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Fake news. Não é de hoje

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A ameaça de utilização de fake news para perturbar, ou mesmo comprometer o processo eleitoral de outubro, ainda provoca e divide opiniões e temores, porque, se para muitos essa prática é ruinosa, principalmente quando envolve milhões de pessoas, outros asseguram que há exagero na previsão de riscos; e, com base em tal observação, a Justiça Eleitoral não devia emprestar ao problema mais do que ele realmente estaria a merecer. Mas tanto comentaristas como assessores de alguns presidenciáveis concluem que, sendo difícil evitar o mal na sua origem, na raiz, que então o Tribunal Superior Eleitoral se dedique a uma intensa campanha de advertência à sociedade: cuidado ao captar o que ouve, porque em muitas vezes não houve. 

O ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux advertiu para danos possíveis. Não disse, mas lembraram muitos que o apoiaram, que parte dos eleitores brasileiros mostra-se susceptível aos boatos, principalmente quando eles vêm em ondas pelos meios eletrônicos. Seria uma tendência, de certo modo mórbida, para preferir conhecer o que é prejudicial e indesejável. Se a notícia do bem é suave, a que traz coisas desagradáveis sempre chega com conteúdo sensacionalista; e com isso acaba se impondo. 

Aos que reduzem a importância das falsas notícias e sua capacidade de gerar grandes confusões, talvez sirva de tema para reflexão o fato de que elas, há muito, são gravemente lesivas, antes mesmo de serem conhecidas com essa expressão inglesa, que hoje se alastra pelo mundo. Foi na eleição presidencial de 1945, quando os boatos, sem a internet, cavalgavam pelas ondas do rádio ou pelas mãos dos panfletários. 

O patrono nacional de fake news, Hugo Borghi, homem de confiança do governo, espalhou pelo Brasil afora que o oposicionista Brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da União Democrática Nacional, havia dispensado o voto dos “marmiteiros”, referência ao eleitor pobre do operariado. Nunca disso isso, mas foi o que contribuiu para derrotá-lo. Os adversários dele, aproveitando a onda, até adotaram na lapela do paletó, como símbolo, maldoso bóton com o desenho da marmita. 

Não diferentemente das más intenções, na Segunda Guerra Mundial, os alemães, desejando afetar o moral dos pracinhas, distribuíam folhetos insinuando mau comportamento das esposas, que haviam deixado no Brasil. Certamente provocou abalo em muitos. Fake news já visível no passado. 

Se a campanha inspirada na mentira ajudou a eleger o presidente Gaspar Dutra, pondera-se que, mais de sete décadas passadas, o cidadão mostra-se experiente e escolado, não cederia tão facilmente à desinformação e à maldade. Pode ser, mas, ainda agora, o Ministério da Saúde promove o balanço dos prejuízos causados por inverdades que, no ano passado, frequentaram a internet sobre enfermidades e campanhas de vacinação. Lamentável, mas demonstrado está que os boatos “pegam”, são mais contagiosos que qualquer doença. É preciso ter cuidado, promovendo-se um movimento político de imunização. 

Quanto às lesões que podem ser causadas ao processo eleitoral - tanto na campanha como em véspera de votação –, uma importância especial há que se destinar às pesquisas sobre as simpatias em relação aos candidatos, sobretudo os que disputam a Presidência da República e a governadoria dos estados. Nem todos os institutos que vão a campo são suficientemente confiáveis, nunca faltando casos em que os números são ajustados, na undécima hora para prever vitórias forjadas. A legislação estabeleceu, em boa hora, que as pesquisas, tecnicamente demonstradas, dependem de prévio registro para serem publicadas. Ajudou muito a conter a fraude. Ainda assim, todo cuidado é pouco.