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Veja porque Tatá Werneck é muito mais do que a baixinha do 'Comédia MTV' 

Conheça a atriz que dá vida à Fernandona e Roxanne do humorístico da MTV, do Youtube...

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“Com licença. Boa tarde. Ótima tarde a todos.” Com licença, mas sabe aquela menina que, no colégio, só andava com os meninos, zoava em todas as aulas com os meninos e era expulsa, com certa frequência, junto com um grupo enorme de meninos? É a Tatá Werneck, uma moça no meio dos vários meninos (e da menina Dani Calabresa) que nos fazem dedicar as noites de terça-feira ao riso, no Comédia MTV

Do programa, saem os bordões repetidos nas ruas (e aqui, dentro dessa coluna) incansavelmente - como o que abre essa nota, coisa da personagem Roxanne, que é pura inspiração improvisada. “No Comédia, a maior parte das cenas é fruto do improviso. Os personagens mais legais do programa, nenhum saiu de um texto certinho, foi tudo improvisado”, explica Tatá, por telefone, em um mini intervalo nas gravações. “Numa dessas, saiu a Fernandona, a personagem que eu mais amo. Imagino toda a história da vida dela: uma menina que não nasceu do jeito que os pais gostariam, por isso eles a trancaram no porão. Aí ela criou uma realidade própria, onde ela tem uma auto-estima elevadíssima e tem a sua própria versão da realidade, faz suas próprias regras e sabe rir de si mesma”, conta Tatá, que, não precisa se irritar, também adora a Taty Pirigueti.

Aos 9 anos, Talita Werneck entrou no curso de teatro de Sura Berditchevsky e fez a sua primeira peça profissional aos 11. Se no colégio o interesse maior era em zoar e fazer os colegas rirem, a dedicação ao teatro era integral. Tanto que sua mãe, cansada de ver a moça 'perigando' todo ano para ser aprovada, decidiu encorajar Tatá a fazer uma faculdade de Teatro. “Sempre soube que era o que eu queria fazer, não sabia se ia dar certo, mas eu nunca ia desistir”, conta a atriz. Tanto não desistiu que passeava por diversos colégios do subúrbio carioca entregando panfletos do espetáculo Improvisáveis, que fazia ao lado de mais quatro amigos, e passou a ter três sessões lo-ta-das por dia, sempre com a presença de humoristas convidados, como Marcelo Adnet e Rodrigo Sant’anna.

E foi do amigo Paulinho Serra que veio o convite para fazer um teste para um programa de humor na MTV. “O Paulinho chamou cinco pessoas e, no fim das contas, ficamos eu, ele e o Rodrigo Capella. Me caguei toda no dia do teste, passei mal de nervoso, mas fui aprovada e fiquei muito feliz”, lembra. “Um ano antes disso, eu estava assistindo ao Quinta categoria, feito pelos Os Barbixas, com o meu, agora, ex-namorado. Aí eu ajoelhei no chão e pedi ‘meu Deus, eu quero muito fazer um programa assim’. E agora eu estou fazendo”, comemora a Tatá, nascida e criada na Barra da Tijuca, mas que em nada se parece com as patricinhas que dão fama ao bairro carioca. Quer um exemplo? Aos 15 anos nada de festança para usar vestidos com sete metros de tule na saia e pista de dança com luzes coloridas, foi melhor viajar para a Disney. As melhores festas de 15 anos eram as dos amigos. “Uma vez entrei de penetra em uma pela cozinha, fui expulsa pela cozinha mesmo, mas, antes de sair, peguei vários salgadinhos”, lembra Tatá, que já foi julgada diversas vezes por fazer ‘coisas de menino’, mas nunca ligou para isso. Talvez esteja aí a explicação de ser uma das poucas mulheres que trabalham com humor no mundo. “As mulheres são educadas a seguir um certo padrão de feminilidade e não podem fazer várias coisas que ‘só os meninos podem’. Mas quem foi que inventou essas regras? Sempre fui totalmente livre e, se não pudesse ir de peruca para o colégio, eu ia”, recorda. “Nunca vi problema nisso. Enquanto você está usufruindo da sua liberdade de rir de si mesmo, sem invadir o espaço dos outros, tudo é válido”.

Tatá não é daquelas que quer ser ótima sozinha, porque tudo com os amigos é melhor. “Se me chamam para algum evento, sempre pergunto se posso levar o Paulinho. E divido o cachê depois”, diz. Além de passear pelo país com a peça Dezimprovisa, Tatá tem o espetáculo Os inclusos e os sisos, feita pela companhia Escola de Gente, que prioriza a acessibilidade tanto nas cenas, que contam com intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais), braile, audiodescrição e estenotipia computadorizada (closed caption), quanto nos teatros escolhidos para as apresentações: todos têm de ser completamente acessíveis. “A peça é engraçadíssima e fala para as minorias – que somos todos nós. Se não fomos minoria, ainda seremos”, explica. A companhia já tem oito anos de vida e foi criada, mais uma vez, com um empurrãozinho da mãe de Tatá, a jornalista Claudia Werneck, que sempre se dedicou à causa dos direitos das pessoas com deficiência. “Até criar o grupo, eu não tinha ninguém com deficiência na minha família e as pessoas não entendiam o motivo de eu me interessar por isso se não me afetava diretamente. Sempre achei muito estranho dizer que todos estavam convidados para uma peça, se não estavam. Os surdos não podiam ouvir os diálogos e os cegos não viam as cenas”, ressalta a atriz, que agora mora em São Paulo.

O sucesso dos quadros do programa nos fez pensar se o grupo formado por Tatá e seus amigos/ companheiros de Comédia MTV e Dezimprovisa não são a nova geração do humor brasileiro, mas ela prefere amenizar o peso da expressão. “Acho que todas as gerações vão ter uma ‘geração do humor’, mas não sei se somos a dessa. Temos uma certa importância porque vivemos em uma época onde a liberdade é censurada, tudo o que você fala é taxado como descriminação e pode gerar processos. As pessoas não sabem rir de si mesmas”, analisa. “Não necessariamente é preconceito, mas é a minha linha de expressão. Ai! Desculpa, é que eu aqui passando rímel para gravar e acabei acertando o meu olho”. Tudo bem Tatá, acontece com as melhores mulheres que, assim como você, assistem a todos os quadros do Comédia MTV no Youtube (quando o programa vai ao ar, Tatá está gravando e precisa recorrer aos vídeos postados pelos fãs na internet para ver o resultado). Aliás, você já viu as pérolas da Roxanne na terça-feira passada? Não? Quem não te conhece que te cuide, hein...

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