ASSINE
search button

Petrobras: da pilhagem à justa greve

Compartilhar

Quem é o dono da Petrobras? Legalmente, é o povo, seu maior acionista, através do Estado Brasileiro. Mas, então, sendo o povo o “dono” da maior empresa do país, por que ela estaria agindo contra seu próprio acionista, aumentando os preços dos produtos acima da inflação e reajustando-os pela variação e paridade ao dólar? 

A base para essa política, implantada pela atual diretoria, comandada pelo senhor Pedro Parente, é um grande equívoco, por princípio contábil, mas principalmente por ir contra os interesses do “dono” da empresa, o povo brasileiro. 

A Petrobras produz cerca de 2,5 milhões de barris/ dia. O custo desse processo de extração e industrialização de derivados é composto, basicamente, de reais (salários, impostos, boa parte dos equipamentos, logística etc.). A decisão do senhor Parente, de atrelar o preço de venda do diesel e todos os demais produtos ao dólar, gera uma distorção que acaba, claro, na bomba do posto, no bolso do consumidor brasileiro. O resultado “benéfico” dessa política para o caixa da empresa mostra uma forte, mas fictícia geração de caixa, dando demonstração de “tranquilidade” para especuladores  e para os bancos. Para o povo brasileiro, o resultado foi essa greve de caminhoneiros, que parou o país. 

Em outras palavras, o senhor Pedro Parente quer vender em dólar o que paga e produz em real, sob a alegação de que o produto petróleo é cotado, internacionalmente, na moeda americana e, por paridade, o consumidor brasileiro tem de arcar com esse insustentável custo. O Brasil é autossuficiente e exportador do produto. Se fosse o inverso, como no passado, ou seja, se fôssemos importadores de petróleo, seria justificável o reajuste do diesel, da gasolina e de derivados pela variação cambial. 

Tão importante quanto o prejuízo imposto ao consumidor brasileiro pela política de paridade aplicada pelo senhor Parente, em relação aos preços internacionais do petróleo, é o fato de que a estatal exporta cerca de 400 mil barris/dia – o equivalente a 20% de sua produção de óleo bruto – para importar o equivalente em diesel e gasolina. Até aí, nada demais, pois exportaria se fosse o excedente. Mas esse não é o caso. O que é mais grave e suspeito é o resultado dessa nefasta política para a empresa e para o país, comprovada pela ociosidade de 28% na capacidade de produção de suas refinarias. Em outras, palavras, o que a empresa exporta poderia ser refinado aqui, criando renda, empregos e impostos para brasileiros. E, o mais importante, a um preço bem mais competitivo do que a estatal paga pelos produtos que importa. Um total contrassenso. Por esse motivo é imprescindível que a Petrobras pare imediatamente com essa política suicida e volte a refinar aqui, para ocupar a capacidade ociosa de suas refinarias . Brazil first, senhor Parente! 

E, convenhamos, se for essa a prática para apuração de custos e formação de preço, vários outros setores da indústria nacional deveriam reajustar seus produtos em dólar. Ou seja, os produtores brasileiros de frango, carne, automóveis, aparelhos eletrônicos etc. também poderiam reajustar seus preços, diariamente, pela moeda americana, pois são produtos de nossa pauta de exportação. Por que não? Tudo isso é cotado em dólar no mercado internacional. Sem nos esquecermos que as companhias aéreas brasileiras são obrigadas a pagar, pelo combustível, 40% mais do que as concorrentes estrangeiras. O senhor Parente, além de causar um desastre na economia brasileira, dá um péssimo exemplo ao dolarizar os produtos da Petrobras. 

Exportar petróleo para importar derivados, só traz um resultado: abertura para refinarias estrangeiras tomarem o mercado da Petrobras, causando, aqui, desemprego e aumento dos produtos importados nos postos, como está acontecendo, motivo da greve dos caminhoneiros. E, o mais grave, desarticulando toda a cadeia de transporte rodoviário brasileiro, aliás, o único modal, de fato, existente em nosso país. Diferentemente do Japão, Alemanha e tantos países não produtores de petróleo e que, por esse motivo, são obrigados a cobrar do consumidor o preço do  mercado internacional. O Brasil, reiteramos, é autossuficiente e exportador do produto.  

A Petrobras foi e continua sendo fundamental na história do desenvolvimento econômico do Brasil. Não só pela importância do produto que explora, processa e vende – o petróleo –, mas pelo monopólio que sempre exerceu e, principalmente, pelo volume de recursos que investe e fatura; o que influencia, de forma direta e indireta, a todos os demais setores da economia nacional. Sua liderança no PIB brasileiro é inquestionável. Mas não devemos deixar de reconhecer que a Petrobras conseguiu crescer e ser o que é por sua competência científica e também pelo volume de recursos investidos e disponibilizados pela nação, através do monopólio que exerceu na exploração e que ainda permanece no refino, onde detém 95% do mercado.  Antes de se tentar sacrificar e atribuir à empresa todos os males, por ser ela estatal, vale uma constatação sobre políticas nacionais de desenvolvimento: na Europa, particularmente na França, Itália, Noruega e outros, todas as principais empresas de energia são estatais. 

