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COB traça objetivo e quer Brasil no top 10 no Rio 2016

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A melhor classificação do Brasil em uma Olimpíada foi nos Jogos da Antuérpia, em 1920, quando a delegação verde e amarela chegou ao 15º lugar no quadro de medalhas, conquistando 1 medalha de ouro, 1 de prata e 1 de bronze. Mais recentemente, em Atenas 2004, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) trabalhou duro para levar o Brasil ao 16º lugar, com 5 ouros, 2 pratas e 3 bronzes. Apesar da evolução no número de medalhas conquistadas ao longo dos anos em uma competição de alto nível, em Pequim 2008 o Brasil caiu de produção, encerrando a participação na capital chinesa com 3 ouros, 4 pratas e 8 bronzes, na 22ª posição do quadro de medalhas.

Superintendente executivo de esportes do COB e chefe da missão brasileira em Pequim 2008, Marcus Vinicius Freire conversou com exclusividade com a reportagem do Terra e comentou sobre os planos para as próximas Olimpíadas: Londres 2012 e Rio de Janeiro 2016. O ex-jogador da Seleção Brasileira de vôlei, que integrou a "Geração de prata" conquistando o segundo lugar em Los Angeles 84, admitiu que o grande objetivo do COB é colocar o Brasil entre os 10 primeiros colocados nos Jogos que serão disputados no Rio.

Confira a entrevista com Marcus Vinicius na íntegra:

Terra - Como está a preparação dos atletas para Londres 2012?

Marcus Vinicius - Estamos entrando em um ano decisivo da preparação para os Jogos de Londres. Em 2011 serão definidas a maioria das vagas, por isso estamos, em conjunto com as Confederações Brasileiras Olímpicas, com um planejamento muito bem elaborado de participação nas principais seletivas das modalidades. Estamos dando todo o apoio para que os atletas e suas comissões técnicas tenham os melhores rendimentos possíveis e estamos confiantes de que levaremos uma delegação forte para Londres.

Terra - Alguns atletas que podem ganhar medalhas em Londres, como Fabiana Murer e César Cielo, costumam treinar fora do Brasil. Pode-se dizer que o desempenho deles é melhor por causa disso?

Marcus Vinicius - Esta é uma opção do atleta e em alguns casos treinar fora não significa apenas ter melhores condições, mas sim estar perto dos melhores do mundo e das grandes competições internacionais. De qualquer forma, temos locais aqui no Brasil com todas as condições de receber estes atletas e auxiliar em seus treinamentos. Estamos investindo de forma consistente no aparelhamento de locais de treinamento para que nossos atletas tenham as melhores condições de se prepararem aqui. A criação do Centro de Treinamento Time Brasil é uma prova disso. Inauguramos em dezembro a primeira unidade, com o CT do taekwondo. Até maio de 2011 serão inaugurados o Centro de Treinamento de Levantamento de Peso, o Laboratório Olímpico, a Sala de Força e Condicionamento e o Centro de Treinamento de Ginástica Artística, que será montado na Arena multiuso. Escolinhas e treinamento de ciclismo e patinação já estão sendo realizadas no Velódromo. O espaço é parte integrante do Centro Olímpico de Treinamento, projeto que utilizará as instalações já existentes e a serem construídas na área do atual Autódromo do Rio de Janeiro e que ficará como um dos legados esportivos dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Nesta primeira fase de implantação, o CT Time Brasil atenderá modalidades como natação, natação sincronizada, saltos ornamentais, pólo aquático, taekwondo, ginástica artística, levantamento de peso, ciclismo, boxe e patinação artística. Nosso projeto é otimizar esse espaço para implantação da primeira fase do Centro Olímpico de Treinamento, atendendo diversas modalidades. O ponto de partida foi dado. Cada detalhe foi pensado de forma a atender as necessidades do atleta em seu treinamento. O Centro de Treinamento de Taekwondo permitirá o treinamento dos atletas da Seleção Brasileira de Taekwondo e o intercâmbio com atletas estrangeiros, tendo como objetivo principal a preparação para competições internacionais.

Terra - O que falta para o Brasil ser uma potência olímpica?

Marcus Vinicius - Temos o compromisso de trabalhar pela transformação do Brasil em uma potência olímpica e a realização dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007 e dos Jogos Olímpicos Rio 2016 fazem parte deste projeto. Não podemos ter medo de nossos próprios objetivos. Nossa meta não é conquistar medalhas apenas nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Temos uma série de competições antes disso, que também passam pelo nosso planejamento, como os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara 2011 e Toronto 2015, além dos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Enfim, nossos objetivos têm pelo menos três etapas: Londres 2012, Rio 2016 e o pós 2016. Para isso, é preciso muita dedicação de todos os envolvidos, governo federal, COB, Confederações, Federações Olímpicas e patrocinadores, e também investimentos suficientes para atingirmos esse grau de desenvolvimento. Isso tudo, é claro, com o apoio e conscientização de toda a sociedade sobre os benefícios e o legado que o esporte pode trazer a todos, sobretudo no campo social. Estamos dando passos importantes nesse sentido. Fazer do Brasil uma potência olímpica é algo que está ao nosso alcance e devemos lutar por esse objetivo.

