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Jornal norte-americano publica perfil de Romário, destacando sua trajetória

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No último sábado, o jornal norte-americano The New York Times publicou um perfil do ex-jogador e deputado federal Romário, tecendo elogios e destacando sua trajetória com suas vitórias como jogador, político e pai. Leia a seguir parte do perfil do "Baixinho" escrito na terra do Tio Sam. 

Dos campos ao Congresso, estrela do futebol deixa sua marca 

Em uma carreira de décadas, Romário de Souza Faria, o querido craque do futebol, se revelou provocativo. Ele festejava até o amanhecer enquanto seus companheiros obedeciam ao toque de recolher, brigava com torcedores, menosprezava constantemente o rei Pelé e sempre debochava do fato de ter que treinar.

 “Se vou me tornar técnico no futuro?”, ele divagou uma vez, antes de marcar seu milésimo gol e pendurar suas chuteiras. “De jeito nenhum, eu nunca conseguiria conviver com alguém como eu”. Obviamente, ele escolheu a carreira de técnico em seu antigo clube, o Vasco da Gama.

Agora, entretanto, Romário, está agitando novamente os brasileiros em uma nova área: a política.

Eleito deputado federal em 2010 para representar o Rio de Janeiro, Romário, 46 anos, se tornou um dos políticos mais polêmicos do Brasil, defendendo os direitos das pessoas com deficiências e criticando severamente a cultura política brasileira e os preparativos para a Copa do Mundo 2014.

Ele, que uma vez declarou que seus colegas chegavam para o treino na mesma hora que ele voltava de suas noitadas, é, surpreendentemente, considerado um dos deputados mais assíduos do Congresso.

 “A tendência de todo mundo é evoluir”, disse o ex-jogador em uma recente entrevista em sua cobertura na Praia da Barra.

O Congresso brasileiro recebeu recentemente sua cota de parlamentares não convencionais. Um palhaço profissional, chamado Tiririca, ganhou as eleições em 2010 com os votos de protesto. O boxeador Acelino Freitas, conhecido como Popó, e dois outros jogadores de futebol, Danrlei de Deus Hinterholz e Deley de Oliveira, também integram o time de ex-atletas que enveredaram pelo ramo da política.

Mas nenhum tem o brilho de Romário, cuja jornada, de zagueiro a deputado federal, permanece extraordinária. A incursão na política, segundo ele, apenas fez sentido depois do nascimento de sua sexta filha, Ivy, que nasceu em 2005 com Síndrome de Down.

Ele disse que os primeiros momentos depois de descobrir sobre sua doença foram aterrorizantes, quando ele se perguntou. “O que eu fiz? Será que estou pagando algum pecado?”. Ele conta que sua mulher, Isabella Bittencourt, o acalmou dizendo que Deus lhes havia enviado Ivy.  

Ele agora acredita que sua filha o ajudou a amadurecer , lhe dando um propósito na política. Depois de se filiar ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), ele começou a se focar nos direitos dos deficientes.

“Estou finalmente acostumado a Brasília”, disse ele sobre a capital, ao explicar que demorou meses para entender a importância de coisas como o decoro parlamentar.

Ainda assim, os discursos alongados de seus companheiros o irritam. Assim como suas abordagens aparentemente relaxadas para o trabalho de legislar.

“Estou em Brasília há três semanas e nada acontece. O ano realmente só começa depois do Carnaval?”, disse o deputado em sua conta do Twitter, em fevereiro.

Membros do Congresso não estão acostumados a fazer tais declarações, o que pode explicar parte da admiração que Romário recebe Brasil a fora. O descrevendo como “uma voz no deserto”, a escritora Lya Luft o saúda em um artigo sobre a responsabilidade dos políticos brasileiros.

A crítica de Romário sobre o sistema político do Brasil se intensificou nas últimas semanas, quando ele se concentrou nos preparativos da Copa do Mundo 2014, atingidos por escândalos políticos, atrasos nas obras e greves dos operários que trabalham na construção dos estádios.

Jerome Valcke, secretário-geral da FIFA, enfureceu os políticos ao se referir aos atrasos das obras, dizendo que o Brasil merecia um chute no traseiro para sair do lugar. Enquanto o Senado finalmente aprova a Lei Geral da Copa, Romário disse que infelizmente tem que concordar com Valcke.

 “Ele está totalmente certo. O Brasil está muito para trás e precisa acordar. Nós brasileiros, felizmente ou infelizmente, deixamos muita coisa pra última hora. Isso significa que muito dinheiro será roubado dos nossos bolsos”, disse.

Trajetória

Nascido na favela do Jacarezinho, se mudou para a Vila da Penha aos três anos. Contratado em sua adolescência para jorgar no Vasco da Gama, ele seguiu carreira na Europa, jogando na Suíça e na Espanha.

Convocado em 1990 para jogar na Copa do Mundo, ele brilhou durante a Copa do Mundo de 1994, sendo vice-artilheiro do campeonato. A capacidade de se expressar criativamente, usando comumente as gírias do Rio de Janeiro, elevou sua notoriedade. Alimentando algumas trocas de farpas, ele mantém uma relação polêmica com Pelé, que duvidou da validade de seus mil gols.

 “O Pelé calado é um poeta”, disse.

Apesar dos ternos de alfaiataria, dos óculos e outros indicativos de poder em Brasília, Romário insiste que continua o mesmo homem de quando corria de um lado para o outro dentro de campo. As controvérsias parecem segui-lo, como quando ele perdeu sua carteira de motorista no ano passado, ao se recusar a fazer o teste do bafômetro.

 “Era meu direito recusar”, disse o político, que havia sido fotografado na mesma noite em uma casa noturna no Rio.

* Com informações do The New York Times