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Tensões dispensáveis

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Parece haver temor, latente, muitas vezes apenas murmurado, sobre o risco da aproximação de uma campanha tumultuada, considerados fatores diversos que estariam contribuindo nesse sentido. Para alguns, os mais pessimistas, que se colocam nos pontos extremos de observação, o perigo já estaria acima do que se imagina. Contudo, qualquer que seja sua intensidade, basta que exista, mais ou menos, para ser considerado objeto de interesse comum. 

Há que se cobrar, então, um esforço persistente de todos os setores de responsabilidade política, do presidente da República aos mais modestos dirigentes municipais, para que o país não se veja sob ameaça de acidentes institucionais, logo agora, quando se avizinha o certame eleitoral, com suas prometidas peculiaridades. Para citar o dado mais sensível do momento: está trancafiando um ex-presidente da República, acusado de corrupção. Este pode ser o dado a mais a ampliar a faixa de risco, nunca tão indesejado, como nesta hora, quando se sinalizam, ainda que raquíticos, os resultados da recuperação econômica. A prisão de Lula é, por si só, sem o adjutório de outros fenômenos, instrumento de tensão, seja qual for sua vontade pessoal de participar.

O embate eleitoral, se associado a esse fato inédito de o candidato melhor posicionado nas pesquisas poder estar ausente do processo, facilita tropeços de anormalidade; a anormalidade que, presente ampla ou parcialmente, se faz acompanhar de situações de difícil superação. 

Recorra-se à crônica política. É onde se sente que, soprados os ventos da disputa presidencial, o clima tende a absorver acirramentos. Divergências ou diferenças, anteriormente administráveis, deslocam-se rapidamente para o campo da intolerância, e, não raro, é a hora de a paz institucional ser colocada à prova. 

Já suficientemente amadurecidos para saber como os conflitos devem ser confinados nos limites do que convém à democracia, o que, em última análise, cabe fazer, aos agentes políticos e aos candidatos, esses antes de todos, é o respeito mútuo; respeito entre eles, que seja capaz de refletir em respeito ao eleitorado. 

Ainda para buscar no tempo uma lição que sempre vigeu: quando as lideranças fracassam na sua obrigação de conduzir uma campanha em bom nível, muito maior que um simples obséquio, o debate acaba resvalando para a violência. Foi o que sempre antecedeu momentos gravíssimos, que resultaram da ausência de diálogo, como sete dissoluções do Congresso Nacional, quatro governos provisórios, cinco deposições de presidentes, duas ditaduras e impedimento de posse de três presidentes. Para não se falar de 19 quarteladas! Antes, a esses acidentes antecedeu a quebra do mínimo de harmonia nas relações entre líderes emburrados, sem palavras. Não é outra coisa que se pode extrair da história desses 129 anos de solavancos republicanos. 

Hoje, como ontem, quando se apela a quem puder contribuir na remoção dos temores quanto ao clima eleitoral, seria improcedente dizer que são escassas as acidentadas experiências nessa seara vividas no Brasil. Evitar o aprofundamento das hostilidades é o dever que se impõe a quem possa oferecer uma cota de bons préstimos. Sem exclusões e sem diferentes medidas na linha dos deveres. Se todos têm responsabilidades na condução do debate político, todos são, desde agora, chamados a cumprir seu dever. O que inclui, não menos, vale insistir, os que em breve poderão ser tentados a dramatizar excessivamente os problemas, pregoeiros de um catastrofismo que também produz intranquilidades.