No caso brasileiro, a Petrobras demonstrou para o mundo sua competência ao descobrir e explorar petróleo em águas territoriais brasileiras, em profundidade jamais imaginada e passível de extração. Bateu todos os recordes e é líder mundial nessa tecnologia, proporcionando ao país a tão sonhada autossuficiência em petróleo. Como homenagem, lembramos aqui do nome de Carlos Walter, um dos mais importantes geólogos da história da empresa e um dos maiores responsáveis pelas descobertas das grandes reservas de petróleo em nossa bacia continental. 

A empresa dispõe de cientistas e engenheiros responsáveis por esse sucesso. Ainda que totalmente desconhecidos pelo público, eles seriam motivo de orgulho para qualquer universidade de ponta no mundo. Seu quadro de funcionários, de alto nível, é remunerado de acordo com o que pagam suas competidoras internacionais. Fala-se muito em grandes salários e privilégios dos empregados da estatal. Se, vis-à-vis o salário médio do trabalhador brasileiro, o empregado da Petrobras vive em outro planeta; quando comparado à concorrência, a remuneração se mostra absolutamente compatível. Um engenheiro da estatal brasileira não ganha e não custa mais, por exemplo, do que um engenheiro da holandesa Shell. 

Assim, o problema da maior empresa do Brasil não se localiza nos custos de pessoal, muito menos de produção, sabido que o custo médio do barril de óleo extraído pela estatal é, a rigor, igual ou mais barato do que qualquer outra grande empresa do setor. O problema da Petrobras encontra-se nas decisões tomadas por seu acionista controlador, ou seja, o governo e os políticos brasileiros.

 Prova disso é que, nos últimos 30 anos, quem nomeou, “em nome do povo”,  dono da Petrobras, as mais importantes diretorias da estatal, foram os principais líderes do MDB, tais como Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Jader Barbalho, Sérgio Cabral, Edson Lobão, Romero Jucá etc. Mas também do PSDB , PP e outros. 

Vale lembrar que os ministros do presidente Fernando Henrique Cardoso, que nomearam diretorias da Petrobras durante a gestão tucana (Renan Calheiros, Romero Jucá, Eliseu Padilha e outros), foram, também, ministros de Lula. Ou seja, sempre os mesmos “representantes” do acionista e dono da estatal, o povo. São essas personalidades e mais tantas outras, muitas delas presas, como Eduardo Cunha, as responsáveis por tudo o que aconteceu na estatal e que a nação, estarrecida, tomou conhecimento. O que poderíamos esperar desses personagens que há décadas mandam no país e no aparelho do Estado? 

É incontestável que a pilhagem na Petrobras foi acentuada e, finalmente, descoberta, por ordem de políticos durante os governos PT. Mas essa infeliz constatação decorre do fato de que a empresa, que produzia 800 mil barris no governo FHC, pulou para mais de 2 milhões durante os governos Lula e Dilma. Em outras palavras, a pilhagem sempre existiu, mas amplificada com o crescimento da empresa nos últimos 15 anos. 

Na Petrobras, os políticos roubam desde sempre, quando nomeiam bandidos para sua diretoria. E o mais grave e triste: empregados da empresa são cooptados para fazer parte de quadrilhas organizadas. As diretorias, com funcionários concursados e de carreira, são (foram) nomeadas por políticos. E, para serem diretores, esses mesmos funcionários só podiam autorizar a compra de bens e serviços com ordem dos políticos que as indicavam.  Aí encontra-se o resultado da roubalheira que levou a estatal a apresentar os piores resultados de sua história. Assim, por pressão e acordos políticos espúrios foram nomeados Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró, Renato Duque, Pedro Barusco etc., todos funcionários concursados da estatal. Todos presos pela Lava Jato por roubo e lavagem de dinheiro. Todos roubaram, em conluio com as empreiteiras Odebrecht, Queiroz Galvão, OAS e outras, sem contar as multinacionais, como a holandesa SBM, que já fizeram acordo de leniência para devolver centenas de milhões dos dólares que roubaram da Petrobras. 

Pedro Parente não faz parte desse grupo de ladrões. Mas está presidente para gerar um forte caixa, via reajuste de preços dos produtos pelo dólar, que tem como objetivo atender, exclusivamente, aos bancos e aos grandes especuladores. Logrou êxito, o senhor Parente, que não tem nenhum compromisso com o “dono” da estatal, o povo brasileiro, mas que teve, como resposta, a justa greve dos caminhoneiros que paralisou o país e desarticulou o abastecimento de toda a cadeia produtiva de nossa economia. 

Quanto vai custar tudo isso à nação, pouco importa para Pedro Parente. Para ele, o que importa, via venda de ativos e correção dos produtos pelo dólar, é o lucro que está “conseguindo mostrar” para os grandes bancos, incluindo o pagamento de R$ 2 bilhões que teriam sido feitos, antecipadamente, ao banco americano JP Morgan, onde trabalha sócio do presidente da Petrobras.  A conferir. 

Resumo da opereta:  a Petrobras é uma grande empresa, orgulho nacional. Quem não presta são os governos que a administram, em nome de seu acionista majoritário, o povo brasileiro.