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Como explicar o fenômeno chamado Lana Del Rey?

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Em um festival londrino, pude realizar um sonho particular: curtir de perto, independente de qualquer pressão de amigos ou críticos ferozes, um show de Lana Del Rey, último ícone hipster a ser transformado em monstro no conto de fadas distorcido que a pós-modernidade criou para a música pop.

Sem querer, fui ratificando acusações e aveludando emoções, a cada música, a cada tropeço melódico e a cada redenção, em uma apresentação de pouco mais de 40 minutos, no Victoria Park, no domingo (17), no festival Lovebox.

Lana deveria ser proibida de cantar 'Blue Jeans' em público, definitivamente: abrindo seu show, poderia levar todos os jovens que ali estavam, com celulares em punho, a um desgosto profundo, a despeito de qualquer estética perfeita que ostente ou arranjo instrumental de primeira (talvez grande parte do meu fascínio por Lana seja herança dos músicos incríveis que a acompanham em seu álbum e também em sua apresentação ao vivo). Mas, ainda bem, existe vida após 'Blue Jeans'.

Existe 'Born to Die', 'Summertime sadness' (a favorita deste que aqui escreve) e existe, principalmente, 'Video Games', que resume, em essência, o encantamento que Lana desperta não só em mim, como nas jovens que choravam, à beira da grade em frente ao palco: Lana é um produto, uma realidade construída e legitimada pela música pop, espécie de cantora-símbolo dos bastidores do hipsterismo. Como se alguém saísse das sombras, viesse a público e dissesse: é assim que se constrói uma figura de sucesso na ciranda da Poplândia, com tal figurino, cantando tal tipo de música e por aí vai. 

Talvez a falta de vergonha na cara de Lana e de todos que a circundam seja a válvula do meu fascínio: 'Não sou autêntica, mas você também não é', me dizia a 'ruiva', a cada verso de 'Video Games', tentando apagar da minha memória qualquer referência a Lizzy Grant, sua persona fracassada na indústria da música, antes do surgimento de Del Rey.

E, ao falar às meninas chorosas 'Não, mocinhas, não chorem por mim', Lana parecia colocar a cereja no topo do bolo amargo e delicioso recheado com suas belas melodias e sua farsa bem produzida. Musa.

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Pedro Willmersdorf, de Londres