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Convenções fora de forma

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As convenções partidárias, que começam nesta semana para se estenderem até 5 de agosto, figuram entre os itens da organização política brasileira ainda dependentes de revisão e atualização; porque continuam padecendo de um defeito que se agravou nas três últimas décadas, por excluir o papel dos filiados em  momentos decisivos. Vai se ver agora, como se viu em tempos eleitorais passados, que as convenções podem ter de tudo, menos a participação das bases, o que acaba por conferir um forte conteúdo de inautenticidade aos partidos, cada vez mais numerosos, cada vez mais superficiais. Os filiados sofrem o papel de exclusão, sendo chamados apenas quando tudo já se decidiu na intimidade dos gabinetes dos dirigentes.

A consulta às bases, concedendo-lhes voz e vez na condução e nos destinos do partido, é uma raridade. Talvez excetuado o PT, possa-se dizer que a imposição oligárquica é um defeito que se generalizou, depois de herdado dos tempos da Monarquia, quando o direito de fazer ou desfazer cabia apenas aos conselheiros. Tudo transcorrendo sem real preocupação com os filiados, que, pelo menos em tese, dão vida ao partido. Em direção oposta, o que se sente na intenção dos dirigentes é, cada vez mais, tornar dispensável a participação do correligionário que, convidado, aceitou integrar o colegiado da base. Tanto que, há alguns anos, cuidou-se da redução do quórum de convencionais para 20%  dos inscritos, então exigível para que fossem reconhecidas as decisões tomadas em plenário. Nem isso tem sido considerado, sob as bênçãos da legislação eleitoral, sempre acessível a imposições dos dirigentes. 

No correr dos próximos vinte dias outra coisa não se constatará, para justificar a preocupação de quem considera viciada a organização partidária brasileira, que, se muitos defeito tem, o primeiro deles é exatamente o tratamento nada respeitoso a que estão condenados os agentes da estrutura; problema menos grave nos pequenos e médios municípios, porque neles as disputas pela liderança e pelo mando político são mais vivas; os grupos internos das legendas estão em choque permanente. 

Vale outra observação, de relevada pertinência, quando se percebe que os partidos deixaram escapar seu prestígio junto à sociedade organizada, como revelou recente pesquisa, instalando-os como a mais desacreditada entre as instituições nacionais. Porque tornaram-se peças artificiais, sem as bases para oxigená-las. O problema avança para aspectos mais graves, como a carência de programas objetivos a serem submetido ao eleitorado, e, ainda na conta dos desdobramentos inoportunos, a fulanização, isto é, impõe-se a quem vota estar obrigado a submeter-se a nomes, antes de planos e ideias. 

Para se recorrer a um dado do momento, ainda na apreciação das convenções, observe-se a conduta dos dirigentes em relação aos pré-candidatos a governador e à presidência da República. As consultas e negociações para se celebrarem as alianças regem-se sempre em gabinetes fechados. E os acertos conduzidos na rota das compensações, ou para a indicação de candidatos ao Senado, o nome do vice ou, ainda, dependente de conversas futuras,  a garantia de espaços no Ministério e no Secretariado possíveis. Tudo colocado em mesas distantes dos convencionais. As bases são convocadas para o momento das palmas. E deem-se por satisfeitas. 

A reforma política, de que tanto se em falado, nunca dedicou uma cota de interesse e preocupação às convenções partidárias; um pouco porque os que podem promovê-las são exatamente os que gostariam que as coisas permaneçam como estão. Demais, elas só ocorrem de dois em dois anos, e são facilmente esquecidas; elas  e todos os seus defeito