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Professor da Unicamp lança livro sobre capitalismo e colapso ambiental

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A perspectiva de um colapso ambiental vem sendo evidenciada pela ciência e humanidade desde os anos 1960. Na atualidade, porém, a causa é de extrema urgência, caso contrário, os serviços prestados pelos ecossistemas deixarão de existir. É com este norte que Luiz Marques, professor do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, acaba de lançar o livro "Capitalismo e colapso ambiental", pela Editora Unicamp.

O autor ainda participa de um coletivo de professores da universidade paulista, da criação de portal voltado para informação, pesquisa, debate e mobilização acadêmica em torno das crises socioambientais contemporâneas. O portal deverá estar disponível para consulta até o final de 2015.

Em seu livro, Marques explica que, na década de 1990, sete acordos multilaterais, somados a importantes documentos e protocolos, tais como a Agenda 21, a Carta da Terra e o Protocolo de Kyoto, alimentavam a promessa de um novo arranjo político, econômico e social internacional, capaz de conter o processo de degradação ambiental do planeta. 

Duas décadas mais tarde, inúmeras pesquisas realizadas nas mais diversas áreas do conhecimento, apontam para uma situação significativamente diferente daquela preconizada pelos acordos firmados entre os países. 

Um deles, o Protocolo de Kyoto é emblemático da mudança de perspectiva: os países signatários se comprometiam a reduzir a emissão de gases poluentes responsáveis pelo efeito estufa e o aquecimento global. Mas ao invés de redução, o que se assiste, nessas primeiras décadas do século 21, é o aumento das emissões, somado à tendência de esvaziamento dos compromissos então assumidos.

"Evitar a falência das estruturas de sustentação dos ecossistemas, ou seja, voltar a caber na biosfera, só será possível se desmontarmos a engrenagem socioeconômica expansiva que moldou nossas sociedades desde o século XVI", propõe o autor.

Números alarmantes

"O capitalismo internacional devasta numa escala e ritmo superiores à capacidade da biosfera de se recompor e se adaptar. Segundo o Global Forest Watch, apenas entre 2000 e 2012, nosso planeta perdeu 2,3 milhões de km² de florestas, em grande parte por causa do avanço da monocultura e das pastagens. Em um estudo recente, The Future of Forests, o Center for Global Development, de Washington, projeta, baseando-se em observações de satélites, que uma área de florestas tropicais do tamanho da Índia [3,2 milhões de km²] será desmatada nos próximos 35 anos", diz Marques.

 O consumo de 92 milhões de barris de petróleo por dia e a produção global de 7,83 bilhões de toneladas de carvão em 2013, são recordes históricos. 

As grandes barragens hidrelétricas e o aumento do consumo de carne são alguns dos fatores decisivos no agravamento das mudanças climáticas e no colapso da biodiversidade terrestre e marítima. 

Brasil

O desmatamento da Amazônia Legal está novamente em trajetória ascendente. Luiz explica que, de agosto de 2013 a julho de 2014, ele foi de 5.012 km². "O que é comemorado como uma vitória por setores do governo é, na verdade, uma devastação estarrecedora, só porque representa uma diminuição de 15% em relação aos 12 meses anteriores (5.891 km²). Na realidade, há aumento de 9% em relação ao período de agosto de 2011 a julho de 2012 (4.656 km²). E já se sabe pelo Instituto Imazon que o desmatamento do período agosto de 2014 – julho de 2015 será expressivamente maior que o dos 12 meses anteriores", destaca.

As emissões de CO² cresceram 62% no Brasil entre 1990 e 2005 e apenas em 2013, conforme computado pelo Sistema de Estimativa de Gases de Efeito Estufa (SEEG), o país gerou 1,56 bilhão de toneladas de CO²-eq, um salto de 7,8% em relação a 2012. Trata-se de uma das maiores taxas de crescimento do mundo nesse ano. Mais da metade do acréscimo provém do desmatamento e de incêndios de florestas, boa parte deles a mando de fazendeiros. 

"E não se contabilizam aqui as emissões de metano (CH4) pelas grandes represas e pela pecuária, um gás cujo efeito estufa é muito maior", enfatiza.