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Referendo grego questiona políticas neoliberais e mostra que há outras vias para a crise

Economista enxerga possibilidade de recuperação sem que população se renda à lógica do capital

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O resultado do referendo grego realizado neste domingo (5) simboliza um questionamento ao processo neoliberal que domina a Europa, segundo Plínio Soares de Arruda Sampaio Júnior, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Coube ao povo grego tomar a decisão sobre os rumos da política econômica do país, que decidiu não se render à lógica do capital."

O economista passou recentemente um ano em Londres, entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015, estudando a situação pela qual passa o continente e o que viu foi uma Europa que reduziu o nível tradicional de vida dos trabalhadores e atacou políticas públicas. "Houve um aumento das forças de extrema-direita e uma revitalização das forças de esquerda" no continente. A situação grega abre um precedente para que "outras sociedades percebam que elas não precisam necessariamente se render à lógica do capital", diz Plínio. 

Países como Portugal, Espanha e Itália também sofrem com a crise e têm em pauta a questão da austeridade fiscal para acertar as contas, mas podem ver na Grécia uma possibilidade de outros tipos de organização econômica. Isto não significa, necessariamente, que esses países devam seguir o "calote" declarado pela Grécia, mas sim que há vias que não precisam passar pelo caminho de um sacrifício econômico da população, bem visto pelos movimentos de esquerda.

>> Banco Central europeu decide manter ajuda à Grécia 

"Sem dúvida o movimento grego vai fortalecer a esquerda que procura uma saída 'civilizada' para a crise", diz o professor. Mesmo assim, ele acredita que o referendo veio com oito anos de atraso. O país já passou por um longo período de austeridade e impacto econômico sob um "receituário ortodoxo". 

A resistência às políticas de austeridade exigidas pela entidades econômicas da zona do euro fez o Banco Central europeu decidir por manter ajuda à Grécia. De acordo com comunicado emitido pela instituição, a ajuda será mantida "nos níveis do dia 26 de junho", mas só pode ser fornecida com garantias suficientes. Os recursos da ELA são disponibilizados a bancos que com problemas de falta de dinheiro para mantê-los em funcionamento. No nível de 26 de junho, o crédito autorizado era de € 89 bilhões.