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EUA X China ajuda Brasil?

Para presidente da AEB, Brasil já está perdendo no minério de ferro e ganho na soja demora

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O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, vê com muita preocupação o embate comercial entre os Estados Unidos e a China. Para ele, nessa guerra comercial e geopolítica entre Trump e os chineses, “o Brasil fica como o marisco na luta entre o mar e o rochedo e corre o risco de sair perdendo”. Ele lembrou que desde a taxação de 25% sobre o aço chinês, as exportações de minério de ferro para a China caíram. 

Há duas maneiras de medir o impacto. A primeira, assinala o presidente da AEB, é a queda das cotações do minério de ferro. De um lado, as medidas protecionistas de Donald Trump levaram ao fortalecimento do dólar. Como as cotações das commodities minerais e agrícolas são expressas em dólar, houve imediata queda dos preços dos produtos nas bolsas de mercadorias. O que se agravou, no caso do minério de ferro, com a cautela da China em confirmar importações. Os contratos são feitos com antecedência. Mas a combinação das duas tendências já se refletiu na queda das exportações de minério no primeiro trimestre. 

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de janeiro a março deste ano as vendas de minério arrecadaram US$ 2,5 bilhões, contra US$ 2,9 bilhões no mesmo período de 2017. Ou seja, uma queda de US$ 500 milhões, ou 2,1%. Os minérios são o terceiro produto mais importante na pauta de exportações para a China, com 21% do total. Perdem apenas para os 34% do farelo de soja (US$ 4 bilhões) e para os 23% da posição do petróleo em bruto exportado (US$ 2,79 bilhões). 

De janeiro a março, o Brasil exportou US$ 11,897 bilhões para a China e importou US$ 7,7774 bilhões, gerando saldo de US$ 4,727 bilhões para o Brasil. Foi o maior saldo no ranking de comércio dos parceiros brasileiros. Mas enquanto as exportações para a China cresceram apenas 0,96%, as vendas da China ao Brasil já cresceram 24,28% nos primeiros três meses do ano. Para o presidente da AEB, o quadro projeta uma tendência preocupante para “as nações emergentes que dependem da exportação de produtos primários, como o Brasil”. A pauta de produtos vendidos pela China ao Brasil é dominada por bens de alta tecnologia: produtos manufatura dos como aço, eletroeletrônicos, chips, circuitos para aparelhos celulares e para automóveis.

Em função do cenário preocupante, a AEB mantém a sua projeção, feita em dezembro do ano passado, para um superávit comercial de US$ 50 bilhões este ano. O Banco Central estimou em março um superávit de US$ 56 bilhões. Otimista, o Bradesco estima saldo positivo de US$ 67 bilhões. José Augusto de Castro considera as projeções otimistas e já adiantou que a AEB só fará a sua revisão habitual em junho.

Questão estrutural 

Para o presidente da AEB, o Brasil padece de um problema estrutural nas suas relações com a China: “mais de três quartos da pauta de exportações brasileiras é composta de produtos primários, que são os de preços e demandas mais vulneráveis nesse embate”. Além da soja, petróleo e do minério, que já somam 78% do valor exportado no primeiro trimestre, completam o cardápio produtos semi-manufaturados como celulose (7,3% ou US$ 867 milhões), carne bovina (US$ 314 milhões), de frango (US$ 204 milhões) e carne suína (US$ 84 milhões). 

Para o empresário, as margens de manobra para que o Brasil tire partido nas retaliações americanas e assim conquiste maiores fatias no amplo e crescente mercado chinês, não “são tão fantásticas como parece ao leigo”. No caso da soja, o Brasil tem espaço para ampliar exportações “em até 10%”, mas isso “não deve ocorrer nesta safra, que já está em plena colheita”. Haveria que ser feito um planejamento no segundo semestre, para a safra 2018/19, mas é preciso ver que cultura será sacrificada para dar espaço à soja”.

O presidente da AEB acredita que o milho e o algodão, que costumam ser cultivados em rodízio nas áreas plantadas na primavera-verão com soja, tendem a sair perdendo. O milho e a soja, quando aproveitados no mercado interno, barateiam os preços dos alimentos de animais (rações) e tornam a carne de frango e de suínos com custos mais competitivos. No caso do milho, como seu preço é bem menor que o do soja, os caminhoneiros e produtores não se incomodam em trocá-lo pela soja, cuja tonelada vale quase o dobro da tonelada de soja, com peso menor do frete na margem de comercialização. 

Outra questão é que a tendência natural da região Centro-Oeste, de aumentar a produção de aves e suínos para a exportação, aproveitando a proximidade da oferta de soja e milho e transformá-los em produtos de maior valor agregado (gerando mais empregos e riquezas na cadeia produtiva), pode ser prejudicada. José Augusto de Castro não tem dúvidas de que a China será um parceiro duradouro e seguro para o Brasil, mas “não será imediata a abertura de espaços no fornecimento de carne suína ou de frango. Nem os valores são tão largos”, diz