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Após nove altas, Ibovespa tem pior pregão do ano com tensão política e comércio chinês

Dólar subiu mais de 3%, fechando o dia cotado a R$ 3.8935 na venda

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O Ibovespa ampliou suas perdas no fim da tarde desta terça-feira (13), revertendo um rali de nove pregões consecutivos e consagrando seu pior desempenho diário em 2015. O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo sofreu os impactos de novos dados desanimadores vindos da economia chinesa, além da tensão política no Brasil. No fechamento recuava 4%, para 47.362 pontos. O dólar também voltou a subir e encerrou o dia em alta de 3,58%, cotado a R$ 3,8935 na venda. 

Este foi o maior avanço diário da moeda norte-americana desde 21 de setembro de 2011. Na máxima da sessão desta terça, o dólar foi a R$ 3,8962. No mês, a divisa ainda acumula queda de 1,82%. No ano, tem valorização de 46,44%. Nesta manhã, o Banco Central deu continuidade a seu programa diário de interferência no câmbio, seguindo a rolagem de swaps cambiais com vencimento novembro.

Para Reginaldo Galhardo, gestor de câmbio da Treviso Corretora, as incertezas em relação aos rumos da política brasileira tiveram mais peso na valorização do dólar frente ao real. "Na parte da manhã a cotação estava em linha com o exterior, após a divulgação dos dados ruins da China. Mas no período da tarde a denúncia ao Eduardo Cunha no Conselho de Ética, pedindo sua cassação, acabou tumultuando o pregão. A crise política ainda é o fato preponderante na cotação por aqui", explica.  

O economista se referia à representação protocolada hoje pela bancada do Psol no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. O documento, que ganhou a adesão de 40 parlamentares, pede a cassação do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por quebra de decoro parlamentar. Ainda no cenário doméstico, os ministros Teori Zavascki e Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), deferiram liminares para suspender os efeitos da Resposta à Questão de Ordem 105/2015, decidida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sobre a forma de tramitação dos pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff por suposto crime de responsabilidade.

No noticiário internacional, por sua vez, o governo da China divulgou que as importações do país caíram 20,4% em setembro, na comparação com o mesmo período de 2014, nas contas feitas em dólar. Economistas projetavam uma queda de aproximadamente 16%. Em agosto, retração havia sido de 13,8%. A notícia derrubou os mercados globais, principalmente aqueles ligados à exportação de commodities. As exportações chinesas também recuaram (3,7%), após queda mais acentuada em agosto (5,5%). 

Os resultados de venda do Gigante Asiático superaram as expectativas do mercado. A média das previsões de um grupo de 12 economistas consultados pelo The Wall Street estimava um recuo de 6,5%. Com isso, em setembro a balança comercial da China teve leve ampliação em seu superávit. Número chegou a US$ 60,3 bilhões, ante os US$ 60,2 registrados no mês anterior. A previsão de analistas girava em torno dos US$ 47,6 bilhões. 

>>> Importações chinesas caem mais de 20% em setembro

Para Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora, o mau desempenho chinês foi o grande responsável pela derrocada do Ibovespa. "Eu acho que certamente existiu uma combinação desses dados com a tensão política, mas a balança comercial da China tem um impacto enorme sobre a economia global e são os emergentes os que mais sofrem. Principalmente no Brasil, onde o peso das commodities é grande", afirma o economista. 

Na bolsa brasileira, Vale e Petrobras tiveram recuo significativo, revertendo ganhos recentes. A tendência reflete o ajuste de preços das commodities após a divulgação dos dados chineses. No fechamento, os papeis ordinários (VALE3) e preferenciais (VALE5) da Vale caíam 10,63% (R$ 18,58) e 7,87% (R$ 14,98), respectivamente. As ações ordinárias (PETR3) da petroleira, por sua vez, despencavam 8,12%, cotadas a R$ 9,84, enquanto as preferenciais (PETR4) desciam 7,61%, a R$ 8,13.

O mau desempenho da estatal também resulta do forte movimento negativo de seus ADRs na véspera. Também influenciam as negociações dos papeis da companhia rumores de que ela negocia a venda de aproximadamente 25% da BR Distribuidora. Além disso, nesta manhã houve a divulgação de que a Petrobras concluiu as negociações com o Industrial and Commercial Bank of China Leasing (ICBC Leasing) para uma operação de financiamento de US$ 2 bilhões pelo período de dez anos. 

