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'Gabriela': por que remake de clássico da dramaturgia não nos fascina?

Esmero estético e carisma de Juliana Paes não bastam para que trama de Walcyr Carrasco decole

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No dia 18 de junho, o remake de um dos maiores sucessos da nossa teledramaturgia, 'Gabriela', estreou no recente horário de novelas instituído pela Rede Globo, às 23h. A antecessora e primeiro investimento da emissora nessa faixa foi 'O Astro', outra refilmagem de um folhetim clássico da televisão brasileira.  

As expectativas em torno do remake de 'Gabriela' eram, naturalmente, gigantescas. No ano em que Jorge Amado, escritor do romance que baseia a novela, falecido em 2001, completaria 100 anos de vida, produzir a segunda versão da trama seria uma homenagem e tanto! Para aumentar a responsabilidade, a Rede Globo investiu na atriz Juliana Paes para viver o papel-título, interpretado divinamente por Sônia Braga na primeira versão, em 1975. Até estrear, 'Gabriela' gerou, tanto no público quanto na crítica, a impressão de que seria arrebatadora. Mas parou por aí. 

Quem assiste ao folhetim percebe o capricho da produção em todos os detalhes. Da fotografia ao figurino dos personagens, passando pelos lindos cenários, tudo funciona muito bem. O autor Walcyr Carrasco, experiente na arte de escrever sucessos como 'O Cravo e a Rosa' e 'Chocolate Com Pimenta', respeita o texto original de Jorge Amado e dá a sua cara aos diálogos da trama. Núcleos funcionam bem (o Bataclã é incrível!) e, é claro, não podemos deixar de falar da Gabriela versão 2012, interpretada por Juliana Paes. A atriz está em plena forma física e profissional, madura e correta, fazendo tudo como manda o figurino.

Então por que razão a novela não gerou todo o buzz esperado? Há hipóteses. Em relação a 'O Astro', 'Gabriela' é mais emblemática. Em outras palavras, a trama baiana representou, para a maioria dos brasileiros, um "avanço de pensamento coletivo" muito maior no contexto em que foi exibida. Durante a ditadura severa pela qual o país passou, as pessoas enxergavam na novela uma liberdade sexual e de comportamento rara. Onde chegamos? 

Em 2012, quase nada é censurado. Temos permissão para fazer muito mais do que há 37 anos. Os espectadores parecem valorizar menos essa liberdade ingênua de Gabriela. Prova disso foi a baixa audiência (17 pontos) do capítulo no qual a cena antológica da protagonista subindo no telhado para pegar uma pipa foi exibida. Nesses tempos, quem liga para ver uma calcinha aparecendo de relance enquanto há nudez banalizada o tempo todo na TV, jornais, revistas, internet, outdoors, etc? Coincidência ou não, o núcleo da novela que mais faz sucesso entre os telespectadores é o Bataclã, um bordel.

Outro fato a ser considerado é: 'Gabriela' está sendo exibida simultaneamente à 'Avenida Brasil', um fenômeno da teledramaturgia em todos os sentidos. Os fãs assíduos de novelas têm focado na trama escrita por João Emanuel Carneiro, que prende a atenção das pessoas ao desenrolar a história protagonizada por Carminha (Adriana Esteves) e Nina/Rita (Débora Falabella). Sendo assim, mesmo que os dois folhetins sejam exibidos em horários distintos, 'Avenida' gera uma tensão e uma torrente de comentários e especulações que, aparentemente, dispersa os telespectadores ao final de cada capítulo, dificultando a imersão em outro enredo. 

O que queremos aqui é entender por que a mágica da novela não se repetiu ou superou aquele encanto da primeira versão. Sabe-se que não há fórmulas para alcançar o sucesso, mas, diante de um contexto, é possível dissecar e compreender os motivos pelos quais ele não chegou com a força esperada, como no caso de 'Gabriela'. Ainda há tempo para estourar?

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