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J. Hawilla cobrou US$ 30 milhões da Nike em acordo negociado com Teixeira

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Os casos de pagamento propina envolvendo o empresário brasileiro J. Hawilla não param de vir à tona, desde que estourou o escândalo da Fifa, deflagrado pelo FBI semana passada. A denúncia desta sexta-feira (5), feita pelo jornal americano The Wall Street Journal, dá conta de que Hawilla cobrou US$ 30 milhões de propina no acordo negociado entre a Nike e Ricardo Teixeira, para que o logo da empresa esportiva pudesse estampar a camisa da seleção brasileira. Ao todo, o contrato, que chegou a ser investigado por uma comissão do Congresso Nacional, foi de US$ 200 milhões.

"Ficamos um pouco surpresos com a política do futebol e de como os negócios são feitos nesse mundo", disse Philip Knight, um dos fundadores da empresa, que está colaborando com as investigações. "De certa forma, é o mais político de todos os esportes".

De acordo com a reportagem do The Wall Street Journal, a Traffic, empresa de J. Hawilla, foi autorizada a cobrar US$ 40 milhões da Nike e recebeu cerca de US$ 30 milhões durante três anos, que teriam sido destinados ao pagamento de propinas. Desde que foi afastado do comando do futebol brasileiro, Ricardo Teixeira vive em Boca Ratón, nos Estados Unidos, mas decidiu colocar recentemente sua mansão à venda.

J. Hawilla grampeava dirigentes da Fifa desde 2013, em acordo com o FBI

Uma nova revelação causa reviravolta no caso da investigação sobre corrupção na Fifa. O empresáriobrasileiro J. Hawilla, dono da Traffic - empresa de marketing esportivo - envolvido no escândalo em que mergulhou a Fifa, usava grampos telefônicos desde 2013, após um acordo feito por ele para contribuir com a Justiça americana nas investigações. As informações são do jornal norte-americano Miami Herald.

De acordo com a reportagem, Hawilla gravou conversas com outros envolvidos em esquema de pagamento de propina e lavagem de dinheiro ligados a contratos de futebol, inclusive o então presidente da CBF, José Maria Marin, um dos presos quando a operação foi deflagrada no dia 27 de maio, na Suíça, durante congresso da Fifa no qual seria eleito no novo presidente da entidade.

Miami Herald afirma que a conversa obtida pelo FBI entre Hawilla e Marin aconteceu em abril do ano passado, em Miami. Na conversa, eles trataram da distribuição de propina - R$ 2 milhões anuais - relacionada aos direitos de transmissão da Copa do Brasil. De acordo com a reportagem, Marin sugere que Ricardo Teixeira - seu antecessor na CBF -  deveria parar de receber, e que o dinheiro passasse a ser encaminhado para ele e a Marco Polo Del Nero, atual presidente da CBF.

Em tradução livre, o diálogo em poder do FBI é o seguinte:

"Em determinado momento, quando [Hawilla] perguntou se era realmente necessário continuar pagando propinas para seu antecessor na presidência da CBF, Marin disse: 'Está na hora de vir na nossa direção. Verdade ou não?'

"[Hawilla] concordou dizendo: 'Claro, claro, claro. Esse dinheiro tinha de ser dado a você [ou vocês]. Marin concordou: "É isso."

Del Nero deixou a Suíça repentinamente, logo após a deflagração da operação do FBI com a prisão de sete dirigentes ligados à Fifa.

Hawilla devolveu US$ 151 milhões (R$ 473 milhões) em um acordo com a Justiça, em dezembro do ano passado, quando confessou a sua participação no esquema de extorsão, conspiração por fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça. Em 14 de maio deste ano foi considerado culpado por fraude bancária. 

Confira nota divulgada pela Justiça dos Estados Unidos, que cita o acordo:

"Em 12 de dezembro de 2014, o acusado José Hawilla, dono e fundador do Grupo Traffic, o conglomerado de marketing esportivo brasileiro, foi indiciado e declarado culpado por extorsão, conspiração por fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça. Hawilla concordou em devolver mais de US$ 151 milhões, sendo US$ 25 milhões destes pagos no momento de seu apelo.

Em 14 de maio de 2015, os acusados da Traffic Sports USA Inc. e Traffic Sports International Inc. foram considerados culpados por fraude bancária.

Todo o dinheiro devolvido pelos acusados estão sendo guardados na reserva para assegurar sua disponibilidade para satisfazer qualquer ordem de restituição em sentenças que beneficiem qualquer pessoa ou entidade qualificada como vítima dos crimes destes acusados sob a lei federal".

Ainda segundo o Miami Herald, em abril do ano passado Hawilla gravou até uma conversa com Aaron Davidson, presidente da Traffic USA, filial da sua própria empresa nos Estados Unidos. Davidson também foi indiciado. Além de Hawilla, outro réu confesso, o executivo do comitê executivo da Fifa Chuck Blazer, concordou em gravar conversas para o FBI sobre propina, de acordo com o New York Times.

