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Blatter renuncia à presidência da Fifa e convoca novas eleições

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Em meio ao escândalo de corrupção envolvendo a Fifa, Joseph Blatter anunciou nesta terça-feira que colocou seu cargo à disposição e vai convocar novas eleições para escolher seu sucessor. Blatter foi eleito na última sexta-feira para seu quinto mandato como presidente da Fifa.

"Eu apenas quero fazer o melhor pelo futebol e pela Fifa como instituição. Decidi me eleger por achar que era a melhor opção para o futebol, mas os desafios que a Fifa enfrenta não estão perto do fim. A Fifa precisa de profunda reestruturação. É por isso que vou convocar um congresso extraordinário e colocar minha função à disposição. Um novo presidente será eleito", disse Blatter em pronunciamento na sede da Fifa.

"Não temos controle sobre os membros das confederações, mas suas ações são de responsabilidade da Fifa, por isso precisamos de uma reestruturação, O tamanho do comitê executivo tem que ser revisto. Gostaria de agradecer todos que sempre me apoiaram em uma maneira leal e construtiva e que fizeram muito pelo futebol. Eu repito: o que mais vale para mim é a instituição Fifa e o futebol ao redor do mundo", discursou Blatter.

Ele disse que vai continuar no cargo até que o novo presidente seja escolhido. "Vou continuar a exercer minha função como presidente até um novo presidente ser escolhido. O próximo congresso demoraria muito. Esse procedimento será de acordo com os estatutos. E com tempo suficiente para encontrar os novos candidatos e que possam fazer suas candidaturas'' - disse Blatter.

Em declaração à imprensa em Zurique, o suíço disse que seu mandato não é apoiado por toda a comunidade do esporte, razão que motivou a sua decisão. ''Embora os membros da Fifa tenham me reelegido presidente, não pareço estar sendo apoiado pelo mundo do futebol".

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Após as declarações de Blatter, Domenico Scala, do comitê de auditoria da Fifa e presidente do comitê eleitoral, disse que a entidade precisa considerar o tempo apropriado para que os candidatos exponham suas visões. "Esse congresso será a qualquer momento entre dezembro deste ano e março de 2016'', explicou.

''A Fifa reconhece que há muitas questões de transparência sobre como a entidade opera'', afirmou Scala. ''Vamos propor limite de mandato para o presidente e para os membros do comitê executivo'', acrescentou. 

''Agora é hora de a Fifa seguir em frente e mudar a forma como as pessoas veem a Fifa'', concluiu.

A saída do presidente contrasta com a manifestação de força que Blatter exaltou após a eleição da última sexta-feira. À época, o mandatário afirmou que não tinha medo de ser preso e mostrou tranquilidade com as investigações feitas pela Justiça dos Estados Unidos.

Na última quarta-feira, o escândalo de corrupção foi deflagrado com a prisão de sete membros do alto escalão da Fifa na Suíça, inclusive José Maria Marin, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A Justiça americana ficou mais próxima de chegar a Blatter após a divulgação pelo New York Times na última segunda-feira de que o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, estaria envolvido em um pagamento de propina. Valcke é o braço direito do mandatário na entidade.

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Entenda a pressão sobre Blatter

A nova reeleição de Joseph Blatter aconteceu em um dos momentos mais cruciais da história do futebol. Desde 1998, quando assumiu a presidência da Fifa, o suíço nunca havia corrido tantos riscos de perder o cargo como agora. Isto porque a prisão de cinco executivos e sete dirigentes da entidade na última quarta-feira, em Zurique, ajudou a arranhar ainda mais a já desgastada imagem do mandatário de 79 anos.

A operação do FBI, feita em conjunto com a polícia suíça, expôs casos de corrupção, extorsão, escândalos de irregularidades em contratos de marketing e de direitos de televisão e pagamentos de propina no processo de escolha das sedes das Copa do Mundo de 2018 e de 2022. Blatter ainda não teve o seu nome envolvido nas denúncias, mas viu a pressão sobre si aumentar consideravelmente.

Tudo começou ainda antes de a investigação da Justiça americana ser revelada. Na semana retrasada, Luís Figo e Michael van Praag retiraram as suas candidaturas à presidência da Fifa . Os dois, opositores a Blatter, detonaram o processo eleitoral da entidade e optaram por desistir do pleito para não dividirem votos com Ali Bin Al-Hussein. “Este é um plebiscito de entrega do poder absoluto a um só homem”, atacou o português.

Depois, com as prisões de dirigentes da Fifa em pleno hotel Baur au Lac dois dias antes do pleito , Blatter passou a receber ainda mais pressão. Primeiro, Diego Armando Maradona o desafiou a conseguir a reeleição . Depois, a Uefa declarou apoio à oposição e pediu a saída do suíço . Por fim, o jornalista investigativo Andrew Jennings, que cedeu ao FBI os documentos cruciais para as detenções, revelou que o atual presidente da entidade era o próximo alvo.

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Sucessão de Blatter tem dois candidatos

O príncipe da Jordânia, Ali bin al-Hussein, e o ex-jogador francês David Ginola já se colocam como candidatos à presidência da Fifa. Hussein concorreu contra Blatter na semana passada, mas foi derrotado, em primeiro turno, por 133 votos a 73. Aceitou o resultado e não viu necessidade em disputar o segundo turno. 

Ginola também havia tentado disputar, mas não teve apoio mínimo de cinco federações, um dos pré-requisitos para participar do pleito. David Ginola, ex-jogador de Newcastle e Paris Saint-Germain, afirmou que tem interesse em concorrer novamente, e já apresentou uma bandeira: o questionamento sobre a realização das Copas de 2018, na Rússia, e 2022, no Catar, ambas sob suspeita de corrupção. 


Limpeza que está sendo feita na Fifa, com saída de corruptos, surpreende CBF

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) se surpreendeu com a limpeza que está sendo feita na Fifa, com a saída dos corruptos. Em nota de apenas uma linha no seu site, a CBF diz que a renúncia do presidente da Fifa, Joseph Blatter, foi uma "surpresa". 

"A CBF recebeu o anúncio da renúncia do presidente Joseph Blatter com surpresa", diz a nota. "É uma decisão de caráter pessoal e que merece a nossa profunda compreensão", acrescenta.