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Copa no Catar: Após denúncias de 'escravidão', saída do Brasil do Mundial é cogitada

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A divulgação de relatórios globalizados emitidos por entidades de Direitos Humanos, denunciando as condições subumanas de milhares de trabalhadores imigrantes que estão atuando em canteiros de obras no Catar, em função da Copa de 2022, já repercute no Brasil. Autoridades, especialistas e organizações esperam do governo brasileiro um posicionamento rígido quanto à grave questão internacional, deflagrada por um estudo da Trade Union Confederation (ITUC), que estima mais de quatro mil trabalhadores mortos em consequência das degradantes condições de serviço oferecidas por grandes empreiteiras terceirizadas. 

O Jornal do Brasil publicou na sexta-feira (29/5) uma entrevista com a secretária-geral da Trade, Shara Burrow, que retratou um cenário assustador no Catar.

Veja a reportagem:

>> Copa do Catar: mortes de imigrantes e corrupção no foco de entidades de Direitos Humanos

O Brasil está com um posicionamento "muito tímido" quanto às questões de violação dos direitos humanos, na opinião do desembargador Siro Darlan. O magistrado acredita que se a Seleção Brasileira abrir mão de participar da Copa no Catar como forma de repúdio pelos crimes trabalhistas denunciados, seria um ato exemplar para outros mundos civilizados, como a Europa. "O Brasil é o único país que participou de todas as Copas, então isso teria uma repercussão mundial muito positiva, contra estes desmandos e falta de respeito da pessoa humana", diz o desembargador. 

O magistrado estranho o fato do país ser signatário neste setor e até o momento o governo não ter se manifestado. "A gente observa aqui no Brasil que o futebol está acabando nas mãos de elementos que exploram o mercado. O mesmo com a Fifa e seu padrão de qualidade, que se não fosse a Justiça Americana atuar, eles [dirigentes da Fifa] iam continuar em total impunidade, inclusive com brasileiros envolvidos", destaca Darlan.  

A violação de direitos humanos para fins esportivos, na avaliação do Darlan, representa uma grande contradição. "Esporte é sinônimo de saúde, de civilização, de confraternização entre os povos. No entanto, está servindo para a exploração do trabalho humano e o Brasil precisa se posicionar, é claro".  

O jurista Wadih Damous, presidente da Comissão da Verdade do Rio e da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio (OAB-RJ), espera uma posição firme do Brasil em relação à questão no Catar. "Esses trabalhadores de fato exercem as suas atividades em condições degradantes, abaixo de qualquer linha aceitável de condições de serviço, perdendo completamente a dignidade. Se não houver por parte do Catar quanto das autoridades esportivas um posicionamento firme quanto a isso, acho até que o Brasil deve pensar em não participar da Copa do Mundo. Participar da Copa às custas do massacre de trabalhadores, para proporcionar um espetáculo midiático, não vale a pena", destaca Damous.

Um outro aspecto relevante citado por Damous que justificaria uma resposta mais vigorosa do Brasil, diz respeito ao perfil do próprio governo. "O país por já ter tido como representante um trabalhador e ter à frente um partido dos trabalhadores, tem a obrigação de se colocar firmemente quanto a isso. Exigindo que esta situação seja corrigida e, se for o caso, até boicotando a participação na Copa do Mundo", diz o jurista.