ASSINE
search button

Brasil precisa integrar-se a nova revolução industrial, diz ex-ministro

Planejamento de longo prazo com enfoque em educação e inovação são essenciais

Compartilhar

O país precisa se integrar à Nova Revolução Industrial, para aproveitar oportunidades econômicas, sociais e culturais, apontou o ex-ministro e presidente do Fórum Nacional, João Paulo dos Reis Velloso, na abertura da 27ª edição do evento, que teve o vice-presidente do BNDES, Wagner Bittencourt, entre os participantes. Para o ex-ministro, o Brasil deve agora buscar uma "educação permanente" e abrigar empresas mais competitivas e inovadoras, para conquistar o autocrescimento e ser capaz, por exemplo, de produzir máquinas inteligentes, seguindo o caminho apontado pela Nova Revolução Industrial, que tem o avanço tecnológico mais rápido, a digitalização sem fronteiras e novas frentes de inovação como forças básicas.

Velloso chamou atenção ainda para o ajuste fiscal do país, sugerindo que o esforço deve ser principalmente do lado da contenção de despesas públicas, e não do aumento de impostos. "O Brasil já tem altíssima carga de impostos, maior do que dos Estados Unidos."

Para Wagner Bittencourt, vice-presidente do BNDES, o ajuste fiscal deve garantir uma retomada do crescimento sustentável do país. O investimento em inovação, contudo, é essencial. "Se queremos crescer e queremos ser competitivos precisamos ser inovadores, e o banco tem procurado trabalhar de uma forma bastante acentuada e aumentar o apoio à formalização do desenvolvimento em inovação", destacou, informando que dos R$ 478 milhões liberados em 2007 pelo BNDES para investimento em inovação, o montante pulou para R$ 6 bilhões no ano passado.

Bittencourt salientou a queda significativa da dívida pública líquida em relação ao PIB, que leva o país a uma situação mais equilibrada, a solidez das reservas internacionais, em torno de R$ 373 bilhões, "o que permite uma certa tranquilidade", e o progresso social e econômico ao longo dos últimos anos. As transferências sociais em relação ao PIB, por exemplo, tiveram um crescimento de 50% de 2002 até agora, apontou.

De acordo com pesquisa do BNDES, a perspectiva de investimento em infraestrutura no país nos próximos quatro anos, de 2015 a 2018, é de um crescimento de R$ 597 bilhões, 30% a mais que no quadriênio anterior, o que deve aumentar a competitividade da economia e aumentar a produtividade do país. Em relação à mobilidade urbana, todavia, o investimento ainda precisa aumentar e muito, destacou Bittencourt. 

"O banco continuará sendo um instrumento importante, como tem sido. A gente olha que o desembolso do banco com a formação bruta de capital fixo é uma formação relativamente estável, do ponto de vista da relação entre o desembolso e a formação bruta de capital fixo. Isso deve continuar acontecendo. Nós esperamos que o banco continue a ser um fornecedor de fundos importante para o desenvolvimento do país, mas obviamente que queremos estimular novos investidores", completou Bittencourt.

O novo presidente do Banco do Nordeste, Marcos Holanda, chamou a atenção para o avanço significativo da região nos últimos anos, em muitos momentos em ritmo mais avançado que o próprio país. Ainda é, no entanto, "uma região muito pobre e desigual, de forma que ainda precisa e muito de desenvolvimento", completou.

Marcos Holanda destacou ainda a distinção cada vez menor entre as pequenas e grandes regiões, em questão de economia, entre cidade e área rural, chamando a atenção para a urgência da estratégia e do planejamento. "O pequeno não pode ser sinônimo de atraso, falta de produtividade. Tem que investir na ideia que governança mínima, que tem que estar presente tanto no publico quanto no privado."

Brics e exemplo Asiático: educação e inovação

Mudanças estruturais são, sim, possíveis, salientou Gilmar Masiero, professor da FEA-USP. Ele defende mais planejamento em educação, a exemplo do que fizeram países asiáticos, como a Coreia do Sul, além da promoção de exportações e políticas competitivas. Para ele, inclusive, a presença do Brasil na aliança do Brics, considerando a ligação com a China, é um elemento importante para se beneficiar de um intercâmbio de experiências. "Cada vez mais os asiáticos estão presentes no cenário internacional e cada vez mais devemos estar com eles."

Questionado pelo JB sobre o potencial do Brics para estimular o desenvolvimento do Brasil, Masiero destacou que com a última Cúpula dos países, no ano passado, em Fortaleza, houve uma consolidação grande do grupo, principalmente pela institucionalização do Novo Banco de Desenvolvimento e o Fundo de Reservas, o que promete melhorias significativas. 

"É um primeiro passo, e significativo, de mudança na estrutura de governança mundial. Obviamente, um banco não governa, mas tem dinheiro para influenciar a governança. Logo, por menor que seja o dinheiro que o banco vai ter para administrar uma enorme demanda desses países, que não são desenvolvidos, é muito significativo esse primeiro passo. Dado o primeiro passo, a gente aprende a caminhar, e eu acho, sim, que para o Brasil é muito importante manter a sua participação, mais ativa do que tem sido, nesse grupo, porque é o único link que nós temos com os países asiáticos", declarou o professor.

De acordo com Masiero, a educação foi a chave que alavancou o desenvolvimento sul-coreano, além do planejamento orquestrado entre público e privado, o que "é possível em qualquer outro país, inclusive no Brasil". "Todo o desenvolvimento sul-coreano levou 50 anos, o mesmo desenvolvimento e mais rápido, de forma mais intensiva, está acontecendo com os chineses. (...) É, sim, possível você dinamizar a economia de uma forma mais intensiva, mais rápida, desde que você saiba o que você quer."