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'El País' cita denúncias no Brasil, enquanto Espanha vive crise

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O jornal espanhol El País publicou uma reportagem nesta quarta-feira (6), escrita por Carla Jiménez, na qual comenta as denúncias contra os candidatos à presidência no Brasil e como a campanha eleitoral na TV pode influenciar nas eleições. Tanto o candidato do PSDB, Aécio Neves, quanto a candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff, são mencionados por suposto envolvimento em casos ainda obscuros: o do aeroporto no município de Claudio, em Minas, e o da Petrobras e a refinaria de Pasadena, no Texas. 

Vale destacar que a Espanha vive uma crise sem precedentes, que envolve questões financeiras e escândalos na monarquia. Além dos problemas econômicos e sociais que afetam o país - onde em menos de cinco anos o PIB caiu de R$ 1,59 trilhões para R$ 1,34 trilhões  e o desemprego chegou a 22% - uma crise política e moral se instala: o rei Juan Carlos I abdicou o cargo, em junho deste ano, em favor do seu filho, príncipe Felipe de Borbón. A abdicação do trono é algo histórico. Nos últimos séculos, aconteceu somente seis vezes. Juan Carlos foi um rei muito popular, especialmente depois de se opor a um golpe de estado nos anos 80. Porém, sua aceitação caiu depois de diversos escândalos e da crise no país. 

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Entre as maiores polêmicas está o caso de sua filha, princesa Cristina, e o marido dela, Iñaki Urdangarin, que estão sendo investigados em um caso de corrupção. Porém, o comportamento pessoal do rei também criou polêmica nos últimos anos. 

Presidente de honra de uma das maiores ONGs de ambientalistas do mundo, a WWF, o rei foi caçar elefantes em um safári em Botsuana, em 2012. Depois de muita repercussão e uma petição na internet, ele acabou sendo destituído de seu cargo na instituição. 

Os episódios de infidelidade do monarca muitas vezes foram acobertados pela imprensa espanhola, até o safári de Botsuana. Nas polêmicas fotos tiradas após a caça, o rei aparece ao lado da princesa Corinna zu Sayn-Wittgenstein. A imprensa tomou as dores da rainha Sofía e o caso extraconjugal foi conhecido no mundo inteiro. Além disso, pelo menos duas pessoas alegam que são filhos do rei. 

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Após entregar o trono na Espanha em 2 de junho deste ano, Juan Carlos enfrenta agora a possibilidade de responder a processos de reconhecimento de paternidade. As cortes espanholas aprovaram em julho duas emendas da reforma judicial que garantiriam proteção especial a Juan Carlos, a sua esposa Sofia e a princesa da Astúrias, Leonor. Com essa medida, somente o Supremo Tribunal da Espanha poderia julgá-los. Apesar disso, o Supremo estuda se irá julgar um processo de paternidade apresentado por um garçom chamado Alberto Solà Jiménez. A primeira vez que Juan tentou entrar com um processo de paternidade aconteceu em 2012. Além dele, a belga Ingrid Jeanne Satiau também afirmaria ser filha do ex-rei.

Alberto Solà Jiménez, de 58 anos, foi adotado na infância e alega que afirma que sua mãe biológica teve um relacionamento com Juan Carlos antes que ele estivesse ocupando o trono. A primeira tentativa de iniciar um processo de reconhecimento de paternidade foi rejeitada por um juiz, devido ao fato de a Constituição espanhola de 1978 conceder ao chefe de Estado imunidade total dos processos judiciais.

Em 2013, Jiménez, o garçom voltou aos tribunais insistindo no caso, mas novamente os mesmos critérios foram apresentados inviabilizando o processo, dessa vez por outro juiz. O garçom recorreu da nova decisão e o processo de paternidade ficou pendente.

Apesar de analistas afirmarem que as emendas teriam sido sugeridas pelo primeiro-ministro, Mariano Rajoy, justamente para proteger Juan Carlos de responder aos dois processos de paternidade que se encontravam parados na Justiça desde a época em que ele era rei, ainda não é certo que as emendas terão esse efeito. O Supremo Tribunal deverá anunciar ainda se essa questão da imunidade do ex-chefe de Estado será estendida a alçada de assuntos pessoais. Outro ponto que o Supremo deverá decidir é se o Juan Carlos terá proteção em casos datados antes e depois de se tornar rei da Espanha.

Apesar disso, o advogado responsável por Jiménez, Francesc Bueno Celdrán, não alimenta grandes expectativas sobre a possibilidade de o caso ser julgado pelo Supremo. Mas não quer dizer que o caso esteja sendo considerado perdido: caso o processo de paternidade não seja considerado na Espanha, o advogado pretende levar o caso do garçom para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.