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‘Sou um cara realizado’: goleiro Jefferson repassa carreira

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Três vezes campeão carioca pelo Botafogo, ídolo da torcida e respeitado até pelos adversários, o goleiro Jefferson, está de bem com a vida aos 35 anos. Vai pendurar as luvas no fim da temporada e se tornar empresário do ramo do café. Na última quinta-feira, antes do treino, ele relembrou os momentos mais marcantes de sua carreira durante quase uma hora de conversa na sala de imprensa do Estádio Nilton Santos. Jurou, mais uma vez, amor eterno ao Botafogo e explicou porque o casamento deu tão certo. Sempre com a tranquilidade e a firmeza que o  caracterizaram debaixo das traves.

Por que parar agora se você ainda tem condições de seguir em frente? 

Este dia chega para todos. Sou um cara realizado na profissão e me preparei para este momento. Não quero que me parem, quero parar por cima. Pesou muito a vontade da minha família, que  sempre se sacrificou por mim. Agora entenderam que chegou a hora de ficar  mais com ela. Foi um pedido da minha família.

Você é um pro?ssional, mas sua relação com o Botafogo vai além disso. O que explica este “casamento”? 

Sempre quis fazer história, e sabia que isso seria possível se eu fosse fiel a um clube. Tinha certeza de que se me dedicasse, me identificasse com um clube grande como o Botafogo, a recompensa financeira viria junto. Sou muito grato a tudo que o Botafogo me proporcionou

Você é ídolo, líder e está na reserva de Gatito Fernández. Como encara esta situação? 

Com naturalidade. Sou jogador do Botafogo e não há nada que obrigue a minha escalação. O Gatito está em grande fase e não há o que discutir. Temos uma relação de respeito.

Você disputou a Copa de 2014. Como explicar os 7 a 1? 

Aquilo não tem uma explicação, mas várias. Para mim, nós tínhamos tanta confiança que mesmo depois de a Alemanha fazer 2 a 0 continuamos achando que viraríamos o jogo. Era hora de parar o jogo, esfriar. Isso acontece a toda momento. Acho que só no intervalo é que percebemos que o sonho tinha acabado. 

Apesar do desastre, você continuou na seleção. Foi muito bem, mas, por um erro, foi barrado. Você acha que o Dunga foi justo com você? 

Sei lá. Ele preferiu o Alisson, que merece hoje ser titular da seleção. Ele não vai perder a vaga se vier a ter uma falha. Alisson conquistou este direito. Achava que seria assim comigo. Quando disse no “Bem Amigos” que entendia que merecia outra  chance, não estava cobrando nada. Estava me posicionando.

Existe preconceito contra goleiro negro no Brasil? 

Claro que existe, desde os tempos do Barbosa. Mas não estou dizendo que o Dunga preferiu o Alisson por eu seu negro. Entendo que foi escolha mesmo.

Como você o período em que você ?cou parado, devido a uma gravíssima contusão? 

No início foi normal, contusão faz parte da vida do jogador. Encarei na boa, até porque, o prazo para eu voltar em três, quatro meses. O problema foi que depois deste tempo, continuava sem força no braço. Decidi procurar um outro médico e ficou até um clima estranho no Botafogo.  Descobriram que o tendão tinha se rompido de novo. Aí bateu desespero. Foi um ano e um mês sem jogar.

Qual foi o maior momento de sua carreira? 

Tiveram vários, mas acho que a final do Carioca de 2010 foi o mais especial. O Botafogo tinha perdido três finais para o Flamengo, o torcedor estava machucado. Naquele jogo teve de tudo. Cavadinha do Loco Abreu, eu peguei um pênalti do Adriano quando estava 2 a 1 e fomos campeões em cima do Flamengo. 

Você era o goleiro da seleção e disputou a Série B com o Botafogo, em 2015, mesmo tendo proposta de outros clubes. Por que você ?cou? 

Quando cheguei ao Botafogo, em 2003, o clube estava na Segunda Divisão. Como já disse lá atrás, fiquei por uma questão de lealdade. O Botafogo sempre foi leal comigo e naquele momento sabia que seria importante. 

Qual foi a sua maior atuação nestes anos todos? 

Pensando assim, rápido, me lembro de duas pela seleção. Uma na vitória de 3 a 1 sobre a França, em Paris. E na minha estreia na seleção, contra o México. Vencemos de 2 a 1, com um homem a menos e defendi um pênalti que garantiu a vitória.

E a maior defesa? 

Esta não tenho dúvida. Foi num Botafogo x São Paulo, no Nilton Santos. O Luís Fabiano cabeceou na pequena área, para o chão, e consegui pegar sem rebote.  Nem sei como fiz aquela defesa.

Você foi assaltado e levaram seu carro perto do Nilton Santos. Vai continuar morando em Niterói depois que parar? 

Eu adoro o Rio. Moro aqui há quase dez anos e até virei cidadão carioca. Mas vou para São José do Rio Preto, terra da minha mulher. Quero uma vida tranquila e já tinha decidido isso antes do assalto.

E vai fazer o quê? Trabalhar com futebol? 

Futebol não, pelo menos neste início. Tenho um Café bem legal lá em São José o Rio Preto. Eu sou apaixonado por café, inclusive, vou lançar o Café Jefferson. Coisa boa, lá de Minas.