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America faz 110 anos de glórias, desilusões e nova realidade

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O segundo time dos cariocas. Clube simpático. Dono de uma das sedes mais bonitas do Rio de Janeiro. Diferente até no nome, pois não tem acento, já que a denominação vem da grafia em inglês America Football Club. Estas são algumas das definições para o clube que nasceu em 18 de setembro de 1904 e tanto encantou o futebol brasileiro em décadas passadas.

Ao longo de 110 anos de existência, o America viu a história ser manchada com rebaixamentos em campo e, hoje, amarga a Série B do Campeonato Estadual. Os craques já não passam mais pelo time, as dívidas aumentam, e a sede, motivo de orgulho da torcida, está fechada e será demolida.

O hino de Lamartine Babo, interpretado por Tim Maia, aponta na direção de títulos que enchem de alegria os mais velhos, como os estaduais de 1913, 1916 e 1922, mas indica na direção que pode ser percorrida pelos mais novos, a futura geração "temos muitas glórias e surgirão outras depois".

Ao passear pela história, o torcedor conhece ídolos que encantaram várias torcidas, mas brilharam pelo America ou foram formados no clube da Rua Campos Salles, como Almir Pernambuquinho, Duílio, Donato, Jorginho (lateral do tetra), Romário, Djalma Dias, Amaro, Quarentinha, Elói, Zagallo, Moreno, Orlando Lelé, Denílson, Gilson Gênio, Luisinho Lemos e Edu.

A década de 60, por exemplo, reservou um grande time e o último título estadual do America. Sob o comando do então jovem técnico Jorge Vieira, 26 anos, o time desbancou os grandes e fez a final com o Fluminense. Diante de 100 mil torcedores, o Mecão, como é carinhosamente chamado por seus apaixonados torcedores, viu o clube tricolor sair na frente com um gol de Pinheiro. A virada veio com o Nilo e Jorge, que pegou o rebote do goleiro Castilho.

Era o sétimo título estadual do America. Até hoje, o torcedor tem na ponta da língua a escalação de 60: Ari, Jorge, Djalma, Wilson Santos e Ivan; Amaro e João Carlos; Calazans, Antoninho (Fontoura), Quarentinha e Nilo.

Torneio Campeão dos Campeões 

Em 1982, durante a Copa do Mundo na Espanha, a CBF reuniu todos os clubes que tinham participado de alguma final de competição nacional, e o America entrou como convidado por ser o 18º time com mais participações em torneios nacionais. O resultado foi que o convidado virou anfitrião.

"Era uma grande equipe, respeitávamos todas e éramos respeitados, sabíamos o que fazer e como fazer durante as partidas e fora de campo também tínhamos um grande entrosamento, ganhamos o torneio Campeão dos Campeões e ganhamos bem. Fica a saudade daquele time que também foi à final do Carioca", lembrou o ex-zagueiro Duílio.

A campanha do America teve três vitórias e cinco empates até a decisão com o Guarani. Na final, empatou o primeiro jogo por 1 a 1, fora de casa. No Maracanã, o time levantou o título com uma vitória por 2 a 1. Elói foi o artilheiro da equipe, com quatro gols, seguido por Duílio, que marcou dois.

O time da final contra o Guarani foi: Gasperin, Chiquinho, Duílio, Everaldo e Zé Dilson (Sérgio Pinto); Pires, Gilberto e Eloy (João Luís); Serginho, Moreno e Gilson Gênio. Técnico: Dudu.

Glórias 

No mesmo ano, o America, por ter vencido a Taça Rio, o segundo turno do Estadual, se garantiu no triangular com Vasco e Flamengo, mas acabou ficando em terceiro lugar.

Em 1986, a grande campanha no Campeonato Brasileiro, quando parou na semifinal diante do São Paulo, após ter eliminado o Corinthians nas quartas, foi o último grande marco da história americana dentro de campo. A equipe perdeu o primeiro jogo no Morumbi por 1 a 0 e ficou no empate, no Maracanã, na volta: 1 a 1.

"Joguei no America por oito anos, do infantil ao profissional. Cheguei com 14 ao meu clube de coração. Guardo dois jogos na memória. Em 86, pegamos o Corinthians e calamos o Pacaembu. Outro jogo inesquecível foi a semifinal contra o São Paulo. Maracanã com 85 mil pessoas, todo vermelho", advertiu o ex-zagueiro Denílson.

"O clube tem que voltar a revelar jogadores. Fui para o Corinthians, Jorginho, Renato, Delacir e Paulo Cesar para o Flamengo, Bené para o Vitoria de Guimarães (Portugal), Demétrio para o Botafogo, Polaco para o Fluminense, Moreno para o Nautico e Donato para o Vasco. E muitos de nós fomos para a Seleção Brasileira. O America tem que se unir”, acrescentou.

A queda 

O ano seguinte reservou o início de um novo caminho para o America. Com a criação do Clube dos 13, o time ficou fora da elite brasileira, mesmo tendo sido terceiro colocado no Brasileiro do ano anterior, e se recusou a jogar a segunda divisão, o Módulo Verde. Com isso, foi rebaixado para a terceira divisão e nunca mais voltou a estar entre os grandes no cenário nacional.

Restaram o Estadual e o Rio-São Paulo, mas as conquistas ficaram no passado. Atualmente, o America está na segunda divisão do Rio e disputa a Copa Rio, uma torneio que envolve os clubes de diferentes divisões para que se mantenham em atividade. O técnico é Aílton Ferraz, ex-meia de Flamengo, Fluminense, Grêmio e outros clubes.

A sede social, motivo de orgulho dos apaixonados americanos, como os inesquecíveis Tim Maia, Noel Rosa e Heitor Villa-Lobos, os sambistas Monarco e Dona Ivone Lara, os jornalistas José Trajano, Alex Escobar e Sílvio Barsetti, e o tetracampeão mundial Zagallo, está fechada. Sob risco de desabamento, a sede da Rua Campos Salles vai ser demolida para a construção de uma nova, com previsão de inauguração em 2017.

"Será uma nova era do America. Tomamos uma providência de fazer o America voltar a ser o que era. Encontramos uma sede completamente destruída, irrecuperável, com azulejos cortando o pé das pessoas na piscina, sistema elétrico com fios aparentes, banheiros degradáveis, mas chegamos à conclusão que somente uma sede nova pode fazer com que o America se recupere", disse o presidente Léo Almada.

"Vamos assinar um protocolo de intenção com três grandes empresas brasileiras para reconduzir o America ao devido lugar no dia do aniversário. Continuaremos dono de tudo e, durante o período da construção, o clube vai receber uma mensalidade da construtora. Vamos expulsar àqueles que viviam do clube e me atrevi a tomar esta providência. Vamos fazer uma sede nos padrões internacionais, e os americanos terão orgulho, assim como o estádio, que pode ser explorado pela CBF ou a Federação, mandando jogos dos campeonatos por lá", acrescentou o dirigente.

Aos americanos, a letra do hino "Hei de torcer, torcer, torcer...." ecoa como um cântico por dias melhores e de glórias de um passado que pode servir de inspiração para um futuro vitorioso, como em outras décadas.