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Flip: francês critica relato do holocausto feito por Spielberg

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Chato, estúpido, egocêntrico, rabugento, implicante. Esses foram alguns dos adjetivos que podiam ser ouvidos nas conversas ao final do evento com o escritor e cineasta francês Claude Lanzmann, nesta sexta-feira (8), na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), no Rio de Janeiro. Houve também quem criticasse o mediador, Márcio Seligmann-Silva, teórico e crítico literário, considerando-o despreparado para o evento, o que teria sido notado pelo experiente convidado francês.

As reações do público vieram depois de reclamações de Lanzmann durante sua participação na Flip. Ele falou longamente sobre seu filme Shoah, de 1985, que traz relatos de sobreviventes e agentes dos campos de extermínio nazistas, mas também reclamou das intervenções do mediador, considerando-as longas. E disse que queria falar de seu livro de memórias, A lebre da Patagônia. "Vou embora se você não falar do livro", chegou a dizer. Seligmann-Silva tentou encarar as reclamações com bom humor, mas o convidado permaneceu irritado até o encerramento.

As críticas de Lanzmann também atingiram o cineasta Steven Spielberg, por A Lista de Schindler. Para o francês, o diretor norte-americano "brinca" ao tentar representar a morte na câmara de gás de um campo de extermínio. "Representar uma pessoa que morre com seus pais, seus filhos, numa câmara de gás de Bikernau é uma coisa radicalmente impossível. Tentar seria a mais grave das transgressões. Schindler faz isso e usa um subterfúgio muito desonesto. Ele mostra mulheres que estão esperando o gás e não era gás (no filme). Na câmara de verdade, era gás. Não se pode brincar com isso. Ele brinca".

O cineasta disse que Shoah não é sobre a sobrevivência, mas sobre a "radicalidade da morte nas câmaras de gás em campos de extermínio". Ele relatou o difícil processo de convencimento para que as pessoas contassem suas histórias. "Eles não contam como sobreviveram, não falam sobre suas vidas". O filme tem mais de nove horas de duração.

Durante a produção do filme, Lanzmann contou com o apoio de Simone de Beauvoir, com quem teve uma relação amorosa. A carta que ela escreveu com suas opiniões sobre o longa está no livro de memórias, assim como o suicídio de sua irmã, que foi tema de uma pergunta feita por um integrante da plateia ao autor. "Eu achei que não me recuperaria nunca", respondeu. "Não esqueci nada e, ao mesmo tempo, a vida continua. A força da vida é isso. É preciso lutar".