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Quadro fiscal é essencial para reverter crise, diz economista 

Caminhos para o país retomar o crescimento são decididos com pouca transparência

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As consequências da crise econômica brasileira vêm ganhando contornos cada vez mais graves. De acordo com o relatório Focus, divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (28), a retração do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano será de 2,8%. A expectativa na semana anterior era de um recuo de 2,7% do PIB. Se a previsão se confirmar, será o pior resultado em 25 anos. 

O quadro fiscal do país é um dos principais fatores que provocam a situação de dificuldade. "A economia enfrenta um quadro grave de incerteza econômica, que não é apenas a respeito de saber se a demanda agregada vai aumentar ou vai cair. A incerteza é em relação ao agravamento do quadro fiscal. A dívida bruta, segundo dados oficiais do Banco Central, que em dezembro do ano passado era 58,9% do PIB, agora em julho é 64,5%. Evoluiu muito rapidamente", aponta o professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas, André Nassif.

O professor afirma acreditar que o ajuste fiscal é parte essencial das medidas para a reversão da crise. "Desta dívida, 15% do estoque total está no exterior. Outro fator que preocupa é que a dívida vence em apenas um ano. A incerteza do mercado é saber se o governo vai conseguir reverter a trajetória ascendente da dívida pública".

Para René Garcia, professor da Escola de Negócios EDHEC, as soluções para o país voltar a crescer não são debatidas com a transparência necessária. "O governo foi incapaz de apresentar uma solução de longo prazo e não deixa claro que o ajuste vai se dar pela perda de renda. É uma questão de informação. Tanto o governo quanto a oposição e o próprio Congresso Nacional não tocam num aspecto essencial, que é mostrar o rombo. Dado o nível de dispêndio, somado à situação internacional, a economia brasileira vai se recuperar com o custo de que os brasileiros fiquem mais pobres".

Para o professor, um aumento da carga tributária poderia levar a um aumento dos custos de produção das empresas, que estão sem capacidade de repasse com a retração da economia. "Deve haver menor rentabilidade, abaixando mais os salários. Ao final desse modelo, se em 2017, 2018 o Brasil retomar o crescimento, será com um nível de salário real no mínimo 25% mais baixo do que é hoje".

As perspectivas para inflação e para o câmbio tampouco são animadoras. Para os economistas consultados pelo Banco Central, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar o ano de 2015 em 9,46%, maior taxa em 13 anos. Antes, a taxa esperada era de 9,34%.

"O primeiro passo para a situação da inflação foi o aumento do preço de energia, que colaborou para um incremento de 1,5% a 1,8% da inflação. Junto disso, tivemos uma série de produtos administrados que também tiveram correção de preço. A origem está associada no represamento de preços por parte do governo federal", analisa Garcia.

A projeção do Focus para o dólar aumentou de R$ 3,86 para R$ 3,95 ao final de 2015. Este ano, a moeda americana já atingiu a marca de R$ 4,25, cotação inédita na história do real. Os efeitos inflacionários não devem ser os únicos problemas da depreciação excessiva do real.

“Os produtores vão tentar, para manter as margens, repassar esse aumento adicional de custo para preço. Porém, é preciso levar em conta que quando há, ao mesmo tempo, uma contração muito violenta da demanda agregada por conta da recessão, a possibilidade de repasse é reduzida", afirma Nassif.

"Quando o real fica valorizado, você combate a inflação, mas para a economia e para o crescimento é ruim. A indústria não produz, porque o salário real em dólar fica caro e isso vaza para a importação. O ideal é que a taxa de câmbio real esteja em nível de equilíbrio, o que para alguns economistas é em torno de R$3,60 por dólar", diz Nassif, que avalia que os impactos inflacionários provavelmente serão contidos pela recessão.

"No entanto, o dólar acima de R$ 4 tende a aprofundar a recessão, já que o salário em dólar fica baixo, reduzindo a demanda agregada".