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'WSJ': Startups trocam Vale do Silício por ambiente promissor na Europa

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Matéria publicada nesta terça-feira (31) pelo The Wall Street Journal conta que quando o engenheiro dinamarquês-português Lars Fjeldsoe-Nielsen decidiu ser um empreendedor do setor de tecnologia há cerca de dez anos, ele comprou uma passagem só de ida para o Vale do Silício. Depois de oito anos como gerente sênior ou consultor da Dropbox Inc., WhatsApp Inc. e Uber Technologies Inc., porém, ele voltou para a Europa.

“A cena tecnológica europeia mudou completamente”, diz ele, que se uniu a uma firma de investimento em tecnologia com sede em Londres. “As oportunidades estão aqui agora.”

Como Fjeldsoe-Nielsen, muitos rebentos europeus do setor de tecnologia começam a olhar para seu próprio continente como a terra prometida, afirma o Journal.

Segundo a reportagem Florian Jourda abandonou um emprego sênior na “startup” que fornece de serviços de nuvem Box Inc. na Califórnia para dar suporte ao número cada vez maior de empreendedores de uma aceleradora de startups em seu país natal, a França. O sueco Niklas Zennström, um dos fundadores do Skype, que vendeu a empresa de chamadas telefônicas pela internet para investidores americanos em 2005, criou um fundo de investimento que se concentra em startups europeias de tecnologia.

> > The Wall Street Journal New Hotbed for Tech Startups: Europe

O diário afirma que a Europa tem legiões de engenheiros e programadores bem treinados, e hospeda uma quantidade maior de consumidores que os EUA. A região já produziu muitas startups pioneiras. Mas, como o Skype, muitas delas terminaram em mãos americanas. As regulações tributárias, sociais e econômicas fragmentadas — e, em sua maioria, estritas — da Europa acabaram impedindo que muitas empresas de tecnologia crescessem rapidamente e se tornassem grandes o suficiente para se tornar dominantes no mercado, ou mesmo lucrativas, apesar das tentativas constantes da União Europeia para harmonizar regras e criar o chamado mercado comum digital.

O noticiário norte-americano aponta que níveis recordes de investimento de capital de risco entraram em países como a França nos últimos 12 meses, à medida que governos locais aumentam os esforços para treinar e atrair trabalhadores qualificados, construir grandes incubadoras para startups em estágios iniciais e impulsionar investimentos através de fundos garantidos pelo Estado. Empresas europeias importantes como a Spotify AB, firma sueca de “streaming” de música, o estúdio de startups Rocket Internet SE, da Alemanha, e a finlandesa Supercell Ou, fabricante do jogo “Clash of Clans”, têm obtido avaliações multibilionárias, sem ter migrado para o outro lado do Atlântico. O fundador do Spotify, Daniel Ek, prometeu manter a sede da empresa na Europa.

Ainda assim, a Europa ainda não produziu nenhuma empresa global de tecnologia capaz de competir com a Apple Inc. ou com a Alphabet Inc., controladora do Google, avalia o WSJ.

Na China, o surgimento de gigantes de tecnologia como a plataforma de comércio eletrônico Alibaba Group Holding Ltd. e a Tencent Holdings Ltd., mais conhecida pelo seu aplicativo de mensagens WeChat, atraíram empresários chineses que anteriormente tentaram a sorte no Vale do Silício. O ambiente da tecnologia na Índia também foi auxiliado por empreendedores que voltaram para casa em número expressivo, destaca em seu texto o Wall Street Journal.

Agora, países europeus estão esperando que seu novo caso de amor com os empreendedores da tecnologia possa ajudá-los a se equiparar aos EUA e Ásia na corrida para criar gigantes tecnológicos. A chegada de executivos experientes acontece em um momento em que as empresas de tecnologia da Europa estão cheias de dinheiro. No ano passado, um recorde de US$ 13,6 bilhões foi investido no setor de tecnologia da Europa, ante US$ 2,8 bilhões em 2011, segundo relatório da Atomico, firma de investimento em tecnologia com sede na Europa, ajudando a impulsionar centros de tecnologia em Londres, Berlim, Paris e Estocolmo.

Quando Jourda foi para o Vale do Silício em 2004, ele disse que voltar para a França era uma possibilidade remota. Mas dez anos depois, em 2014, ele ficou impressionado com as notícias de que a empresa de compartilhamento de caronas pagas BlaBlaCar havia se tornado a primeira empresa francesa de tecnologia a captar US$ 100 milhões de investidores. Isso o levou a pegar um avião para Paris. “Eu queria dar algo de volta a meu país”, disse ele. A BlaBlaCar, uma das principais startups europeias, foi fundada em 2006 por Frédéric Mazzella e Nicolas Brusson depois que os dois voltaram do Vale do Silício.

Brusson diz que sua experiência nos EUA foi essencial para o sucesso de sua empresa. “Na França, eu não podia encontrar empresários franceses que poderiam me assessorar”, disse ele. “Nenhuma empresa francesa já fez isso.”

Desde sua volta a Europa, Brusson já assessorou várias startups e tem investido em empresas de tecnologia como a Roofoods Ltd., startup de entrega de comida de Londres que é dona da Deliveroo, e a empresa de assistência médica pela internet Doctolib.

Fjeldoe-Nielsen agora trabalha na Balderton Capital, um dos principais fundos de capital de risco de Londres, que investe em startups promissoras em estágios iniciais.

Enquanto trabalhava na Dropbox, ele brigava para conquistar os clientes de Jourda, da Box, para seu serviço concorrente de armazenamento de nuvem. Os dois resolveram suas diferenças desde que voltaram para casa, e agora se ajudam. “Nós estamos na mesma equipe”, diz Fjeldsoe-Nielsen. “A equipe Europa.”