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O dilema do BC

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Os consumidores brasileiros estão cansados da inanição do Banco Central, que se comporta candidamente na supervisão do mercado financeiro: promove a redução dos juros básicos (taxa Selic, que caiu de 14,25% para 6,50% ao ano, desde o fim de 2016), mas o cartel dos grandes bancos não baixa os juros ao consumidor na mesma velocidade. 

O presidente do BC, Ilan Goldfajn costuma dizer que os juros vão cair naturalmente e que a regulamentação das fintechs seria um dos caminhos para forçar a queda via concorrência. A falta de autoridade do BC, por sinal se repete no câmbio, como lembrou o economista Paulo Nogueira Batista, em artigo ontem no JORNAL DO BRASIL. 

Pois ontem, o ex-diretor do BC Luiz Awazu Pereira, hoje no Banco de Compensações Internacionais (BIS), o Banco Central dos bancos centrais, disse que as fintechs, empresas nascentes de tecnologia financeira, precisam ser monitoradas de perto pelos reguladores, mas há um dilema: Os BCs não podem deixar que nova crise financeira se desenvolva, mas também não podem “matar” esse tipo de inovação ao apertar muito o cerco às empresas. 

Em palestra durante o XX Seminário de Meta para a Inflação, organizado pelo BC no Rio, Awazu disse que “a arte é não deixar o risco financeiro se desenvolver excessivamente, mas também não matar a inovação”. Awazu disse que as fintechs podem trazer grandes benefícios ao sistema financeiro, provendo mais crédito, mas também há grandes riscos envolvidos. “Vocês sabem que o ‘subprime’ começou com essa história de dar crédito a pessoas menos assistidas”, disse ao falar dos empréstimos à população de menor renda dos EUA que acabaram gerando a crise mundial de 2008. 

“Existe enorme transformação na indústria financeira com as fintechs”, disse Awazu, mas essas empresas estão conseguindo elevar a oferta de crédito de forma acelerada. “Hoje em são coisas pequenas, em termos de volumes ofertados, mas há enorme debate sobre se esse tipo de crédito não vai ser melhor aproveitado se for mais direcionado.”