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Agressividade e acusações predominam no penúltimo debate em Salvador

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O penúltimo debate da corrida municipal em Salvador, realizado na noite desta quarta-feira pela TV Aratu/SBT, foi novamente marcado pela repetida troca de acusações entre os candidatos ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (PT), deixando as propostas para a futura gestão da cidade em segundo plano. 

Termos como mentiroso e fracassado foram usados repetidas vezes, e no ápice da irritação, o candidato do DEM chegou a pedir que o petista respeitasse a memória dos mortos de sua família. A novidade da noite foi o convite feito às candidatas a vice-prefeitas, Célia Sacramento (PV) e Olívia Santana (PCdoB), a participarem da rodada de discussões.

A estratégia de Nelson Pelegrino, de associar ACM Neto ao atual prefeito João Henrique Carneiro (PP), que finaliza seu segundo mandato com baixíssima popularidade e envolvido em escândalos institucionais, foi mantida. O petista voltou a acusar Neto de cooptar o secretário de Educação do município, João Carlos Bacelar (PTN) para apoiar sua campanha. "Estão fazendo do órgão um comitê de campanha e isso é gravíssimo", acusou. A denúncia chegou a ser investigada pelo diretório nacional do partido, que optou por arquivar o caso.

Neto seguiu negando ter recebido qualquer apoio de João Henrique. Além disso, fez questão de citar declarações públicas de Pelegrino e do governador Jaques Wagner (PT) em relação ao atual prefeito e ao próprio secretário de Educação. "Eu posso lhe enviar o vídeo onde o senhor afirma que gostaria de receber o apoio de João Henrique", provocou.

Para reafirmar a posição, pela primeira vez o candidato do DEM fez uma crítica aberta à atual gestão e confirmou alguma participação na gestão atual. "Eu acho, sim, que a administração de Salvador vai mal, e confesso que indiquei nome para a atual gestão. Foi Cláudio Tinoco, da Saltur. E foi só", finalizou.

Em um dos poucos momentos em que se ateve às propostas para a cidade, Nelson Pelegrino prometeu armar a Guarda Municipal e trabalhar em parceria com o governo estadual no projeto das Bases Comunitárias de Segurança, inspiradas nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) cariocas, que começaram a funcionar em Salvador em 2011.

A autonomia da futura administração foi tema de pergunta aos dois candidatos. No caso de Pelegrino, quem colocou a questão foi o mediador do debate, o jornalista Casemiro Neto, que afirmou que o discurso de alinhamento do candidato dá a impressão de que ele não será capaz de gerir Salvador sozinho.

"Terei um governo de harmonia, mas sou independente", garantiu. O mesmo foi dito por ACM Neto, que é apoiado pelo PMDB baiano. "Claro que, se for eleito, vou a Brasília pedir apoio ao vice-presidente da república (Michel Temer, do PMDB), mas não preciso de muleta para governar", garantiu o candidato.

O acesso às verbas do governo federal também voltou à baila, dando a Nelson Pelegrino a chance de dizer que estar mais perto da presidente Dilma Rousseff (PT) é uma maneira de conseguir mais recursos para a cidade. O resultado: mais provocação.

"Não quero acreditar que a presidente vai passar por cima da Constituição Federal e achar que esse dinheiro pertence ao partido dela. Então, as 19 capitais onde o PT não elegeu prefeitos vão parar", atacou Neto, claro que, sem os recursos da esfera federal, Salvador pode sofrer nos próximos quarto anos.

O esperado confronto entre as candidatas a vice, Célia Sacramento (PV) e Olívia Santana (PCdoB), seguiu o clima tenso. Primeira a falar, Olívia acusou a adversária de deixar de lado sua militância pela causa negra em prol de um projeto político. Combativa, Célia afirmou que a postura do DEM na Bahia em relação a questões como as cotas é clara. "Já provamos na Justiça que ACM Neto foi a favor das cotas, do Prouni e da licença maternidade de seis meses desde o início. Essa é uma discussão vazia e a política mudou", defendeu-se.

Na pergunta de retorno, Célia Sacramento levantou o assunto do mensalão para cobrar políticas de combate à corrupção, mas foi respondida em tom de poucos amigos. "Nem o PV nem o DEM têm moral pra falar de corrupção", declarou Olívia Santana.

Célia Sacramento fez questão de lembrar ainda que a presença da opositora na chapa de Nelson Pelegrino não foi espontânea. "Olívia foi escolhida depois que Neto me escolheu para vice, uma mulher negra. Todos sabem que antes disso o nome dela, que tem uma história importante, não era sequer cogitado", disse.

De fato, no início das tratativas para a formação da chapa, o nome fechado era o da também comunista Alice Portugal, que deu lugar à companheira de partido em nome da identificação da campanha com minorias relevantes no eleitorado de Salvador.