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Síntese da Conjuntura: Conjuntura econômica

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A Confederação Nacional do Comércio (CNC), em seu boletim “Síntese da Conjuntura”, elaborado pelo economista e ex-ministro da Fazenda, Ernane Galvêas, faz as análises do atual cenário econômico. Veja abaixo o boletim quinzenal:

O quadro abaixo é um retrato-síntese da atual situação de crise que atravessa a economia brasileira, com destaque para a queda dos investimentos, principal responsável pela retração da produção nacional. Atenção: a dívida pública aumentou R$ 286,2 bilhões, em cinco meses. 

BUROCRACIA

A cada dia, o Diário Oficial da União publica um retrato ampliado da burocracia nacional, espelhada na amplitude administrativa dos ministérios e das autarquias. No D.O.U. de 11 de junho, temos mais dois exemplares paquidérmicos dessa doença:

1- O Ministério do Trabalho e Emprego decidiu criar o Fórum Nacional de Aprendizagem Profissional, integrado por 53 membros (!). Uma calamidade inútil e cara.

2- O Ministério (Secretaria) de Direitos Humanos aprovou o Regimento Interno de seu Conselho Nacional com 22 membros (!) para tratar de seus 21 encargos. Outra calamidade inútil e cara.

ATIVIDADES ECONÔMICAS

O recente Relatório Trimestral do Banco Central tem um viés negativo, com previsão de queda de 1,1% do PIB, em 2015, e inflação (IPCA) caminhando para 9%. Conforme já divulgado anteriormente, a Divisão Econômica da CNC prevê queda de 2,0% do PIB, puxada pela retração de 7,5% dos investimentos e de 4,0% da indústria. Também a FGV/IBRE aumentou sua previsão de retração econômica de -1,5% para -1,8%, neste ano. O índice de confiança do consumidor (ICC), que havia subido 3,3% em abril, voltou a cair 0,6% em maio, e o índice de confiança empresarial (ICE) diminuiu 1,7% entre abril e maio. Segundo o SINDUSCONSP, a perspectiva de construção caiu 19,7% em maio, sobre maio/14, enquanto o SECOVI prevê queda entre 15% e 20% nas vendas em 2015, em relação a 2014.

O montante de dívidas atrasadas cresceu em todas as regiões brasileiras, segundo o SPC e o SERASA. A crise hídrica continua a ameaçar as atividades econômicas em São Paulo.

Indústria

Segundo a CNI, o desempenho da indústria, em maio, foi péssimo, em todos os sentidos: queda na produção, excesso de estoques, demissões e ociosidade. O índice de produção teve ligeira alta, de 39,7 em abril para 41,7 em maio.

A produção de veículos caiu 25,3% em maio, ante maio/14, recuou 3,4% em relação a abril e acumulou no ano baixa de 19,1%. Nos mesmos períodos, as vendas tiveram baixa de 27,5%, 3,0% e 20,9% (ANFAVEA).

Em meados de junho, a GM paralisou toda sua produção e colocou 6.200 empregados em férias coletivas. A indústria da construção civil deverá registrar queda de 8,6%, até o final do ano. A Petrobras está anunciando redução de 40% em seu programa de investimentos, o que poderá representar queda de 15% na demanda por máquinas.

Na região de Caruaru, em Pernambuco, a crise sem precedentes é resultado da seca e escassez de água. A seca perdura há 4 anos.

Comércio

A queda na renda e no crédito, com alta dos juros atingiram em cheio as vendas do comércio. Veículos (-19,55) e móveis e eletrodomésticos (-16%) tiveram os piores resultados. Casas Bahia e Ponto Frio já demitiram 3 mil funcionários. A CNC prevê queda de 1,1% em 2015.

As vendas do varejo caíram 0,4% em abril, pelo terceiro mês consecutivo. Em relação a abril/14 a retração é de 3,5%, acumulando no ano queda de 1,5%. É o pior resultado desde 2003. Os resultados foram negativos em 20 das 27 regiões pesquisadas, com destaque para Roraima (-2,6%), Amapá (-2,5%), Pará (-1,9%) e Bahia (-1,8%).

Em contrapartida, aumentaram as vendas de veículos e motos (+4,4%), supermercados (+1,9%) e artigos médicos e farmacêuticos (+0,3%) (IBGE).

Em abril, a receita de serviços cresceu 1,7% em relação a abril/14. A intenção de consumo das famílias caiu 4,8% em junho, segundo a CNC.

Agricultura

Segundo a ABIOVE, o destaque agrícola é a alta na produção de soja (93,7 milhões de tons.), 8,5% superior à safra anterior. O preço médio da tonelada exportada de soja vem caindo fortemente: de US$533 em 2013, US$509 em 2014 e US$370 em 2015. A receita das exportações é estimada em 22,6% inferior à do ano passado.

Segundo a AGROCONSULT, a produção de milho safrinha deverá totalizar 52,9 milhões de toneladas. O Plano de Safra da agricultura familiar prevê R$ 26 bilhões, no total de R$28,9 bilhões, 20% superior aos recursos da safra 2014/2015.

Mercado de Trabalho

Em maio, houve forte piora no mercado de trabalho, com elevação a 6,7% da taxa de desemprego, a maior taxa em 15 anos, frente a 4,9% em maio/14. A queda também se refletiu na renda real, que caiu 5% entre maio de 2014 e 2015.

