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Economia mundial à beira da guerra comercial

Lagarde adverte que medida dos EUA de impor tarifas elevadas afeta os mais pobres

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O governo dos Estados Unidos reavivou na quinta-feira a ameaça de uma guerra comercial ao anunciar a imposição de tarifas elevadas às importações de aço e alumínio da União Europeia (UE), Canadá e México, três de seus principais sócios comerciais, que já prometeram represálias.

A partir desta sexta-feira, os dois países vizinhos dos Estados Unidos e o bloco de 28 nações europeias perdem as isenções temporárias concedidas até agora para as importações e enfrentam tarifas de 25% para as importações de aço e 10% para o alumínio.

A notícia, anunciada pelo secretário do Comércio de Donald Trump, Wilbur Ross, gerou respostas imediatas e medidas de represália de México e Canadá, além de ameaças no mesmo sentido da UE.

A decisão protecionista de Trump também prejudica a reunião dos ministros das Finanças do G7, que começou na quinta-feira no Canadá.

As Bolsas registraram queda na quinta-feira ao redor do mundo.

A diretora geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, advertiu que a medida afetará os mais pobres. "Vai distorcer, prejudicar e interromper as cadeias de abastecimento vigentes por décadas", disse.

Mas o governo Trump, que em março passou a aplicar as tarifas por considerar que o excesso de oferta mundial de aço e alumínio representam um risco para a segurança nacional, defendeu a medida.

A Casa Branca afirmou em um comunicado que as tarifas já registraram e ainda terão "importantes efeitos positivos" para os trabalhadores no setor siderúrgico do país. Também expressou a disposição de seguir negociando "de boa fé" com os aliados, com os quais não chegou a um acordo.

Em Whistler, estação de esqui ao norte de Vancouver, o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, teve reuniões bilaterais, especialmente com o ministro canadense Bill Morneau, o ministro alemão das Finanças Olaf Scholz e com o ministro japonês Taro Aso.

Represálias

O governo mexicano afirmou em um comunicado que o presidente Enrique Peña Nieto e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, "lamentaram e expressaram sua rejeição à recente decisão de Estados Unidos de impor tarifas às importações de aço e alumínio" durante uma conversa telefônica.

O comunicado acrescenta que que Peña informou Trudeau sobre as represálias comerciais que o governo mexicano aplicará e que o primeiro-ministro "confirmou que o Canadá também estabelecerá medidas compensatórias proporcionais".

Mais cedo a Secretaria de Economia do México já havia informado em um comunicado que o país vai adotar medidas equivalentes a diversos produtos como aços planos, lâmpadas, carne de porco, embutidos, frutas, vários tipos de queijo, entre outros.

"A medida estará em vigor enquanto o governo americano não eliminar as tarifas impostas", afirma o comunicado.

Em represália, o Canadá anunciou tarifas sobre produtos americanos no valor de 12,8 bilhões de dólares.

As medidas tarifárias dos Estados Unidos são "totalmente inaceitáveis", disse o primeiro-ministro Justin Trudeau em coletiva de imprensa.

"Essas tarifas são uma afronta à longa sociedade em segurança entre Canadá e Estados Unidos e, em particular, são uma afronta aos milhares de canadenses que brigaram e morreram juntos com seus irmãos americanos em armas", disse Trudeau, fazendo uma referência à invocação de segurança nacional usada por Washington para justificar as medidas.

Trump respondeu em um comunicado que ele havia informado a Trudeau que Washington aceitaria apenas um "acordo equitativo" e que, sem isto, "não seria possível chegar a nenhum acordo".

"Estados Unidos foram explorados durante muitas décadas no âmbito do comércio. Estes dias acabaram", advertiu.

Segundo o palácio Eliseu, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse a Trump, por conversa telefônica na noite desta quinta-feira, que sua decisão de impor as tarifas é "ilegal" e que a UE responderá de forma "firme e proporcional".

Apesar de semanas de conversações com os colegas da UE, Ross disse que Washington não estava disposto a cumprir com a demanda europeia de que o bloco permaneça "isento de forma permanente e incondicional às tarifas".

"Este é um dia ruim para o comércio mundial", afirmou o presidente do Executivo da UE, Jean-Claude Juncker, que prometeu medidas em resposta à ação dos Estados Unidos.

Argentina e Brasil isentos

A Coreia do Sul negociou uma cota para o aço, enquanto Argentina, Austrália e Brasil concordaram em "limitar o volume que podem enviar aos Estados Unidos, ao invés das tarifas", explicou Ross.

O secretário do Comércio minimizou as ameaças de represálias e disse que as negociações podem continuar.