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Pecados e pecadores

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Há desafios, alguns bem antigos, outros da atualidade, que conseguem se esquivar das soluções reclamadas pelo país; por que persistem, surgem deles permanentes apelos, que se fazem sentir, mesmo que à sombra de uma certa inconsciência coletiva. É o que valeria recordar, na atual temporada de guerra à falta de compostura mínima da parte de agentes políticos e altos executivos. Essa campanha é a que se fica a dever a juízes honrados, alguns delegados de polícia, Ministério Público e certos ministros do Supremo Tribunal Federal.    

Sem a exclusão da importância da caça aos corruptos, ainda não foi possível vislumbrar, muito menos garantir, a despeito de inarredável prioridade, o conjunto de medidas destinadas a destruir a poderosa e complexa máquina que produz a corrupção avassaladora. Por ora, estamos atirando contra os protagonistas, mas permitindo que fique no ar essa novela de imoralidade explícita, não recomendada para menores de cem anos.    

Faz sentido a preocupação, que vai prosperando nesse particular. A razão se sustenta na objetividade, porque, ainda que fosse possível prender todos os contumazes criminosos do colarinho branco, nada mais acabará resultando proveitoso para a nação, a longo prazo, se não for desarticulada a engrenagem da indústria perniciosa. Sendo a tarefa de desmontá-la multifacetada, deve, portanto, caber, indistintamente, aos três poderes constituídos. Mas bem que poderia principiar nos gabinetes do Executivo, com o enxugamento da monumental burocracia, que se especializou em elaborar entraves, para oferecer soluções ao aceno das propinas. Animal raro e exótico é o burocrata federal que não seja perito em gentilezas remuneradas.   

Para efeito de imaginação e esperança, admita-se que possamos chegar ao glorioso dia em que estarão removidos da vida púbica todos os criminosos, esses que hoje enojam os brasileiros honestos. Pois, não é conveniente descuidar de que outros maus viriam a ocupar as vagas deixadas pelos presos ou demitidos. Impõe-se, portanto, agir sem demora e sem dificuldades, porque os instrumentos que facilitam e até estimulam a corrupção permanecem intocados.     

A sucessão na senda do crime dos gabinetes haverá de se operar com a mesma desenvoltura e rapidez que se observa no tráfico de entorpecentes (permitido comparar, apenas para efeito de argumentação): o chefe que hoje é abatido no confronto com a polícia, amanhã já tem substituto definido e empossado. E os novos corruptos, admita-se, devem chegar certamente mais escolados, para não cometer os mesmos descuidos. Veem, fora de cena, o que acontece em Curitiba, e traçam logo o mapa a instruí-los como passar distantes dos canhões do juiz Moro e do Ministério Público.    

É esta a preocupação a reivindicar atenções de governantes honestos, que ainda existem e persistem. Sabem eles, perfeitamente demonstrado, que seria insuficiente abrir fogo contra os pecadores, mas deixando à solta o pecado. Triste perceber, há da parte dos três poderes, certo comodismo para dificultar o acesso suspeito aos editais de licitação, o assalto às estatais e aos fundo de previdência. O que estranha, porque é nesse campo que a corrupção tem revelado gorduras prósperas.  

 A propina – doloroso reconhecer - tornou-se ativa instituição nas relações entre os agentes de governo, empresários e prestadores de serviços gerais; pratica-se mais facilmente, quando consegue agir à sombra dos desgovernos.