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Medidas do governo chinês para conter quedas na bolsa podem refletir no Brasil

Sem dinheiro, nosso principal parceiro comercial pode diminuir importação de produtos

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Juros altos no passado e baixa liquidez estão provocando as quedas nas bolsas da China, que podem refletir na balança comercial brasileira. As empresas da segunda maior economia do mundo já passam por dificuldades com a fuga de capital e agora precisam recomprar ações para evitar quedas ainda maiores nas bolsas. Com isso, pode não sobrar dinheiro para continuar importando produtos brasileiros. 

A fuga de investidores da bolsa faz agora o governo tomar medidas mais drásticas que podem ter reflexos no Brasil, dizendo às companhias e executivos para comprar ações e evitar novas quedas. Além de já passarem por momentos de fraqueza, o desvio do dinheiro das empresas para a compra de ações pode diminuir a fonte de recursos que seria direcionada para o Brasil. E crescimento menor reflete em quedas na produção e consequentemente diminuição da compra de produtos básicos como commodities, dentre eles o minério de ferro. 

O professor de Finanças Públicas da Universidade de Brasília (UNB) Roberto Piscitelli, diz que o que acontece no país asiático pode ter efeitos no mundo todo e que as quedas nas bolsas se somam às expectativas de desaceleração do crescimento da economia chinesa. "O brasil hoje depende muito da China. Particularmente, preferiria não depender tanto da China e não tê-la como maior parceiro. O ideal é que tenhamos a maior diversificação possível em produtos e em clientes, mas isso nem sempre é possível, ainda mais em um momento de desaceleração comercial. Hoje a China espirra a gente fica resfriado". 

A segunda maior economia do mundo tem um sistema financeiro "frágil", segundo a diretoria do Instituto de Estudos Brasil-China, Anna Jaguaribe. Ela explica que os chineses deixaram para mexer no nesta área já com uma economia de mercado em pleno desenvolvimento e que por isso, apesar de ser grande, é pouco diversificado. 

O mesmo diz Roberto Simonard, professor de Economia da ESPM. Ele enxerga o sistema chinês como muito "jovem" e "inexperiente", o que também favorece o estado de pânico a que chegaram as bolsas de valores. "O Partido Comunista decidiu incentivar o povo a investir na bolsa para [promover] uma distribuição de renda e capitalizar as empresas. Quando os juros no país estavam baixos, as pessoas tomavam dinheiro emprestado para investir na bolsa", diz. 

Após o primeiro momento de euforia, o país sofreu uma pressão inflacionária e aumentou as taxas de juros, entre 2006 e 2009 e depois entre 2010 e 2012, o que prejudicou tanto pessoas quanto empresas. A liquidez no mercado diminuiu e o governo foi obrigado a injetar dinheiro na economia, abrindo espaço para a especulação financeira e gerando uma bolha. 

Para Simonard, as medidas já adotadas do outro lado do mundo não serão suficientes. O economista acredita que nos próximos dias o governo chinês continuará injetando dinheiro para aumentar a liquidez financeira. 

Reagindo às notícias, o dólar disparou mais de 1% frente ao real nesta quarta-feira (8), o que de certo modo poderia beneficiar as exportações brasileiras. Piscitelli acredita que não há risco de o dólar subir muito mais e que as altas observadas foram uma reação "irracional" do mercado, assim como aconteceu com as bolsas no mundo todo. "Houve um salto inicial, mas a tendência é que se tenha uma acomodação, igual a um elástico. Você puxa e solta, mas ele também não voltará ao nível inicial". 

Anna Jaguaribe e Roberto Simonard também pensam parecido. A diretora acredita que o pânicos nas bolsas chinesas não irá criar um contágio e que este é um fenômeno local, que será neutralizado pelo governo. Simonard credita as baixas à "inexperiência" dos investidores chineses. 

*Do programa de estágio do JB