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Treinador da Seleção Sub-20 critica CBF: “fiquei no vácuo”

Emerson Ávila foge às polêmicas após catastrófica participação no Sul-Americano

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Emerson Ávila prefere fugir às polêmicas depois da catastrófica participação da Seleção Sub-20 no Sul-Americano da categoria. Ainda assim, em entrevista exclusiva ao Terra, é possível perceber os motivos que o treinador aponta para a eliminação ainda na primeira fase, o que custou a primeira classificação ao Mundial Sub-20 desde o início da década de 70. Ávila aponta para o comprometimento e a produção baixa de jogadores dos quais se esperava, mas essencialmente para o processo atravessado pela CBF. 

Ávila, que também aponta para alguns erros dele próprio, acumulou três categorias ao longo dos últimos meses, já que José Maria Marin liberou Ney Franco para o São Paulo (em julho), Marquinhos Santos ao Coritiba (em setembro) e não fez reposições. O treinador, também de decisões equivocadas e um dos principais responsáveis pelo resultado muito ruim, ainda assim foi uma das principais vítimas do processo político da própria CBF. 

Jorginho, do Bahia, já se reuniu com a direção da CBF para ser um eventual substituto de Ney Franco. A exemplo de Luiz Felipe Scolari, ele é desejo de Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista. Na base do Palmeiras, nos mais diferentes cargos, Jorginho teve resultados ruins. Certo ou errado, um movimento tardio, ao sabor dos resultados. Como o futebol brasileiro experimentou em seus piores momentos ao longo da história. 

Leia a entrevista exclusiva com Emerson Ávila:

Terra – Se sabia das dificuldades, pela preparação e pelo momento da CBF. Você esperava um resultado tão ruim?

Emerson Ávila - Não. Sabia que seria muito difícil. Você que acompanha bem as categorias de base, sabe que é uma geração que não é lá essas coisas. Mas a gente via jogadores com qualidade, jogando nos elencos das equipes principais com qualidade, e na pior das hipóteses esperava uma vaga no Mundial Sub-20. Fomos surpreendidos não só com adversários que evoluíram muito, mas com a ineficiência do Brasil, que não se acertou em momoento algum. 

Terra – Quando você soube que treinaria a equipe no Sul-Americano?

Emerson - Estava em preparação com a Seleção Sub-17, para a Nike (Friendlies) e não tinha treinador na Sub-20. Me passaram (em novembro) que eu seria o treinador da categoria. O tempo para observar foi pequeno, mas enfim, tem mais uma série de motivos que eu poderia enumerar, e que contribuíram. A equipe não fez nenhum jogo bom, que merecesse o resultado, mas poderíamos ter dado sorte em algumas situações. O gol que o Marcos Júnior perdeu contra o Uruguai, mesmo. Se virasse ali, classificaria. A sorte também não acompanhou a gente. 

NR.: O Brasil havia saído atrás contra o Uruguai, mas buscou o empate em 2 a 2 e teve chance clara de virar. Pouco depois, tomou o gol e perdeu por 3 a 2. 

Terra – No desembarque, se falou em falta de comprometimento do grupo. Você sentiu isso?

Emerson - Eu esperava um rendimento bem maior de vários deles. No entanto, não sei se por excesso de jogos após o fim de temporada, se falta de motivação para sair de um Brasileiro para disputar um torneio Sub-20. O comprometimento é uma questão muito individual, não posso julgar o envolvimento dos atletas com os treinamentos, e faço as minhas observações. Afirmar isso agora seria injusto com os atletas que se dedicaram bastante. Mas é difícil, é difícil…

Terra – Em sua autocrítica, onde acha que também errou na montagem da equipe?

Emerson - Não tenho dúvidas que meu principal erro foi a convocação. Quando convoquei (a pré-lista, com 27 jogadores), chamei dois ou mais por posição, e queria atuar no 4-2-3-1. Mas senti pouca força ofensiva na preparação, então fiquei com um volante e dois meias que chutam bem (Mattheus e Felipe Anderson), no 4-3-3. Começou bem nos jogos-treinos, no fim deu uma caída, mas pensei, vamos tentar fazer o que tinha feito no primeiro jogo. No jogo contra o Uruguai, não poderia perder e achei melhor dois volantes. De modo geral, minhas apostas não foram tão boas. Foi tudo muito corrido desde que me falaram que eu levaria a Sub-20.

