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'Bloomberg': "Cenário político nebuloso atrasa crescimento", diz Armínio Fraga 

“Acho que um aumento de impostos nesse momento é um mal menor”, completou

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A Bloomberg publicou nesta terça-feira (25) uma entrevista com o economista e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Ele afirma que os escândalos de corrupção tornam nebuloso o cenário político brasileiro, o que impede uma recuperação plena da economia.

“Seria de se esperar que uma recessão tão violenta fosse seguida de um salto na economia, mas atualmente parece mais um pequeno pulinho”, disse Fraga, sócio da empresa de hedge fund e private equity Gávea Investimentos. 

“A única razão pela qual não tivemos ainda uma forte recuperação é pela incerteza que ainda nos ronda.”

Armínio apontou à Bloomberg que, apesar de mais de dois anos de uma contração econômica que atingiu quase 10%, muitos empresários ainda têm capacidade ociosa e pensam duas vezes antes de investir em uma produção maior. 

"Há questões ainda sem resposta, como se o governo vai ou não elevar impostos, reduzir subsídios ou cortar seus próprios gastos, ou se o próximo presidente da República mudará a direção da economia do país nos próximos anos".

Fraga destaca ao jornal que as novas revelações da Lava Jato, com a divulgação de vídeos com os depoimentos dos executivos e donos da Odebrecht contando como subornaram políticos de diferentes governos nas últimas décadas, também aumentam o descontentamento e a incerteza.

“O que nós estamos vendo é esse surpreendente espetáculo de corrupção completamente generalizada, e isso é venenoso”, disse Fraga, acrescentando que isso cria um solo fértil para um tipo de populismo que poderia acabar minando as tentativas de equilibrar o orçamento federal -- opção que, para ele, seria “mais dolorosa do que a opção de ajustar”.

O ex-presidente do BC acrescenta que, neste ambiente político já difícil, o governo tenta aprovar reformas impopulares que visariam reduzir o déficit fiscal cortando benefícios dos aposentados e, provavelmente, também terá que aumentar os impostos. ”Não será fácil cortar despesas porque boa parte do orçamento tem destinação certa, o que significa que os impostos terão que subir para evitar um aumento na relação entre a dívida e o PIB."

“Eu tenho pregado a necessidade de impedir o crescimento das despesas do governo há muito tempo, mas o governo decidiu não fazer isso antecipadamente, e com isso nos resta um tipo de ajuste atrasado que pode a curto prazo exigir alguns impostos maiores”, disse ele. “Isso trará muito descontentamento.”

“Mas ainda acho que um aumento de impostos nesse momento é um mal menor”, completou.

>> Bloomberg