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RJ: acusações marcam primeiro debate do 2º turno entre Pezão e Crivella

Governador critica aliança com Garotinho. Uso da Igreja e da máquina pública também foi abordado

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Acusações e críticas deram o tom do primeiro debate eleitoral entre os candidatos ao governo do Rio de Janeiro para o segundo turno, Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB). Pezão focou na aliança já anunciada entre o ex-candidato do PR, Anthony Garotinho e Crivella, considerando que o atual adversário pode se transformar em "mentiroso" e ainda usar da influência da Igreja Universal para conseguir vantagens políticas. Por outro lado, Crivella destacou que Pezão não tem comando da sua campanha e afirmou estar de posse de contratos irregulares assinados pelo Governo do Estado durante a gestão Cabral/Pezão com a empreiteira Delta, alguns sem licitação.

Com uma expressão mais serena do que no primeiro turno, o senador Marcelo Crivella abriu a rodada de perguntas no primeiro bloco, quando os candidatos fizeram questionamentos diretos, com réplica e tréplica. O setor da saúde foi o escolhido pelo candidato para sabatinar o adversário. 

Primeiro bloco

Divergências e trocas de farpas entre os candidatos a parte, o primeiro bloco do debate foi marcado por uma discussão entre Silas Lima Malafaia, líder e pastor pentecostal, e Crivella. Malafaia foi um dos convidados do encontro e perguntou ao senador sobre o que ele acha da influência da Igreja Universal, que segundo o pastor, foi responsável pelo fim do seu programa em uma rádio carioca. "A Universal tem colocado líderes religiosos para fora de rádios como se fosse cachorros vira-lata", afirmou Malafaia. Crivella retrucou, dizendo saber das "ligações" de Malafaia com o atual governo. Malafaia interrompeu o candidato chamando-o de mentiroso. "Leve as suas frustrações a Deus", respondeu Crivella, acrescentando que não interfere nas decisões da sua igreja e vice versa. 

Aproveitando a carona na confusão, Pezão afirmou que o seu adversário passou o primeiro turno ressaltando que é ficha limpa, mas se esquece das indicações que já fez para o Ministério da Pesca, que beneficiou alguns membros da Universal. "Isso é uma inverdade", replicou Crivella, apontando para a sua ex-chefe de gabinete Margareth Cabral, que estava na plateia. "Ali está a minha indicação. A Margareth é católica, católica", destacou o senador.   

Saúde

Crivella questionou os motivos que ainda levam pacientes em tratamento de câncer procurar unidades médicas fora do Estado. Segundo Pezão, o Inca (Instituto do Câncer) enfrenta no Rio um grave problema de contratação de médicos especialistas, o que justifica os contratos feitos pelo seu governo através de Ordem de Serviço (OSs), como alternativa para suprir a falta de profissionais. Na sua réplica, Crivella disse que, na verdade, faltou interesse e planejamento da gestão do PMDB, que não fez investimentos voltados para o setor durante os oito anos de gestão, citando as filas "com mais de 20 mil pacientes que aguardam por cirurgias". "Por que não comprou maquinário para os hospitais daqui, para o paciente não ter que se deslocar?", questionou Crivella.

O senador destacou que o Hospital de Traumatologia e Ortopedia Dona Lindu (HTODL), localizado em Paraíba do Sul, citado por Pezão como um dos grandes investimentos da sua administração, foi construído no governo Garotinho, além de ter sido equipado através do esforço feito pelo senador no Congresso.  

Desemprego

A primeira pergunta de Pezão para o senador Crivella foi relacionada aos índices de desemprego no Estado, que segundo a sua contabilidade reduziu consideravelmente. O governador perguntou quais as medidas Crivella pretende adotar, se eleito, para manter ou melhorar o desempenho conquistado pelo seu governo. Crivella considerou que a geração de emprego não foi um ponto forte da gestão do PMDB no Rio, comparando com os índices de outros Estados nacionais. O senador disse que é necessário organizar as cadeias produtivas e canalizar investimentos para a Baixada Fluminense, para que a região deixe de ser dormitório e recebe novas indústrias. 

