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Gasto da classe média no exterior é mais afetado com altas do dólar 

Preços das passagens aéreas não sofrem grandes oscilações 

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A crise brasileira e a alta do dólar estão atingindo um setor em especial da economia: o turismo. Com a moeda americana valorizada, um determinado tipo de consumidor pensa duas vezes antes de viajar para destinos tão comuns como Europa e Estados Unidos. Mas o pior não é a passagem e sim, o consumo em países estrangeiros.

O gasto dos brasileiros no exterior no primeiro semestre de 2015 somaram R$ 10 bilhões, o menor resultado para o período desde 2010, segundo dados divulgados em julho pelo Banco Central. Trata-se de uma queda de 20% em relação ao valor gasto no mesmo período de 2014.

Edmar Bull, vice-presidente da Abav Nacional (Associação Brasileira das Agências de Viagens) diz que a alta do dólar não afetou o preço das passagens mas provocou mudanças. “O dólar subiu, mas se pegar em reais, a passagem aérea hoje está até mais barata. O problema são as compras no exterior”.  Ele afirma, entretanto, que a classe alta não foi afetada.

Bull diz que um dos efeitos é que o turismo interno tem aumentado: “As pessoas estão mudando os destinos e as agências têm ajudado. Por aqui muitos resorts estão até com lista de espera”.

Alexandre Sampaio, presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA) também comentou os efeitos da alta da moeda americana. “Especificamente, pior que o aumento exponencial do dólar é a variedade e essa volatilidade. Quando a moeda oscila é prejudicial para a saída de brasileiros, que acabam optando por fazer turismo interno", explica ele.

“Com o dólar exponencial se torna proibitivo ir para a Europa. Julho era um período do ano bastante significativo em termos de saída de brasileiros. E foi afetado. Acho que se essa alta do dólar se consolidar, o brasileiro vai se tornar um turista mais raro no exterior”, prevê Sampaio.

Gabriela Otto, idealizadora e sócia-diretora da GO Consultoria diz que o turismo não é tão simples como se pensa, por existirem diferentes tipos de serviços e perfis de consumidores. Sem falar que as circunstâncias são diferentes. “Hoje não se pode fazer uma análise baseando-se apenas nas altas e baixas do dólar. As companhias aéreas se adaptaram à questão do câmbio. Com a alta do dólar, muitas companhias fixaram o preço. Melhoraram os valores originais para não repassar o preço às passagens”.

Gabriella também afirma que a classe mais alta não está sendo impactada. “Ao invés de fazer cinco viagens ao exterior no ano, ela faz quatro, por exemplo. Mas esse consumidor mantém o nível de categoria”. Quanto aos gastos no exterior, esse sim é diretamente afetado: “De 2010 a 2014 tivemos um momento econômico com uma percepção completamente diferente do consumidor. Em Nova York, o brasileiro era o consumidor que mais gastava há dois anos. Em Paris, o terceiro”, lembrando que cerca de 70% dos gastos dos brasileiros são em equipamentos eletrônicos e lojas de departamento.

Mario Trojman, diretor da operadora Blue Sea, e representante de várias companhias marítimas, reforça que a alta do dólar não afeta a classe alta. 

“Com o dólar alto, o passageiro que sempre busca qualidade não está retraído. Para ele não tem problema. Mas quem caiu um pouco foi a classe média para baixo, que costumava fazer aqueles cruzeiros na costa brasileira”.

Teoricamente, a alta do dólar poderia resultar em algo positivo: o aumento do fluxo de turistas estrangeiros no Brasil. Mas isso não está sendo notado com clareza. É o que explica Adriano Vieira, diretor de vendas da Rentamar Turismo, em Copacabana, no Rio de Janeiro.

"Esse cenário do dólar valorizado deveria estar atraindo mais turistas, mas isso não está acontecendo. O Brasil anda meio desacreditado, com as notícias sobre violência, e continua sendo um destino muito caro. Quando o turista monta um pacote na América do Sul, e inclui o Brasil, o preço do pacote dobra. Nosso país continua sendo muito mais caro do que os vizinhos Peru, Chile e Argentina”.