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Para escritores independentes, festa literária não passa de um evento comercial

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Em sua 9ª edição, a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip 2011, parece ser o momento ideal para que os autores independentes divulguem seu trabalho. No entanto, parece que há algumas divergências. Ainda que o momento pareça propício, muitos desses autores cortam um dobrado para conseguir a atenção do público intelectual nas ruas.

É o caso de Giovani Baffo e Berimba de Jesus, dupla de poetas bem humorados que tentam vender seus exemplares na força do boca a boca. "As pessoas são muito pouco curiosas com os autores independentes", lamentou Giovani, enquanto abordava os transeuntes.

Para Roberto di Cássia, poeta mineiro que vem todos os anos de Campinas (SP) para divulgar seu trabalho durante o festival, a Flip é um momento importante porque reúne  muitas pessoas interessadas em literatura. Mas o escritor protesta que os autores independentes tenham tão pouca visibilidade.

"Eu mudaria o nome da Flip para 'festival de divulgação das grandes editoras e da literatura de elite do Brasil em Paraty'", disse. "Os autores independentes ficam aqui fora, mas, na verdade, também devíamos estar lá dentro".

Mesmo com as dificuldades, muitos ainda encontram alento no festival. Para Fernando Rocha e Marinalva Bezerra, casal de escritores paraibanos que divulga literatura de cordel há três anos na Flip, a receptividade do público é o melhor ingrediente da festa.

"Ainda falta um dia para terminar o evento, e já estamos muito perto de superar as nossas expectativas", comemorou Fernando. "Trouxemos 14 títulos nossos e agora só restam 6".

"A Flip é uma porta escancarada para divulgarmos nosso trabalho para o mundo", completou Marinalva. "Com essa oportunidade, a perspectiva de que a literatura continue forte é muito maior".

O escritor Paulo Cavalcante é um exemplo da resistência dos autores independentes ao pouco incentivo à cultura que perdura no país. Paraibano, Paulo junta suas economias todos os anos para custear sua viagem à Flip. Durante os quatro dias de evento, se veste de cangaceiro e fica cerca de 12 horas por dia em pé sobre dois tamancos gregos  para chamar atenção do público.

O esforço valeu a pena: hoje Paulo divulga a sexta edição do seu primeiro romance regionalista, O martírio dos viventes, que conta a história de uma família tentando sobreviver a uma seca de 21 meses que castigou o sertão nordestino em 1992 e 1993.

"Sou filho de camponês, já fui office-boy, garçom, porteiro, cozinheiro, tudo isso sempre estudando", contou. "Levei oito anos para terminar este livro e hoje já comecei a trabalhar em um novo".