Pezão deu início a sua série de críticas à aliança Garotinho/Crivella. "Cuidado, senador, com a convivência com o Garotinho [Anthony Garotinho (PR)], vai fazer do senhor um mentiroso também", disparou. Pezão reafirmou que investiu em mais de 110 mil postos de empregos no interior e o número de carteiras assinadas no seu governo foi superior a qualquer outra fase do Estado. Na tréplica, Crivella disse que até as obras do Arco Metropolitano, que poderia gerar mais empregos para a região metropolitano do Rio, demorou serem finalizadas, mais de cinco anos, por falta de planejamento do governo, que não tem até o momento um esquema de zoneamento do estado. 

Segurança 

O bloco teve ainda perguntas de convidados aos postulantes. O cineasta José Padilha perguntou a Pezão sobre os seus projetos para a área de Segurança Pública e quanto a aprovação da Pec 51, que defende entre vários itens a desmilitarização. Pezão afirmou que o programa de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) é referencia em segurança no país e ele considera a Pec 51 um projeto viável para daqui uns 20 anos - "depois que a gente conquistar a paz nas comunidades". Pezão considerou que a criminalidade nas comunidades está sob controle e que a população dessas regiões foram libertadas do julgo dos traficantes. O governador prometeu mais investimentos em educação nas comunidades, inclusive com o apoio da prefeitura.

Na sua réplica, Crivella considerou que o projeto das UPPs algo muito bom, mas que o seu desempenho no Rio foi prejudicado pelo "desespero" das eleições. Segundo ele, não houve um planejamento, até mesmo da prefeitura, para a ocupação das comunidades pacificadas, com a exclusão dos programas sociais. A tréplica de Pezão foi apimentada. Enquanto ele justificava as dificuldades desse tipo de investimento no Estado, se referiu a Crivella como "bispo licenciado" e ainda chamou o concorrente de "Crivelinho", explicando que o termo é uma mistura de Crivella com Garotinho. Pezão questionou a passagem de Crivella pela Emop (Empresa de Obras Públicas). 

No roll dos convidados, o ator e comediante Marcelo Madureira perguntou ao candidato Pezão os motivos do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) nunca aparecer na sua campanha eleitoral. Pezão afirmou que Cabral fez a abertura do seu programa eleitoral na Tv e, considerando ser um candidato ainda pouco conhecido do eleitor, justificou que a maior exposição na campanha deveria ser da sua imagem. O postulante se diz orgulhoso dos oito anos de governo do seu partido e acredita que o grau de investimento no Estado foi considerável, dando destaque a parceria com o governo federal - "parceria que não vamos perder", garantiu.

Segundo bloco

Candidatos deram continuidade a rodada de perguntas diretas. 

Orçamento para municípios

Pezão questionou Crivella sobre os seus planos para os municípios. O adversário respondeu que pretende implantar um plano de "orçamento territorizado", explicando que cada região tem as suas próprias demandas e peculiaridades. Já Pezão afirmou que destinou milhões em investimentos para a Baixada Fluminense, como o programa Bairro Novo, que abriu novas vias na região e tratou o esgoto que antes era um grave problema. 

"Não discriminamos nenhum prefeito, vamos continuar fazendo os programas", afirmou o governador, citando um novo projeto de reconhecimento aéreo da Baixada para criação de uma base de dados atualizada. "Estamos fazendo agora, agora. Já passou o seu tempo, Pezão", rebateu o senador Crivella, considerando o atual governo de ser clientelista e favorecer apenas a iniciativa privada.

Contratos com a Delta

O senador Crivella afirmou ter recebido 171 folhas de contratos e termos aditivos, supostamente irregulares, assinados entre o governo do Estado e a empreiteira Delta. "Esse contrato você [se dirigindo ao governador Pezão] não vai conseguir explicar. Tem contratos firmados sem licitação", afirmou Crivella. Pezão alegou que o governo do Estado está com sete anos de contas fechadas e atribuiu as acusações de Crivella a ações do novo aliado do senador - "que gosta de abrir processos". "Fizemos tudo dentro da lei. O Garotinho já está no divã discutindo a relação dele com Cabral, daqui a pouco o senhor [se dirigindo a Crivella] vai parar lá também. Vamos discutir os projetos para o futuro", rebateu o governador. 

