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No Rio, PMDB e Lindbergh saem como vencedores; Garotinho perde força

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Com a inegável influência da corrida pelo governo do estado, a disputa pelas prefeituras do interior do Rio de Janeiro foi encarada pelos principais caciques políticos do estado como essencial para as candidaturas de seus partidos em 2014. Neste cenário, os especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil consideram o PMDB, de Sérgio Cabral e Jorge Picciani, e o petista Lindbergh Farias como os grandes vencedores do pleito. Por outro lado, o ex-governador Anthony Garotinho (PR) vê seu projeto político naufragar.

O PMDB continua dominando as prefeituras do estado, embora tenha perdido terreno. O partido do governador Sérgio Cabral tinha 33 cidades sob o seu poder, mas conseguiu garantir 22 em primeiro turno e ainda disputará no segundo turno outras quatro. O PT passou a ser a segunda força. Se antes eram 11 prefeitos do partido, agora já são dez petistas eleitos e outros dois ainda com chances. 

No outro extremo, PP, PSDB e DEM estão em franco declínio no Rio. Os tucanos, que tinham oito prefeituras em 2008, conseguiram manter apenas duas. O DEM, que tinha cinco, caiu para o mesmo número. Já o PP, do senador Francisco Dornelles, continua com o bom número de oito prefeituras, mas perdeu seis cidades e foi ultrapassado pelo PT.

Segundo o cientista político Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o tabuleiro para 2014 está mais definido:

"Os grandes vitoriosos são o governador Sérgio Cabral e o senador Lindbergh Farias. Garotinho saiu derrotado no interior, com exceção de Campos, e Cesar Maia perdeu no Grande Rio. São duas lideranças que morreram politicamente", avalia.

Já Eurico Figueiredo, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), vê uma maior divisão entre os partidos políticos:

"Existe uma grande dispersão de votos, mostrando que o sistema brasileiro é multipartidário mesmo e tem acolhida para o localismo. Sete partidos que não têm uma representação nacional conseguem ter no estado. Se você fizer um raio-X a partir daí, a votação no estado é muito conservadora", explica.

Candidatura de Lindbergh fica mais viável com resistência de Paes a concorrer

Para os analistas, as chances de Lindbergh Farias (PT) concorrer ao governo do estado aumentaram depois do resultado das eleições de 2012. Ao mesmo tempo que seu nome teria saído em alta, a falta de um nome de peso no PMDB o ajuda:

"O nome do PMDB não será Eduardo Paes, porque ele parece ter consciência de que sai dessa eleição como uma liderança estadual e até nacional. Para os interesses da presidente Dilma é estratégico o apoio de Paes como prefeito em 2014. O PMDB saiu em desvantagem por não ter outro nome forte para colocar", argumenta. Para ele, existe a chance de Lindbergh ser esse nome, invertendo a aliança que governou nos últimos seis anos.

Figueiredo vê a situação de forma semelhante. Para ele, a prentesão do petista está atrelada à decisão do atual prefeito do Rio:

"Paes poderia se candidatar, mas vai ter que fazer uma opção se ele quer ser o prefeito da Copa e da Olimpíada ou governador. Ele tem cacife para isso e possivelmente será governador, se quiser. Caso mantenha a opção de seguir no cargo, sobra espaço para Lindbergh, inclusive porque ele pode aspirar ter o apoio de Dilma e Lula", explica.

O cientista político destaca o "talento político" do ex-líder estudantil e considera o flerte com o PSB, do governador pernambucano Eduardo Campos, como um trunfo para seu objetivo: 

"Lindbergh conseguiu ser prefeito de Nova Iguaçu sem ter nenhuma passagem pela cidade e se elegeu senador disputando com o PMDB. Ele demonstrou um talento político que muitos duvidavam existir. Acho que essa opção do PSB é uma carta no colete do senador. Se ele conseguir o apoio do PT, não sai do partido. Ninguém abandona quem tem a caneta. Mas se não conseguir isso, pode sim fazer essa opção perigosa", completa.

PSOL  se afirma como opção de esquerda

Os analistas também afirmam que o capital político conquistado pelo PSOL nestas eleições - bem votado na capital e em Niterói - colocam o partido como o grande partido de oposição de esquerda, ocupando o papel deixado pelo PT há uma década.

O nome de Marcelo Freixo, dono de mais de 900 mil votos no Rio de Janeiro, passou a  ter abrangência significativa, colocando-se como uma opção para a disputa do governo estadual. Os especialistas divergem quanto ao futuro político do deputado estadual, mas concordam que ele representa a mudança de discurso do partido, que abandonou a extrema esquerda e passou a se pautar pela defesa da ética na política e da democracia, inspirado pela Lei da Ficha Limpa:

"O PSOL foi muito bem votado no Rio, em Niterói e em alguns outros lugares. Mas não conseguiram isso com o seu discurso tradicional. Eles se fixaram na questão da ética, na nova política, no trabalho e na coragem. O PSOL tem uma nova cara, embora não tenha mudado seu conteúdo programático", diz Baía, que considera Freixo e o senador Randolfe Rodrigues (AP) símbolos dessa nova face psolista.

Para ele, o partido deve ter uma candidatura competitiva ao governo, embora acredite que Freixo não irá participar do processo. Deve tentar uma cadeira na Câmara federal:

"Acho que o PSOL vai lançar uma chapa forte e disputar na região metropolitana e em alguns locais, onde há margem para este voto mais à esquerda. Eles vão ousar e tentarão aumentar a bancada federal para algo como quatro ou cinco parlamentares. Acredito também que vai haver uma luta interna para desradicalizar o discurso. O que está norteando o PSOL hoje é a Lei da Ficha Limpa", conclui.

Já Eurico Figueiredo vê como provável uma candidatura de Freixo ao Palácio Guanabara. Sua votação na capital já representaria cerca de 10% dos votos do estado, mesmo patamar alcançado por Fernando Peregrino, apoiado por Garotinho em 2010: 

"Acho que Freixo vai ser candidato a governador. Não sei se ele vai se arriscar e tentar ser governador ou buscar um mandato como deputado federal. Caso não seja o nome do partido, o candidato deve ser um nome como Plínio de Arruda Sampaio ou Milton Temer, pessoas com história e condições de levar à frente esse discurso de ética na política que encontrou receptividade no Rio", opina.

Figueiredo diz que ainda não é a hora do partido se afirmar definitivamente. Para ele, mesmo com "a tendência de ser purista e não aceitar qualquer um", outros políticos de esquerda devem migrar para a legenda: "O PSOL é um partido que está maturando para daqui há 10 anos", encerra.