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Olimpíada: advogado sugere que MP acione Globo sobre omissão

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Foi grande o alvoroço quando, em meados de 2007, a Record anunciou ter adquirido a exclusividade dos direitos de transmissão em TV aberta dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2010, em Vancouver, e das  Olimpíadas de Londres, este ano. Além disso, a exibição do Pan-Americano de Guadalajara, em 2011, também ficou a cargo da emissora.

Mas, infelizmente, o burburinho sobre a ruptura do já histórico monopólio da Rede Globo no que diz respeito a eventos de grande repercussão no exterior - vide Copas do Mundo - não passou do âmbito comunicacional. No esportivo, que no fim das contas é o que interessa de fato, as disputas ficaram relegadas a segundo plano.

A recusa de Vênus Platinada (como é apelidada a gigante carioca) em noticiar os feitos de nossos atletas em Guadalajara, além de lamentável, é um exemplo claro de como os interesses de um grupo midiático podem se sobrepor aos da própria nação. Fato este que se torna ainda mais grave na medida em que é de conhecimento geral que o esporte é um dos poucos meios de inclusão e ascensão social em vigor em nosso país. Aquele que, muitas vezes, afasta crianças carentes das drogas e as ajuda a escapar da ilusória tentação da "vida fácil" proporcionada pela criminalidade.

Voltando ao México, quantos são os que se lembram (ou sabem) que esta foi a melhor participação brasileira em Pan-Americanos na história? Destaque na Globo somente para o choque entre Fabi e Jaqueline, que fraturou duas vértebras e teve uma concussão cerebral, e para a polêmica envolvendo o nadador Leonardo de Deus, que quase teve a medalha cassada por exibir a marca de um patrocinador na touca. Vinte e quatro vagas garantidas para as Olimpíadas de Londres? Nada. Sem transmissão.

Segundo o advogado e especialista em comunicação Joaquim Welley Martins, da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), esta é uma grave questão de ética.  "A emissora simplesmente não se dispõe a informar ao público que perdeu os direitos de transmissão para não admitir a derrota. Seria até o caso de o Ministério Público verificar se esta omissão acarreta em algum prejuízo para a população e acionar a emissora para cobrar um posicionamento", analisa. 

O professor de Ética da Universidade Federal Fluminense (UFF), Marco Schneider, acredita que mais importante que acionar o Ministério Público é prestar atenção para o interesse público, não o comercial.

"Não sei se é uma obrigação legal, nem se há justificativa para a intervenção do MP, mas a emissora tem uma obrigação ética quanto aos interesses do público. Quando a Globo possuía os direitos de exibição, ela deu um valor muito grande a isso, e agora não está agindo da mesma forma, o que acaba prejudicando o telespectador", avalia Schneider. "Acredito que a Globo deveria mostrar sim as imagens com o logo da Record, se for preciso. A emissora tem de colocar o interesse público acima do interesse comercial".

Jornalista do R7: "Globo não se submete a usar sandálias, quanto mais da humildade" 

Em setembro de 2008, poucos dias depois do encerramento do Pan, o jornalista Marco Antonio Araujo teceu, em seu blog, duras críticas à Rede Globo. Segundo ele, a emissora carioca - que classificou como a "toda poderosa que acorda, anda e dorme de salto-alto" - mostrou sua completa falta de pudor ao sonegar informação do público para servir seus interesses. Isto, ainda de acordo com a opinião do jornalista, porque não quis “humilhar-se” e exibir o logotipo da Record em suas imagens.

Até o momento, a Central Globo de Comunicação não se posicionou sobre o assunto.