Em maio, foram fechadas 115 mil vagas, o pior resultado desde 1992. Entre janeiro e maio foram fechados 243.948. O desemprego na  indústria cresceu 23% em uma ano.

Destaques do desemprego: construção civil -29.795, serviços -32.602 e comércio -19.351.

Casas Bahia e Ponto Frio fecharam 3 mil vagas. No setor siderúrgico, o Grupo Gerdau suspendeu o contrato de trabalho de 100 trabalhadores. Na Zona Franca de Manaus, 35 mil estão em férias coletivas (30% do total).

Setor Financeiro

A retração econômica e a inexplicável política de juros do Banco Central estão se refletindo na redução do crédito bancário, que deverá crescer apenas 9% em 2015, segundo o Banco Central. As cadernetas de poupança já perderam R$29 bilhões no 1º quadrimestre e estão criando sérias dificuldades para a Caixa Econômica.

Os financiamentos para aquisição de imóveis com recursos das cadernetas de  poupança caíram 51% em maio sobre abril e sobre maio/14. O BNDES informou que, entre janeiro e maio, seus desembolsos caíram 20%.

Até meados de junho, as emissões de LCA (agronegócio) e LCI (imobiliário) caíram 36%, principalmente face às novas regras baixadas pelo Governo.

O número de empresas com dívidas em atraso cresceu 8,3% em maio, sobre maio/14. A devolução de cheques sem fundos subiu a 2,29%. A dívida das famílias chegou a 46,3%, em abril, segundo o Banco Central.

Inflação

Segundo o Boletim FOCUS, divulgado pelo Banco Central, a inflação medida pelo IPCA caminha para 9% em 2015. Levantamento da FGV na 2ª semana de junho registrou uma elevação do IPC-S entre 0,46% em Belo Horizonte e 0,86% em Brasília.

Segundo a FIPE, a previsão da inflação em junho, na cidade de São Paulo, é de 0,54%, queda devida aos menores preços de alimentação. A alta de preços dos alimentos in natura caiu de 1,23% para 0,13% na 2ª quadrissemana de junho. A alta do preço do tomate caiu de 12,5% para um recuo de 0,13%.

Segundo o PROCON-SP, o preço médio da cesta básica paulista teve alta de 1,44% em maio, acumulando no ano +2,98%. O preço das passagens aéreas caiu 20% em maio.

O Conselho Monetário Nacional reduziu para 6% (era 6,5%) e teto superior da meta de inflação (!?)

Setor Público

Continua piorando a situação da administração pública, com a despesa engessada e a arrecadação em queda. Em maio, não registrou superávit primário, mas sim um déficit de R$6,9 bilhões, contra pagamento de R$52,9 bilhões de juros, do que resultou um déficit nominal de R$59,8 bilhões. De janeiro a maio: superávit primário de R$25,5 bilhões, juros de R$198,9 bilhões, déficit nominal de R$173,4 bilhões. É o pior resultado em 17 anos. Em consequência, a dívida pública bruta chegou a R$3.538,7 bilhões, em maio (62,5% PIB), um acréscimo de R$286,2 bilhões em 5 meses, a partir de 31/12/14.

O Governo lançou a 2ª etapa do PIL – Programa de Investimentos em Logística, no montante de R$198,4 bilhões, assim distribuído: Rodovias R$66,1 bilhões, Ferrovias R$86,4 bilhões, Portos R$37,4 bilhões e Aeroportos R$8,5 bilhões. Entre as ferrovias, está o projeto Bio-Atlântico, de R$40 bilhões, a ser financiado e executado pela China.

Causa espécie a reintrodução da “cobrança de outorga” nas concessões de áreas privativas nos portos organizados. Um retrocesso e um grande imbróglio jurídico. Nos primeiros cinco meses de 2015, os investimentos da União (sem as estatais) caíram 38,3% (!?).

As exportações da indústria química caíram 8,9% no acumulado de janeiro a maio (ABIQUIM). Fato positivo: os japoneses estão em negociações para assumir as quatro sondas de perfuração de petróleo da SETE BRASIL.

Setor Externo

A despeito de sua pouca importância econômica, o debate com a Grécia continua tendo forte repercussão no cenário internacional, principalmente nas Bolsas de Valores.

A balança comercial brasileira melhorou no preço até a 3ª semana de junho: exportações US$ 13,63 bilhões, importações US$10,4 bilhões. Em contrapartida, reduziu o ingresso de capitais, em maio, a US$3,1 bilhões, menos da metade de abril, com US$ 6,6 bilhões. De janeiro a maio, os investimentos estrangeiros diretos caíram 35%, em relação ao mesmo período de 2014. Nos últimos cinco meses, os gastos dos brasileiros no exterior tiveram o menor valor em 5 anos. A EMBRAER anunciou a exportação de 100 aviões, no valor de US$2,6 bilhões.

O Governo lançou o esperado Plano Nacional de Exportações, com prioridade para os mercados dos Estados Unidos, China, União Europeia e membros da Aliança do Pacífico (Chile, México, Colômbia e Peru). 

Na área internacional, continua estável a situação dos Estados Unidos, com manutenção das taxas de juros básicos do FED entre 0,0% e 0,25%. Há indícios de que um impasse político no Congresso poderá resultar no fechamento do Eximbank.

Na Europa, aguarda-se o resultado do referendum na Grécia, para saber se o País continuará no Mercado Comum Europeu.

Na Ásia, o destaque é a forte queda nas Bolsas de Xangai, Hong Kong e Japão, nos últimos três dias.