Terra - Podemos dizer que as Olimpíadas de 2012 serão uma prévia para 2016?

Marcus Vinicius - O planejamento do COB para 2016 passa obrigatoriamente por Londres 2012, assim como pelos os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara 2011 e Toronto 2015 e mesmo os Jogos Olímpicos da Juventude Cingapura 2010 e Nanquim 2014. Queremos aumentar o número de medalhas conquistadas pelo Brasil em cada uma dessas competições, consolidando a base de atletas brasileiros no alto rendimento, fazendo surgir novos ídolos e campeões. Mas o planejamento do COB não se encerra nos Jogos do Rio. O projeto que vem sendo desenvolvido pelo COB pretende deixar uma base sólida e sustentável para que o Brasil se consolide definitivamente como um das potências olímpicas mundiais. Para Londres 2012 a meta é superar o total de 15 medalhas conquistadas em Pequim 2008. Hoje, os investimentos dos recursos, independente da fonte, já obedecem a essa lógica para 2012 e 2016. Temos uma missão com objetivos traçados e faremos nosso trabalho da melhor forma possível para que os atletas de 2016 possam ter as melhores condições para alcançarem seus melhores resultados e que os atletas pós 2016 se mirem nestes trabalhos e resultados. O desenvolvimento do Brasil ao longo das últimas edições dos Jogos Olímpicos se comprova na constante evolução da participação de atletas brasileiros em finais olímpicas e disputas diretas por medalhas. Nos Jogos Olímpicos de Pequim-08, por exemplo, o Brasil disputou 41 finais. Em Atenas-04 foram 30 finais e em Sydney, 22. Aumento de 36% em relação a Atenas e de 86% em relação a Sydney. Nas disputas diretas pela medalha de ouro, o Brasil registrou aumento de 82,35%. Em Atenas foram 17 disputas, e em Pequim foram 31. Com a realização dos Jogos Olímpicos no Rio, em 2016, temos a possibilidade de ampliar este salto de qualidade. Para isso, o COB está desenvolvendo uma série de projetos em conjunto com as Confederações Brasileiras Olímpicas e o Ministério do Esporte. A contratação do consultor americano Steve Roush; a criação do Time Rio, um programa da Prefeitura do Rio; a criação de equipes multidisciplinares com aplicação da Ciência do Esporte; a criação do Programa de Apoio ao Time Brasil; a criação do Centro de Treinamento Time Brasil e do Laboratório Olímpico são alguns exemplos de ações que caminham nesta direção.

Terra - E o que esperar de 2016?

Marcus Vinicius - Nossa meta é colocar o Brasil entre os dez primeiros do mundo no número total de medalhas dos Jogos Olímpicos do Rio. Para ficar no top 10, o planejamento do COB e das Confederações Brasileiras Olímpicas visa a ampliação para cerca de 13 modalidades com conquistas de medalhas, superando a média histórica de oito que o Brasil vem alcançando. Para isso, o COB já está direcionando o trabalho diretamente no aprimoramento das condições de preparação de atletas e equipes com chances reais de conquistar medalhas em 2016, com a anuência das Confederações. O COB já vem realizando, entre outras ações, um acompanhamento individualizado de atletas e equipes, com a oferta de suporte em várias áreas das Ciências do Esporte, tais como fisiologia, biomecânica e fisioterapia entre outras, além de maior apoio às equipes técnicas dos atletas.

Terra - Quais nomes você acha que brilharão em 2012? Você espera alguma surpresa?

Marcus Vinicius - É difícil apontar nomes neste momento em que não está definida ainda a formação da delegação. O que posso dizer é que nossa meta é sempre evoluir qualitativamente, aumentar o número de finais disputadas e medalhas conquistadas. As confederações estabeleceram metas e esperamos alcançá-las com êxito.

Terra - Como o COB está atuando para que esportes de pouca tradição no Brasil como hóquei na grama se desenvolva?

Marcus Vinicius - Observamos que surgem cada vez mais novos valores em modalidades em que o Brasil não tem muita tradição, como canoagem, remo, levantamento de peso, tiro com arco, entre outras. A delegação brasileira nos Jogos Olímpicos da Juventude Cingapura 2010 foi composta por 81 atletas, entre 14 e 18 anos, com grande potencial a ser trabalhado até os Jogos Olímpicos Rio 2016. Nos últimos seis Jogos Olímpicos, tivemos nove modalidades ganhadoras de medalhas. O nosso objetivo é manter as vitórias nessas modalidades e criar condições para conquistas em novos esportes para que o resultado geral do Brasil seja cada vez melhor. O trabalho do COB hoje caminha nesta direção.