Por fim, jornais noticiam que a empresa investiu US$ 66 milhões para explorar um poço seco em um campo de petróleo no Benin. A operação está na origem do pagamento de propina à Eduardo Cunha, que teria recebido depósitos que somam 1,3 milhão de francos suíços (algo em torno de R$ 5,1 milhões) do lobista João Augusto Rezende Henriques no mesmo mês em que a decisão do investimento foi tomada.

>>> Petrobras fecha financiamento de R$ 2 bilhões com ICBC Leasing

No terreno negativo do Ibovespa, o setor financeiro também esteve em destaque, com quedas no Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 27,97, -5,35%), Bradesco (BBDC3, R$ 25,16, -5,59%; BBDC4, R$ 22,68, -5,46%), Branco do Brasil (BBAS3, R$ 16,97, -8,32%) e Santander (SANB11, R$ 14,12, -8,90%). O desempenho é resultado do rebaixamento da recomendação do Credit Suisse para os grandes bancos brasileiros - de neutro para underperform, abaixo da média do mercado. 

Ainda de acordo com Figueredo, o investidor aproveitou o "desconforto" do cenário brasileiro para obter lucros. "Afinal, foram nove altas consecutivas em que os papeis da Bovespa estavam se valorizando", argumenta. O analista ainda lembra que a quarta-feira (14) trará a divulgação de indicadores que terão forte peso nas negociações do mercado financeiro. "Temos os dados de produção industrial na zona do euro, indicadores do varejo brasileiro, entre outros. O que está em pauta é o grau de sensibilização que a desaceleração da economia chinesa causa no mundo", afirma. 

Segundo o economista, a expectativa do mercado em relação a esses dois indicadores não é nada otimista. No caso do mercado varejista no Brasil, ele explica que o aumento da inflação se traduz em "desincentivo para o comércio". Por isso, na avaliação de Figueredo, os dados computados de agosto deverão ser bem piores do que no mês anterior. "Além disso, o lado político é eterno. Ele vai seguir o seu curso diante de um noticiário muito forte e instável, influenciando o humor dos investidores", conclui.      

Bolsas europeias fecham em queda após divulgação de dados do comércio chinês

As principais bolsas europeias fecharam a terça em baixa após as preocupações em relação à economia chinesa se reacenderem. No encerramento deste pregão, o índice pan-europeu Stoxx 600 descia 0,9%, para 358,47 pontos. A bolsa de Paris teve recuo semelhante, de 0,97%, aos 4.643,38 pontos. Destaque para as ações da Kering, controladora de marcas como Gucci e Yves Saint Laurent, que caíram 3,04%. Os papeis da LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton também tiveram desvalorização significativa, de 3,15%. Resultado também advém dos dados chineses, uma vez que o país tem papel de destaque no mercado global de artigos de luxo. 

Em Londres, o FTSE-100 fechou em queda de 0,45%, para 6.342,28 pontos. Puxaram a baixa as empresas ligadas a commodities, como Glencore (-2,56%) e Anglo American (-1,81%). No terreno positivo, as ações da SABMiller subiram 9,02% após o anúncio de que seu conselho aceitou os termos da proposta de compra pela AB InBev. Se confirmadas, as negociações resultarão na fusão das duas maiores cervejarias do mundo. A bolsa de Frankfurt teve retração de 0,86%, para 10.032,82 pontos. A bolsa de Madri caiu 1,28%, aos 10.115,30 pontos. A de Lisboa perdeu 1,38%, para 5.276,33, e a bolsa de Milão fechou em queda de 0,19%, aos 22.048,49 pontos. 

Xangai fecha em alta de 0,17%; Tóquio cai 1,11%

As bolsas da China fecharam em leve alta nesta terça. O índice Xangai Composto avançou 0,17%, aos 3.293,23 pontos, enquanto SZSE Component subiu 0,74%.

Em Tóquio, o Nikkei 225 caiu 1,11%, aos 18.234,74 pontos; em Seul, o Kospi recuou 0,13%, aos 2.019,05 pontos; em Hong Kong, o Hang Seng fechou em queda de 0,57%, aos 22.600,46 pontos; em Cingapura, o Straits Times caiu 1,14%, aos 2.997,50 pontos; em Taiwan, o Taiwan Weighted teve leve baixa de 0,07%, aos 8.567,92 pontos.

No encerramento em Sydney, o índice S&P/ASX 200 perdeu 0,57%.

Por Ana Siqueira