Terra – Você ficou por alguns meses, e inclusive no Sul-Americano, sem coordenador, sem supervisor e sem diretor de seleções já no final. Além disso, acumulou as categorias Sub-15, Sub-17 e Sub-20. Como foi tudo isso?

Emerson - Desde a saída do Ney Franco (início de julho), nenhuma decisão se tomou por parte do Andrés, que na época era o responsável pelo departamento de seleções. Ficamos por uma resposta, por uma solução, e eu convoquei Sub-15, Sub-17 e Sub-20. Poderíamos estar mais bem preparados, sim. Mas não tem o que ficar lamentando, porque eu sabia que a CBF passava por uma série de processos com as saídas do Andrés e do Mano. Só lamento o pouco tempo destinado à Seleção Sub-20. 

Terra – Qual seu futuro nas seleções de base? Alguém conversou com você?

Emerson - Ainda não fui informado de nada. Soube de conversas e sondagens com o Jorginho para a Seleção Sub-20. Em relação às outras seleções, ninguém passou nada. Estou na expectativa do que estão pensando, mas acredito que a direção da CBF precisa se reorganizar novamente para que as seleções voltem a ser fortes. Que direcionem logo os treinadores, não se pode ficar uma pessoa só responsável por três divisões por tanto tempo. 

Terra – Você deseja permanecer?

Emerson - Vou esperar o que definem. Se acharem que não sou o nome indicado, a gente segue a vida em frente. Preciso conversar com as pessoas. Gostaria muito de saber qual o objetivo, porque não pode só se pensar no resultado, mas sim no processo de construção do resultado. Eu fiquei um tempo no vácuo, sem rumo para fazer muitas coisas ao mesmo tempo. 

Terra – O Jorginho confirmou ter recebido um convite da CBF. É tarde demais para pensar? Afinal o Ney Franco saiu em julho e só se mexeram depois da eliminação no Sul-Americano

Emerson - Assim que saiu o Ney, não deveria ter se esperado tanto para tomar decisões. Eu mesmo não fui diretamente comunicado que iria para o Sul-Americano. As coisas foram acontecendo, acontecendo, até o dia que me falaram, “faz a convocação para o Sub-20 porque tudo indica que será você (o treinador)”. Se for o Jorginho ou outro, que seja o quanto antes, porque demanda tempo. É ver treino, conversar com as pessoas, ver os jogos. Em março e abril já tem torneio. 

Terra – A lição que fica é a de que o talento não resolve sozinho? Sem organização e trabalho, não vai resolver sozinho?

Emerson - Não tenho dúvida disso. Os países sul-americanos se desenvolvendo cada vez mais e ficamos no meio do caminho. O Brasil precisa repensar muita coisa da formação de atletas. Da transição, de pegar jogadores comigo que já estão no profissional, mas não jogaram na base e no profissional ao longo do último ano. Tiveram um ano perdido e não tiveram a performance esperada.  O Peru é uma prova de um país pequeno, com jogadores de qualidade técnica, bem desenvolvidos taticamente. Acho que está na hora de se mexer e pensar mais na formação. 

Terra – Que avaliação você fez do Rafinha Alcântara, dentro e fora do campo? Como foi o envolvimento dele?

Emerson - Fico muito satisfeito quando vejo a dor de um jogador após uma derrota. Isso mostra que o sentimento dentro do jogo era de vencer. Ele ficou sentido, chorou bastante, e sinto que nossos atletas precisam ser mais competitivos, envolvidos com treinamentos para se dedicar no que escolheram. Fiquei satisfeito com a postura do Rafael. Ele demorou um pouco a se adaptar, mas percebemos uma qualidade excepcional. No final, contra o Peru, ele já tinha um desgaste físico.