Terra - Como você avalia a evolução do esporte universitário e escolar no Brasil? O que o COB tem feito neste campo e o que precisa ser feito?

Marcus Vinicius - Está evoluindo e estamos contribuindo para isso. Desde 2005, o COB organiza, em parceria com o Ministério do Esporte, as maiores competições esportivas estudantis do País. Assumimos este compromisso há seis anos e hoje as Olimpíadas Escolares e as Universitárias atingiram um patamar de referência no calendário nacional, tendo inclusive reconhecimento internacional do COI. Além do incentivo à prática esportiva, a competição está conseguindo contribuir para a revelação de talentos, algo que não faz parte do objetivo inicial do projeto. Para citar um exemplo, dos 64 atletas do Time Brasil cujas modalidades fazem parte das Olimpíadas Escolares e integraram o programa de Cingapura, 38 participaram das Olimpíadas Escolares. Os atletas que mais se destacaram nos Jogos Olímpicos da Juventude serão contemplados em projetos especiais do COB para estimular seu desenvolvimento em busca de mais medalhas para o país em futuros eventos. Em relação às Olimpíadas Escolares, as etapas estaduais, classificatórias, contaram em 2010 com a participação de 47.931 escolas, sendo 37.896 escolas públicas e 10.035 escolas privadas, envolvendo 1.918.313 de estudantes em todo o Brasil. Já na etapa final o evento tem a presença de 2 mil instituições de ensino. A competição é dividida em duas faixas etárias, de 12 a 14 anos e outra de 15 a 17 anos. Em 2010 foram 11 modalidades em disputa na competição em Fortaleza (12 a 14 anos): atletismo, basquete, ciclismo, futsal, ginástica rítmica, handebol, judô, natação, tênis de mesa, vôlei e xadrez. A competição em Goiânia (15 a 17 anos) teve também o taekwondo. Nessas duas edições o evento reuniu um total de 8.500 atletas. As delegações ficam hospedadas em hotéis e contam com uma grande estrutura de suporte, como alimentação, transporte e atendimento médico, entre outros serviços. Além dos eventos esportivos, as Olimpíadas Escolares têm uma intensa programação cultural e educativa, na qual são abordados temas como combate ao doping, meio ambiente e dicas de prevenção contra o vírus HIV.

Terra - Como está a programação para o Pan 2011? E como motivar atletas de alto nível como Cielo e Murer, que estarão mais interessados nos mundiais de suas modalidades?

Marcus Vinicius - Procuraremos adequar o calendário destes atletas da melhor forma possível a fim de não atrapalhar suas preparações olímpicas. Esperamos que todos possam disputar o Pan, mas se for prejudicar seus calendários, é claro que teremos habilidade para avaliar cada caso.

Terra - Como está o apoio do COB nas competições pré-olímpicas em 2011?

Marcus Vinicius - O COB trabalha em conjunto com as confederações no planejamento da participação dos atletas nas seletivas. Acredito que tudo esteja dentro do previsto até o momento. Em 2011 participaremos das principais competições classificatórios e certamente levaremos a Londres uma delegação forte e em condições de representar muito bem nosso País.

Terra - O Brasil procura um local exclusivo para se instalar em Londres 2012. Acha que isso ajudará a delegação? Ou é bom ter esse contato com atletas adversários na Vila Olímpica?

Marcus Vinicius - Proporcionando uma base de treinamento para todos os atletas na delegação, um comitê olímpico pode oferecer serviços centralizados (ciências do esporte, medicina esportiva, tecnologia de vídeo, etc) que lhes dão um ambiente para a sua preparação a um nível significativamente mais elevado. Criando um ambiente de treinamento em que o treinador tem o controle completo da programação e permite ajustar os atletas e equipes para melhor preparar-se com uma rotina similar ao que eles utilizam em outras competições internacionais. Fornecendo aos atletas um ambiente familiar, tais como treinadores pessoais, prestadores de serviços de desempenho, alimentação, ambiente relaxante e um refúgio das pressões na Vila Olímpica. Acredito que, proporcionando um ambiente para os atletas brasileiros se concentrarem em níveis máximos durante os Jogos Olímpicos, veremos grande resultados para o Time Brasil em Londres.

Terra - Você escreveu um livro sobre o marketing olímpico. Qual a importância desse marketing na preparação de um atleta para as Olimpíadas?

Marcus Vinicius - Total. Hoje, o esporte é um mercado que envolve uma série de fatores externos e se o atleta de alto nível não estiver preparado, ficará para trás. O marketing é peça-chave neste sistema.