PF indicia Ricardo Teixeira por quatro crimes 

A Polícia Federal (PF) indiciou o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira por lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e falsificação de documento público. Ele é suspeito de participar de um esquema internacional de pagamento de propinas que movimentou em suas contas R$ 464,56 milhões no período em que comandou a organização da Copa do Mundo do Brasil. As informações constam de relatório da Polícia Federal produzido em janeiro deste ano e obtido pela revista Época. Teixeira foi presidente do Comitê Organizador Local da Copa entre 2009 e 2012, quando renunciou.

O relatório também aponta que Teixeira mantinha contas no exterior e repatriou valores para adquirir um apartamento de R$ 720 mil no Rio de Janeiro. De acordo com a PF, Teixeira não teria como justificar os valores envolvidos na aquisição, e por isso trouxe dinheiro de fora do país.

Teixeira comandou a CBF por mais de duas décadas e decidiu deixar o poder após as denúncias de corrupção no Brasil e no exterior. Ele saiu do país às pressas em março de 2012, pressionado pelas investigações sobre suspeita de desvio de dinheiro público na realização do amistoso entre Brasil e Portugal, em Brasília. Teixeira redigiu sua carta de renúncia nos Estados Unidos e só voltou ao país no ano seguinte. Mesmo assim, o ex-cartola articulou a posse do sucessor José Maria Marin, preso na quarta-feira (27), e continuou recebendo salário da CBF de mais de R$ 100 mil mensais.

Vale destacar que de acordo com o regulamento do imposto de renda - decreto 3.000/99, em seu artigo 957, "Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas, calculadas sobre a totalidade ou diferença de imposto (Lei 9.430/66, art. 44). II - de 150%, nos casos de evidente intuito de fraude, definido nos arts 71,72 e 73 da Lei 4.502/64, independente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis."

Ainda de acordo com o artigo 22 Lei 7.492 de 86.

"Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão de divisas do País:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, promove, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitos não declarados à repartição federal competente."

A rápida ascensão de Hawilla

Além de dono da Traffic, J. Hawilla também é diretor-proprietário da TV Tem, rede de televisão com emissoras em quatro cidades do interior paulista: São José do Rio Preto, Bauru, Sorocaba e Itapetininga, afiliadas à Rede Globo.

Entre seus sócios nos negócios estariam o executivo Paulo Daudt Marinho, filho de José Roberto Marinho, e João Roberto Marinho, filho de Roberto Marinho e responsável pelo jornal O Globo.

O jornal americano Miami Herald  publicou um longo artigo em que conta em detalhes o crescimento da empresa Traffic Group de José Hawilla. "A sucursal em Miami de um conglomerado empresarial brasileiro dominava o lucrativo mercado dos meios do futebol em dois continentes, em grande medida porque, além disso, pagavam os subornos mais generosos aos principais diretores do esporte, segundo as autoridades federais.

O Traffic Group – fundado por José Hawilla, que se declarou culpado em segredo das acusações de corrupção no final do ano passado – está no centro de um escândalo de extorsão no valor de US$ 150 milhões que estremeceu o mundo do futebol profissional. Hawilla expandiu seu império do terreno fértil para o futebol que é o Brasil até Miami em 1992, e no decorrer dos anos o fez crescer até torná-lo o maior corredor de contratos para a televisão, anúncios e licenças em toda a América do Norte.

O acordo extra-oficial de Hawilla em que se declarou culpado veio à luz na quarta-feira quando as autoridades federais detiveram outros 14 acusados por uma variedade de acusações de suborno, lavagem de dinheiro e fraude. Hawilla admitiu que a Traffic Sports USA – com sede em Brickell Key – pagou milhões de dólares em subornos a altos diretores do futebol que dirigiam os escritórios regionais em Miami Beach da Confederação de Futebol da América do Norte, do Sul e do Caribe (Concacaf).

Embora a empresa ainda não fosse muito conhecida fora dos círculos do futebol, as autoridades federais afirmam que sua poderosa influência criminosa colocou sua mancha no popularíssimo esporte e na agência que a governa, a Federação Internacional de Futebol (Fédération Internationale de Football, Fifa).

Em um comunicado de imprensa, o diretor do FBI James Comey disse que “os acusados promoveram uma cultura de corrupção e cobiça que criou condições de jogo desiguais para o esporte mais popular do mundo. Pagamentos não divulgados e ilegais, subornos e propinas se tornaram o modo de operar da Fifa”.

Outros alvos da pesquisa do Departamento de Justiça incluem o presidente da Traffic Sports USA, Aaron Davidson, que foi detido nesta semana pelo FBI, e Enrique Sanz, ex vice-presidente da Traffic Sports que chegou a ser secretário-geral da Concacaf. Sanz tem leucemia e não foi citado no julgamento de 47 contas feito por um grande júri federal de Nova York no qual são acusados Davidson e outras 13 pessoas.

A Traffic Sports – que foi proprietária dos Strikers de Fort Lauderdale – é acusada de comprar direitos de publicidade e de imprensa junto à Concacaf e pagar subornos a seus diretores em troca de contratos de transmissão de competições como a Copa do Mundo. Dos 12 planos de suborno expostos no julgamento de 164 páginas aberto na quarta-feira, a Traffic Sports se envolveu em mais da metade, de acordo com a procuradoria.

