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Desaceleração chinesa prejudica desempenho das commodities

Efeitos já são sentidos no Brasil, afetando suas exportações

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A trajetória de queda nos preços das commodities nesta terça-feira (4) apresentou sinais de recuperação. Para especialistas, no entanto, a alta é pontual e não reflete uma melhoria no mercado, que continua abalado pela desaceleração econômica da China. Maior consumidor mundial de commodities, o país tirou o pé do acelerador e as consequências disso já são sentidas no Brasil, que em julho teve suas exportações para o país reduzidas em valor e quantidade.

De acordo com o economista Mauro Rochlin, professor da Fundação Getúlio Vargas, as quedas mais expressivas são do minério de ferro e do petróleo. “O minério de ferro hoje custa 1/3 do que custava há dois anos e o petróleo, metade do que há 12 meses. O que leva a cair, basicamente, é o menor crescimento da economia chinesa. Existe uma desaceleração e isso acaba por afetar o preço das commodities, em primeiro lugar metálicas”, explica.

Em sua visão, já se pode falar de um ciclo de baixa: “Um movimento mais prolongado, sistêmico”, ainda sem previsão de recuperação. O analista da corretora Rico, Roberto Indech, concorda. Ele ainda lembra que a menor demanda gera estoques de produção, o que também colabora para a retração dos preços de commodities.   

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Impactos já são sentidos nas exportações brasileiras

Para o Brasil, a queda dos preços das commodities pode ter um lado positivo: auxiliar na contenção da inflação, uma vez que os valores desses produtos são estipulados globalmente. “Quando a gente fala de commodities, estamos falando de produtos que são negociados internacionalmente, com referência na bolsa de Chicago. Se o preço cai lá, cai aqui também. E isso favorece a nossa luta contra a inflação”, explica Rochlin. Segundo Roberto Indech, outro ponto positivo está em um reajuste de preço de combustíveis não se fazer necessário “pelo menos a princípio”.

As consequências negativas, no entanto, não podem ser ignoradas. “Nós somos exportadores e esses produtos tiveram preços, principalmente o minério de ferro, muito afetados. O exportador recebe menos por cada tonelada exportada”, afirma o professor da FGV. As exportações brasileiras para a China, seu maior importador, caem em preço e quantidade, segundo dados divulgados pelo governo na última segunda-feira (3).

Em julho, a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 2,379 bilhões, uma alta de 52,2% na comparação com o mesmo período do ano passado, mas isso se deu principalmente em função da queda das importações. “O saldo comercial do mês é resultado de exportações de US$ 18,526 bilhões e importações de US$ 16,147 bilhões”, detalha o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Esses são os menores níveis de exportação e importação dos últimos dez anos no Brasil. 

Ainda não se sabe até quando irá durar a instabilidade dos preços das commodities. A polêmica, de acordo com Rochlin, é se a China pelo menos conseguirá manter um patamar de 7% de crescimento ao ano. Se não mantiver, quedas ainda mais significativas podem ser esperadas nos valores desses produtos. 

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*Do programa de estágio do JB