Aliança Crivella/Anthony Garotinho

O ator Marcelo Madureira perguntou a Crivella sobre a aliança com a família Garotinho. O senador respondeu que "política não se faz sozinho", avaliando ainda que o ex-candidato do PR ao governo do Rio, Anthony Garotinho, tem legitimidade e o apoio tem como meta derrubar o governo do PMDB no Rio. "Ele [Garotinho] só me pediu para tirar o Pezão do governo, o que vou fazer com muito prazer", disse o senador. Crivella destacou que a atual gestão estadual está marcada pela corrupção, que na visão dele é um "câncer com metástase, que só pode ser vencido através de uma aliança forte. 

"O senhor fez a sua campanha e teve doação das grandes empreiteiras do pais, tem o apoio da Igreja Universal", disse Pezão na sua réplica, acusando Crivella de fazer uso da estrutura da Universal e misturar religião com política. "Isso que é um câncer", destacou Pezão, criticando as manifestações de fiéis e pastores evangélicos na Baixada, que durante um culto atacaram as ações do governo estadual. Crivella, na sua tréplica, afirmou que não aprovou a manifestação, mas ela é representativa da revolta popular contra o descaso do atual governo.  

 

Ativismo Gay

O convidado Silas Malafaia fez a sua pergunta para o governador Pezão, questionando se a sua gestão vai continuar dando privilégios ao "ativismo gay". O governador disse que respeita todos os avanços do seu partido e da sua equipe governamental, que todas as medidas tomadas foram aprovadas na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e se colocou desprovido de qualquer preconceito.

 

Educação

O cineasta José Padilha perguntou a Crivella sobre os seus planos para o setor da educação e investimentos para melhorar os índices do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Crivella disse que pretende, se eleito, valorizar os profissionais da área e investir mais nas unidades escolares da rede, especialmente na merenda escolar. "O que é investido hoje é muito pouco se comparado com Metrô, Maracanã", disse.

Pezão defendeu o desempenho da sua gestão no setor, garantindo novos investimentos e implementação do ensino em horário integral e profissionalizante. 

Terceiro bloco

Os candidatos responderam perguntas de jornalistas e representantes da Universidade Estácio de Sá, uma das apoiadoras do encontro.

Crivella respondeu ao questionamento da Revista Veja sobre um caso publicado em 2011, quando o senado solicitou ao Ministério das Relações Exteriores um passaporte especial para o chefe da Igreja Internacional da Graça de Deus, o pastor Romildo Ribeiro Soares, sem o evangélico ter qualquer atividade parlamentar. Crivella disse que teve essa iniciativa por considerar a missão de alguns líderes evangélicos também cultural, assim como acontece em outras religiões. 

O seu adversário Pezão considerou o episódio mais uma prova de que o senador confunde vida política com religião e se disse perseguido pela Rede Record, que segundo ele discrimina a sua candidatura. Já Crivella se disse perseguido por outro jornal carioca. 

Pezão voltou a comentar o envolvimento do seu enteado, Roberto Horta Salles, que advogou em processos trabalhistas para a empreiteira Delta Construções e também para a JRO Pavimentação, sediada em Piraí, cidade natal de Pezão. Segundo reportagens da Veja, foram 13 contratos com o governo do estado desde 2004, contabilizando R$ 99 milhões.


Mamãe Crivella no debate 

O presidente da OAB-RJ, Felipe Santa Cruz, questionou os candidatos quanto à redução da maioridade penal, se são favoráveis a medida. Ambos se posicionaram contra. Pezão, no entanto, defendeu o endurecimento da pena para crimes hediondos. 

Em seguida, surgiu um tema inusitado, que arrancou risadas da plateia. Crivella respondeu a Pezão sobre um comentário feito pelo governador da mãe do senador. "E sobre a minha mãe, Pezão, ela gosta de você, te acha um bom filho. Mas eu falei com ela: mamãe, mamãe, ele é um bom moço, vamos orar por ele. Agora de sua mãe se candidatasse, eu votava nela", brincou Crivella. 

Pezão rebateu: "Voto é secreto e a sua mãe votou em mim, te traiu Crivella".