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Crise econômica: Delfim Netto prevê um "caldeirão" após a Olimpíada

Ex-ministro  destaca desemprego, mas frisa papel de Dilma. "Brasil só pode salvar-se junto com ela"

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"O Brasil está empurrando o desempregado para o desespero", afirmou o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, em entrevista ao Jornal do Brasil nesta quinta-feira (28), ao comentar as perspectivas econômicas do país. Para Delfim, o custo social da crise será grave. "O Rio vai virar um caldeirão quando terminar a Olimpíada e ficar visível que colocaram na rua os que estavam trabalhando, e ficar visível também que tudo foi feito com empréstimos. Você vai olhar uma bela piscina, mas desempregado?"

Para o ex-ministro, o aprofundamento do desemprego vai ter impacto direto na imagem da classe política para a população. "Vai estimular uma desilusão com o governo, com os políticos, monumental. Não há nada mais perigoso para a democracia do que a terrível desmoralização em que está metida a política. E as consequências são um país que não sabe para onde vai." 

Delfim Netto destacou o efeitos destrutivos do desemprego para a sociedade: "O avanço do desemprego é a pior coisa que pode acontecer para uma sociedade civilizada. Desemprego é a destruição da cidadania", afirmou, acrescentando ainda que a saída está no papel que a presidente Dilma Rousseff assumir neste contexto. "A solução é a presidente assumir seu protagonismo. Ela tem que ir ao Congresso propor as medidas constitucionais e infraconstitucionais para dar oxigênio ao Brasil. Para que ele volte a acreditar que vai crescer, que pode crescer. Economia é expectativa, economia é confiança. Se você não tem expectativa que vai crescer, você não cresce. Se não tem confiança de que vai crescer, não cresce." 

O ex-ministro reforçou ainda que o afastamento da presidente Dilma seria um erro. "Esse negócio de ficar esperando o impeachment é nosso maior equívoco. Não vai haver impeachment, mesmo porque Dilma nunca produziu nenhum abuso de poder. Esperar o impeachment como salvação é um erro", afirmou, complementando: "O Brasil só pode salvar-se junto com Dilma, se ela assumir realmente o protagonismo que ela precisa assumir."

O ex-ministro frisou que as medidas econômicas propostas representam um sacrifício, mas são necessárias. "Todo mundo sabe que isso tem custo, tem dificuldades. Mas todo mundo sabe também que não fazer os ajustes teria um custo muito maior."

Delfim também destacou que a situação do Brasil não está descolada de uma tendência mundial. "A situação hoje é delicada não só no Brasil. Há uma situação muito delicada no mundo. Na verdade, depois de 3 mil dias e de trilhões de dólares postos no mercado pelos bancos centrais, o mundo não recuperou o crescimento. É visível que os bancos centrais não sabem o que estão fazendo. Não conseguiram sequer elevar a taxa de inflação. O PIB nominal cresceu muito pouco, e a desalavancagem não foi reduzida. Isso significa que estamos no mesmo ponto em que estávamos quando tudo começou, em 2008, com a crise do Lehman Brothers [banco de investimento dos EUA que desencadeou a crise global]."

O ex-ministro foi além em sua análise: "É seguro que o mundo está crescendo muito pouco, é seguro que a situação chinesa é indecifrável, que o Japão também não conseguiu se recuperar, e é seguro que o Brasil está numa situação muito delicada."

Delfim destacou as proporções da crise no Brasil, mas frisou que o país tem condições de reagir. "O estouro pode ser proporcional ao tamanho do país, mas o Brasil é bastante grande para enfrentar uma crise como esta. Não adianta olhar para o mundo, basta olhar para o umbigo."