A procuradoria disse que Hawilla e suas companhias de marketing esportivo tinham uma única meta: manter seus contratos com o futebol profissional na América do Sul e Estados Unidos, e manter afastada a concorrência por meio de pagar subornos a diretores de alto nível.

“O dano infligido pelos acusados e seus cúmplices foi extenso”, informou a acusação, assinalando que seus “planos tinham poderosos efeitos anti-concorrência”.

Segundo a acusação, a Traffic Sports, a empresa de Hawilla se expandiu rapidamente nos mercados do futebol dos Estados Unidos e América do Norte flexibilizando Jack Warner, o veterano presidente da Concacaf e vice-presidente da FIFA, e a Charles Blazer, o secretário geral da organização regional, através de subornos durante duas décadas.

Warner, oriundo de Trinidad e Tobago, se entregou na quarta-feira às autoridades de Trinidad e recebeu uma fiança de US$ 2,5 milhões. Ele espera ser extraditado para os Estados Unidos. Blazer se declarou culpado em segredo por extorsão e outras acusações de conspiração no final de 2013 e está cooperando com a procuradoria federal.

Em meados da década de 1990, depois de lançar sua sucursal em Miami, Hawilla mencionou aos dois homens a ideia de repetir o êxito da Copa América com um torneio similar na América do Norte chamado Copa Ouro que seria realizada nos Estados Unidos. A Traffic Sports conseguiu o acordo para comprar os direitos comerciais da Concacaf na Copa Ouro, a partir de 1996.

“Durante esse período, a Traffic produziu centenas de milhares de dólares em pagamentos de subornos” a Warner e Blazer através de bancos dos EUA, de acordo com a acusação formal.

Havilla persuadiu Warner, que também era presidente da União Caribenha de Futebol, a vender para a Traffic Sports os direitos comerciais na região das partidas eliminatórias para a Copa do Mundo, a partir de 2002. De acordo com a acusação formal, a Traffic Sports chegou ao acordo por meio de dois subornos de US$ 800.000 e US$ 900.000 às contas bancárias controladas por Warner em Trinidad e Tobago.

A situação de Warner no futebol mundial afundou em 2011, quando ele foi acusado de encabeçar uma tentativa de suborno aos delegados caribenhos com US$ 40.000 para cada um com o objetivo de apoiar o candidato presidencial da Fifa, Mohamed Bin Hamman, do Catar, que acabou perdendo.

No ano seguinte, a Concacaf mudou suas instalações centrais de Nova York para Miami Beach – mas não com Warner ou seu secretário-geral Blazer. Naquele momento, ambos tinham sido obrigados a sair devido a acusações de corrupção.

Foram substituídos por homens que prometeram melhorar as coisas. Jeffrey Webb se tornou presidente e vice-presidente da Fifa. Webb, das Ilhas Caiman, também foi acusado formalmente na quarta-feira. Sanz, o executivo da Traffic Sports, substituiu Blazer, ao obter sua nova posição através da influência de Hawilla.

“Ao assumir suas respectivas posições, [eles] fizeram pronunciamentos públicos sobre reformar a Concacaf”, disse a acusação. “No entanto, quase de imediato, depois de assumir o cargo, os dois homens resumiram sua participação em práticas fraudulentas”.

Fiscais disseram que Sanz aprendeu a usar os subornos de seus chefes na Traffic Sports ao longo da década passada. Eles se dirigiram a ele para um acordo com subornos de seis cifras dos funcionários na Costa Rica, Nicarágua e outras nações centro-americanas para futuras partidas de classificação para a Copa do Mundo.

Depois que se tornou secretário geral da Concacaf, Sanz solicitou um suborno de US$ 1,1 milhões de sua antiga companhia, a Traffic Sports, a enviar seu novo chefe, Webb, de acordo com a acusação formal. Sanz fez o pedido em 2012, durante negociações para os direitos de mercado e meios de comunicação da Concacaf para a Copa Ouro e a Champions League desse ano.

O fundador da Traffic, Hawila, e o presidente da companhia em Miami, Davidson, chegaram a um acordo sobre a demanda, disse a acusação. Em 2013, o pagamento do suborno foi enviado em uma transferência bancária para Webb através da conta bancária da Traffic em Miami via Nova York ao Panamá.

Durante as negociações de 2013 para os direitos comerciais da Concacaf para futuras Copas Ouro e jogos da Champions League, Webb dirigiu Sanz para que solicitasse mais subornos da Traffic Sports, de acordo com a acusação formal. Tanto Hawilla como Davidson chegaram a um acordo de US$ 2 milhões em subornos para ganhar os direitos comerciais desses próximos torneios de futebol.

Durante uma reunião em Nova York em março de 2014, Davidson discutiu os subornos com Hawilla, perguntando sobre sua legalidade.

“É ilegal? É ilegal”, lhe disse Davidson, de acordo com a acusação. “Dentro do grande quadro das coisas, é ruim uma companhia que trabalhou nesta indústria por 30 anos? É ruim”.