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'Financial Times': Três lições não edificantes do acordo grego

Dependência seletiva do BCE deveria preocupar os cidadãos da zona do euro, diz jornalista

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"O primeiro-ministro grego teve que ceder em praticamente tudo que os outros membros do euro pediram. Os detalhes sobre o acordo político, firmado pela cúpula da zona do euro que durou a noite toda, ainda não estão claros. E há muitas outras decisões a ser feitas nos próximos dias. Mas já podemos tirar três lições. Nenhuma delas é particularmente edificante". é o que diz o jornalista Martin Sandbu, em artigo publicado nesta segunda-feira (13/07) no jornal britânico Financial Times

Em primeiro lugar, as decisões que os políticos mais ocupados da Europa acham apropriado tomar são totalmente bizarras. O esboço do documento que o eurogrupo de ministros da economia prepararam para líderes no domingo contém, entre outras coisas, um requerimento específico para aprimorar a concorrência entre...?padarias.

Talvez os padeiros da Grécia precisem de mais concorrência. Talvez, numa certa extensão, podemos encontrar alguma razão que explique por que isso contribuiria para uma maior taxa de crescimento da Grécia. Mas deveríamos arfar diante do orgulho de uma classe de políticos europeus que acham que seu tempo é bem gasto fazendo esse tipo de micro-gerenciamento e que suas micro-políticas preferidas são tão favoráveis para o crescimento a ponto de poderem dominar o processo político interno.

É inquestionável que a Grécia precisa de reforma. Mas lembre-se de onde o país estava há apenas um ano. A austeridade foi interrompida em 2014, o que permitiu a retomada do crescimento. Atenas estava em um superávit primário e não precisava de uma future ajuda financeira — apenas extensões para aliviar os acentuados penhascos de reembolsos em 2015 e 2016 que a zona do euro e o Fundo Monetário Internacional de forma irresponsável deixaram inalterado na reestruturação de 2012. Teria realmente sido tão difícil de simplesmente conceder as extensões, deixar a retomada do crescimento continuar (o que teria aumentado a habilidade de atender a dívida) e deixar os gregos disputarem entre eles se consertariam seu país e como o fariam (ou não)?

Em segundo, a parte construtiva nas últimas semanas tem sido a França. Depois de cinco anos fazendo o papel de coadjuvante da Alemanha, dançando conforme a música de Berlim, Paris redescobriu seu status como líder do projeto europeu, em igualdade de condições. Por toda sua dureza, a Alemanha não quer agir sozinha. A saúde do euro seria mais forte hoje se a França tivesse recuperado sua confiança antes.

Mas note-se o que aconteceu. Quando a Grexit foi contemplada em público nos mais altos níveis em Berlim, a cena estava sendo preparada para um retorno de ataques especulativos sobre a própria França — não amanhã, não no dia seguinte, mas certamente um dia. Essa, devemos lembrar, era a principal motivação francesa para a união monetária antes de mais nada. A Grexit teria eliminado a principal razão de ser para a moeda única conforme visto por Paris.

E por fim, a Grécia capitulou porque o Banco Central Europeu a forçou a fazer assim. Em flagrante desafio de sua obrigação, por tratado, de apoiar a política econômica geral da zona do euro — inclui desde junho de 2012 um requerimento para separar a saúde do sistema bancário da solvência de soberanos — o BCE forçou um fechamento do sistema bancário  e deixou claro que apenas o deixaria funcionar de novo uma vez que um acordo sobre finanças soberanas tenha sido firmado.

Isso estabeleceu além de qualquer dúvida que a independência do Banco Central da zona do euro de políticos não é nada do tipo. Longe de ser independente, o BCE faz licitações de governos. Mas sua dependência é seletiva — e isso é algo que deveria preocupar os cidadãos dos países da zona do euro além da Grécia".