ASSINE
search button

Na Flip, Gabeira compara Garotinho com 'comédia de costumes' e critica políticos

Compartilhar

Ao apagar das luzes nas mesas oficiais da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), Fernando Gabeira comparou o governo de Anthony Garotinho, de 1998 a 2002, como uma “comédia de costumes”. A analogia veio após pergunta do mediador da mesa, Zuenir Ventura, sobre as semelhanças entre o político de Campos dos Goytacazes e Leonel Brizola, a quem se referiu como um “épico”.

“No caso do Garotinho e do Brizola, eles tentaram estender a experiência varguista de atender à população mais pobre. Ignoraram um pouco o sistema político e os partidos para falar direto com as massas.“

Com frases arrebatadoras e entusiasmo da platéia, a mesa Autoritarismo, passado e presente, que também contou com a participação do antropólogo e um dos autores do livro Elite da Tropa, Luiz Eduardo Soares, encerrou a programação do segundo dia da Flip na Lona dos Autores. Entre os assuntos abordados, estiveram o sucesso da Comissão da Verdade e a reafirmação de ambos os convidados de que o Brasil ainda é autoritário.

O ex-senador e ex-candidato à prefeitura do Rio também classificou o sistema político brasileiro como completamente distante do povo, por se protegerem – com leis e foros específicos – e impedirem que seus membros sejam punidos por condutas irregulares. Ainda, ao expor que a eleição de Lula em 2002 apontava para um novo rumo do país, aproveitou para criticar a recente aliança do petista com Maluf.

"Quando o Lula foi eleito, nós tínhamos muita esperança, mas o que PT fez foi como na peça do [dramaturgo suíço] Friedrich Dürrenmatt em que uma prostituta sai de sua cidade e volta rica, para se vingar, com a ideia 'o mundo fez de mim uma puta, eu vou fazer do mundo um bordel'. É o que diz o PT", completou o ex-deputado.

Para Luiz Eduardo Soares, embora a democracia brasileira seja uma realidade, é preciso reconhecer que o Estado trata com brutalidade grande parte da população, em sua maioria os pobres.

“As instituições brasileiras têm resistido bravamente, e tendemos a consolidar nossa democracia. O caminho até aqui aponta boas perspectivas. Mas seria insuficiente não reconhecermos a brutalidade do Estado em tantas instituições”, disse.

Segundo o cientista social, o Brasil não teve uma ritual de passagem após a ditadura. Por isso, espera que a Comissão da Verdade possa esclarecer esse “hiato trágico” da história brasileira:

“A Comissão deve ter resultado capaz de mudar a narrativa dos livros escolares que vão guiar as futuras gerações”, considerou Soares.