stiletto e calças dominatrix. Nada pendendo para o vulgar, tudo elegantérrimo. O dia valeu a pena!  

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